Trivela
·20 de novembro de 2022
A seleção eslovaca se despediu de sua maior lenda: Hamsik, o craque que botou o país nos mapas da Copa e da Euro
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·20 de novembro de 2022
No dia em que o mundo voltava seus olhos para a abertura da Copa do Mundo, bem longe dali uma seleção se despedia de seu maior símbolo. Do cara que, afinal, liderou a única participação do país na história dos Mundiais. Marek Hamsik é uma bandeira para a Eslováquia. Os jogadores eslovacos tiveram um papel importante em sucessos da Tchecoslováquia, especialmente na conquista da Euro 1976, mas a história moderna do país está diretamente atrelada ao meio-campista de moicano e enorme qualidade. Hamsik é o recordista em jogos da Eslováquia e também o maior artilheiro da equipe nacional. Era um jovem em ascensão na Copa de 2010, mas já com a braçadeira de capitão, antes de protagonizar a nação nas Eurocopas de 2016 e de 2020. Aos 35 anos, longe do principal palco do domingo, o veterano ofereceu seu emocionado adeus.
Hamsik tem uma baita carreira por clubes. Formado pelo Slovan Bratislava, o meio-campista chegou à Itália através do Brescia, quando tinha apenas 17 anos. Três temporadas depois, transferiu-se ao Napoli em 2007 e vestiu a camisa celeste por 12 anos. Não é nenhum exagero colocar o eslovaco como um dos maiores ídolos napolitanos do século, pelas marcas que atingiu e pelo bolão que jogou. Entretanto, sua aura se tornou maior ao futebol graças à seleção da Eslováquia. Era o dono do time – em liderança um pouco mais compartilhada com Martin Skrtel e Robert Vittek no passado, bem como com Milan Skriniar e Stanislav Lobotka mais recentemente. Ainda assim, qualquer menção às pretensões eslovacas passava necessariamente pelo camisa 17.
Nome certo nas seleções de base desde a adolescência, Hamsik ascendeu ao time principal em 2007, quando despontava no Brescia. Virou logo uma figura constante, mesmo que mal chegasse aos 20 anos. E se tornou imprescindível, como um dos melhores jogadores da equipe nacional. Seu primeiro sucesso não demorou a acontecer, nas Eliminatórias para a Copa de 2010. Titular absoluto, Hamsik anotou dois gols na campanha, ambos cruciais: carimbou a vitória por 2 a 1 sobre a Irlanda do Norte na estreia e, já no segundo turno, no confronto direto com a irmã República Tcheca em Bratislava, assinalou o segundo no empate por 2 a 2. Após uma derrota em casa para a Eslovênia, a classificação seria carimbada apenas na última rodada, num duelo sob neve contra a Polônia em Chorzów. Um cruzamento de Hamsik permitiu o gol contra que resultou no cabal triunfo por 1 a 0. O tento que valeu uma inédita presença na Copa.
A Copa do Mundo de 2010 é o grande momento da seleção da Eslováquia. Não só pela mera presença na África do Sul, mas também pela caminhada até as oitavas de final, com direito à eliminação da Itália. Capitão, Hamsik esteve em campo em todos os compromissos. E que os italianos tenham o acolhido tão bem, ele ajudou a demolir os tetracampeões mundiais na terceira rodada. Vittek foi o carrasco com dois gols, o segundo garantido por um inteligente passe do camisa 17. A Holanda se deu melhor nas oitavas, mas a campanha dos eslovacos saiu acima das expectativas.
Não deu para a Eslováquia retornar à Copa do Mundo. Entretanto, esteve na Eurocopa em duas oportunidades. Hamsik permanecia em alta no Napoli, então vice-campeão italiano, quando auxiliou na classificação para a Euro 2016. A primeira vitória dos eslovacos na história do torneio também veio na sua conta, num 2 a 1 sobre a Rússia. Primeiro, descolou um lançamento cirúrgico para Vladimir Weiss abrir o placar. Depois, soltou uma bomba que morreu na gaveta e se sacramentou como golaço. A equipe de novo alcançou as oitavas, mas parou por ali, superada pela Alemanha. Não deixava de ser um papel digno.
Já a volta de Hamsik a um grande torneio aconteceu na Euro 2020. O meio-campista tinha se despedido como lenda do Napoli, com 520 jogos e 121 gols. Não era mais o incansável meio-campista de outrora e, depois de duas temporadas na China, até assinou com o Göteborg para recuperar um pouco de sua forma na Suécia, às vésperas da competição continental. Dono da braçadeira de capitão novamente, após cedê-la a Skrtel em anos anteriores, o meia foi titular nas três partidas. E, sem a vaga nos mata-matas dessa vez, não deixou de contribuir pelo menos a uma vitória dos eslovacos. Os 2 a 1 sobre a Polônia saíram depois de uma bola desviada de cabeça pelo capitão, para Skriniar mandar às redes.
Ao longo de 2021, Hamsik participou da campanha frustrada nas Eliminatórias para a Copa de 2022. Porém, o meia também se lesionou e não constou mais nas convocações desde novembro do último ano. Contratado pelo Trabzonspor, paralelamente o medalhão ampliou sua lista de feitos como uma referência nos vestiários do campeão turco de 2021/22, que reconquistava a taça depois de 38 anos de jejum. Já neste domingo, chegou a hora do adeus da seleção. O empate por 0 a 0 com o Chile em Bratislava era o de menos, quando as arquibancadas se encheram mesmo para se despedir do maior nome da história da equipe nacional.
Titular no meio-campo pela última vez, Hamsik deixou o campo somente aos 44 do segundo tempo. Saiu sob aplausos do público e lágrimas impossíveis de se controlar em sua face. A história da seleção eslovaca passa necessariamente pelo camisa 17. O carinho demonstrado pelos companheiros, que deram um abraço coletivo à beira do campo, representa melhor do que qualquer palavra a grandeza do veterano para o país.
Hamsik se despede da seleção com 135 partidas e com 26 gols. Os números frios, mesmo grandiosos, ainda assim não se tornam suficientes para falar sobre a sua preponderância. É só pensar que os maiores momentos da Eslováquia necessariamente tinham o camisa 17 como seu craque. E o nome do país também se elevou um pouco mais pela contribuição do meio-campista no Napoli. Com 15 de seus 35 anos de vida dedicados à equipe nacional, Hamsik é um orgulho para todos os compatriotas. Metade do tempo da Eslováquia como uma nação independente, afinal, está atrelado ao capitão como uma de suas maiores personalidades.
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