Calciopédia
·18 de maio de 2020
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Porte físico adequado, bom poder de finalização, capacidade de dar profundidade à equipe: Alessandro Matri tinha todas as características para ser um centroavante requisitado. E foi. Dentro dos campos ele pode até não ter obtido tantas felicidades quanto em sua agitada vida amorosa, na qual se relacionou com muitas modelos e apresentadoras, como sua atual esposa, Federica Nargi. Contudo, o jogador vestiu camisas de grandes clubes – como Milan, Juventus, Fiorentina e Lazio –, passou pela seleção e foi ídolo do Cagliari. Uma carreira bastante respeitável, sem dúvidas, mas que teve potencial de ir além.
A trajetória de Matri no futebol, porém, ficou perto de nem existir. Alessandro nasceu numa família de ciclistas da província de Lodi, na Lombardia, e chegou a ser um bom competidor mirim no esporte. Ainda criança, orgulhou seu tio e seu irmão mais velho – que tiveram carreira no ciclismo – ao ganhar medalhas pelo Pedale Graffignanino, time dirigido por seu pai, Luigi. Contudo, uma queda violenta fez com que ele, em acordo com seus progenitores, passasse a se dedicar integralmente ao futebol. Com 11 anos, depois de atuar pelo pequeno Fanfulla, Matri já estava nas categorias de base do Milan.
Todo o percurso formativo do atacante se deu em Milanello, centro de treinamentos do Diavolo. Em 2002-03, com apenas 18 anos, Matri chegou a ser agregado ao time profissional dos rossoneri e até estreou na Serie A, numa derrota contra o Piacenza, em maio de 2003. No mesmo ano, o atacante pode celebrar os títulos da Champions League e da Supercopa Uefa, mesmo que não tenha entrado em campo nas competições.
Depois de passar 2003-04 inteiro no time Primavera do Milan, Matri foi emprestado por três temporadas consecutivas. Nas duas primeiras, em Prato e Lumezzane, amargou rebaixamentos para a quarta divisão. Contudo, o bom desempenho pelo Lume, com 14 gols em 35 jogos, lhe garantiu uma transferência ao Rimini, que disputava a Serie B.
No clube romanholo, o atacante não repetiu o desempenho anterior, mas contribuiu um pouco para a melhor campanha da história biancorossa: quinto lugar na segundona. Mais do que isso, o lombardo utilizou pela primeira vez, em homenagem ao amigo Cristian Brocchi, a camisa de número 32, que o acompanharia pelo restante da carreira. Também deu início a uma parceria com o brasileiro Jeda, que seria ampliada no Cagliari. O time sardo, inclusive, seria o destino de Alessandro.
Matri explodiu na Sardenha, mas esse furor não foi imediato. O atacante estreou pelo novo clube marcando um gol na vitória por 2 a 0 sobre o Napoli no San Paolo, mas não foi titular indiscutível nem na primeira nem na segunda temporada na Sardenha. Em 2007-08, o lombardo foi o jogador mais utilizado no setor, mas teve de revezar com Joaquín Larrivey, Jeda e Robert Acquafresca. Na época seguinte, contudo, virou reserva dos dois últimos citados. No total, acumulou 14 gols no período.
A campanha de 2009-10 começou do mesmo jeito para Matri, que era visto como opção de banco para Massimiliano Allegri. No entanto, após a saída de Acquafresca para a Atalanta, o atacante conseguiu ganhar a posição no onze inicial do Cagliari e o apelido que lhe acompanharia pelo restante da carreira: Mitra, palavra italiana que designa submetralhadoras e é um anagrama de seu sobrenome.
Calibrado e letal, Mitra Matri chegou a marcar em sete partidas consecutivas e igualou recorde estabelecido por Luigi Riva, maior jogador da história do Cagliari e ídolo máximo dos sardos. O atacante contou com grande suporte de Radja Nainggolan, Andrea Cossu, Daniele Conti, Nenê e do amigo Andrea Lazzari para terminar a temporada com 13 gols anotados. Pela terceira vez, o lombardo ajudou o time rossoblù a permanecer na elite italiana.
A quarta temporada de Alessandro Matri na Sardenha foi ainda mais arrasadora. O prenúncio do que estava por vir se deu logo na primeira rodada do campeonato, quando os casteddu humilharam a Roma com um sonoro 5 a 1 e Mitra deixou uma doppietta. Ele repetiu a dose em mais três jogos, com dobradinhas na derrota para a Juventus e em triunfos sobre Lecce e Bari. No último dia da janela de transferências de inverno, ele contava com 11 gols na Serie A e era o sexto principal goleador do campeonato. Foi aí que a Juventus o levou para Turim, numa operação que totalizou 18 milhões de euros.
Mitra Matri estreou contra o Palermo, no dia 2 de fevereiro de 2011, e logo na jornada seguinte voltava à Sardenha, dessa vez como adversário. E carrasco: marcou mais duas vezes contra o seu antigo time, na vitória por 3 a 1. Depois, garantiu mais um tento importante, que permitiu à Juventus bater a Inter no Derby d’Italia. Alessandro foi um dos pontos positivos de uma temporada muito ruim da Velha Senhora, que foi apenas sétima colocada. Mesmo contratado no meio do campeonato, se sagrou como artilheiro bianconero na competição, com nove gols… e também como máximo goleador do Cagliari, com 11. Os 20 tentos lhe deixaram em quarto na artilharia da Serie A.
Em grande fase, Matri, então com 26 anos, recebeu suas primeiras chances na seleção italiana graças a Cesare Prandelli. Na estreia, num amistoso contra a Ucrânia, pimba: entrou no segundo tempo e colocou a bola na casinha, fechando o triunfo por 2 a 0.
Mitra se manteve no radar do técnico para a Euro 2012 porque era o principal atacante na Juve de Antonio Conte. O time se baseava na coletividade e o treinador fazia rodízio no ataque, mas o lombardo concluiu a campanha do scudetto bianconero como artilheiro da equipe, com 10 gols – um a mais que Mirko Vucinic e Claudio Marchisio. Ainda assim, por conta de uma queda de rendimento na parte final da Serie A, ele não integrou o grupo italiano que foi vice-campeão europeu.
A desaceleração se deu por mais tempo do que Matri desejava ou sequer imaginava: cerca de dois anos. Nesse período, o atacante não conseguiu dar o salto que lhe permitiria entrar no rol dos atacantes incontestáveis do país e foi mero coadjuvante na conquista de mais um scudetto e de suas Supercopas da Itália pela Juventus. No fim da janela do verão europeu de 2013, então, o lombardo voltou para sua casa: o Milan.
Os 11 milhões de euros gastos pelo rossonero se provaram um péssimo investimento. Pouquíssimo inspirado em seu retorno a San Siro, Matri anotou apenas um gol em 18 jogos e acabou emprestado à Fiorentina em janeiro de 2014. Pela Viola, o camisa 32 melhorou sua performance (marcou cinco vezes em 21 partidas), mas não convenceu o time toscano a contratá-lo em definitivo. No horizonte do bomber surgia um novo empréstimo, dessa vez para o Genoa.
No Marassi, o verdadeiro Mitra Matri voltou a castigar os rivais. Os rossoblù eram treinados por Gian Piero Gasperini e tinham um futebol coordenado, com ataque insinuante. Ao lado de jogadores como Juraj Kucka, Diego Perotti, Iago Falque, Mauricio Pinilla, Edenílson e Tomás Rincón, o centroavante marcou sete gols em 17 jogos, foi chamado de volta para a Nazionale (já comandada por Conte) e, no início de fevereiro de 2015, foi recontratado pela Juventus.
A contribuição de Alessandro Matri foi importante para que o Genoa terminasse aquela Serie A na sexta colocação. Ao mesmo tempo, a transferência a Turim ainda lhe possibilitaria adicionar mais títulos para o currículo: o terceiro scudetto e a primeira Coppa Italia. Na campanha da copa, Mitra marcou um gol nas semifinais contra a Fiorentina, mas isso foi um oásis em meio a meses desérticos. Em linhas gerais, na sua segunda passagem pela Juve, o atacante não teve tanto espaço nem soube aproveitar as poucas oportunidades que teve. Resultado: voltou ao Milan, em fim de empréstimo, e logo foi cedido à Lazio.
Na capital, o atacante lombardo vestiu mais uma pesada camisa italiana. E, novamente, não deixou saudades. Matri chegou como reserva de um Miroslav Klose em última temporada como profissional, mas não conseguiu se impor frente ao veterano alemão. Na Serie A, Mitra iniciou apenas sete das 19 partidas que realizou e acabou sendo usado mais como peça de rodízio na Liga Europa. Terminou um ano de altos e baixos da Lazio com sete tentos em 31 jogos e apenas como quarto melhor artilheiro do time.
Caminhando para a fase final da carreira, Matri acertou com o Sassuolo no verão de 2016: foi um dos principais reforços para a inédita participação neroverde na Liga Europa. No clube emiliano, nunca chegou a ser titular absoluto, mas teve uma passagem digna, na qual anotou seus golzinhos, ofereceu experiência a um elenco recheado de jovens e ainda serviu para que os treinadores girassem o elenco.
Mitra contribuiu para que o Sassuolo permanecesse na elite em três oportunidades, mas sempre como coadjuvante. Para se ter uma ideia, sua melhor temporada no Mapei Stadium foi a primeira, na qual marcou apenas oito gols – números que o deixaram atrás de Grégoire Defrel, Matteo Politano, Domenico Berardi e Lorenzo Pellegrini na artilharia da equipe. Longe de ser um grande destaque na Emília-Romanha, aos 35 anos Matri descolou uma volta para perto de casa em 2019. No fim da janela de transferências, ele acertou com o Brescia, da Lombardia.
A expectativa de Matri era de reconquistar o protagonismo, ainda que num time recém-promovido da Serie B e com ambições mais modestas. Passou longe disso. O centroavante entrou em campo apenas oito vezes, não marcou gols e, durante a suspensão do Campeonato Italiano em virtude da pandemia de covid-19, resolveu rescindir com os biancoazzurri e se aposentar, depois de 509 partidas e 128 gols como profissional. Hoje, consciente de que sua carreira poderia ter sido ainda mais brilhante, Alessandro inicia a vida de ex-jogador ao lado da esposa Federica e das filhas Sofia e Beatrice.
Alessandro Matri Nascimento: 19 de agosto de 1984, em Sant’Angelo Lodigiano, Itália Posição: atacante Clubes em que atuou: Milan (2002-04 e 2013-14), Prato (2004-05), Lumezzane (2005-06), Rimini (2006-07), Cagliari (2007-11), Juventus (2011-13 e 2015), Fiorentina (2014), Genoa (2014-15), Lazio (2015-16), Sassuolo (2016-19) e Brescia (2019-20) Títulos: Liga dos Campeões (2003), Supercopa Uefa (2003), Serie A (2012, 2013 e 2015), Supercopa Italiana (2012 e 2013) e Coppa Italia (2015) Seleção italiana: 7 jogos e 1 gol