Trivela
·11 de novembro de 2020
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·11 de novembro de 2020
O Equador viveu mudanças no seu comando nos últimos meses. Jordi Cruyff foi anunciado em janeiro, em um projeto de ampla transformação. Veio a pandemia, em março, e o treinador acabou deixando o cargo em julho sem sequer ter feito um treino. Gustavo Alfaro foi anunciado em setembro, depois de ter deixado o Boca Juniors. Aos 58 anos, o treinador deixou o clube argentino em dezembro. Assumiu o comando da seleção equatoriana para tentar levar o país de volta à Copa do Mundo. Depois de participar da Copa 2014, a seleção tricolor ficou fora da Copa 2018.
Como jogador, Gustavo Alfaro teve uma carreira curta, de 1988 a 1992. Jogou pelo time da sua cidade, Atlético Rafaela. O meio-campista ficou poucos anos na profissão de jogador e tinha planos de voltar aos estudos, mas acabou ficando mesmo no futebol, só mudando de cargo: virou técnico. Foi no Atlético Rafaela que ele trabalhou de 1992 a 1995.
Perguntado sobre o quanto do jogador Alfaro tem no seu trabalho na seleção do Equador, ele diz que tem muito. “Para começar, há valores, que você não pode abrir mão. Depois, a determinação para nunca se acomodar e saber que você sempre pode ir adiante. Algo que eu digo à minha filha e meus jogadores é que está tudo bem ter sonhos, mas não fique sentado esperando por eles que aconteçam, saia e pegue-os. Eu tenho que tomar algumas decisões difíceis, mas eu era, e sou, sortudo que tenha funcionado”, afirmou o treinador.
“Eu tenho 58 anos e, certo ou errado, eu tive que lutar pelas coisas. As coisas não simplesmente acontecem da noite para o dia. Aos 34 anos, eu estava treinando na segunda divisão e estava convencido que a primeira divisão me acenaria, mas um ano depois eu estava na terceira divisão. Às vezes a realidade bate à sua porta e te coloca no lugar”.
“Receber a proposta para treinar uma seleção é a culminação de um longo processo, mas eu sei que estou aqui pelo meu tempo no Boca Juniors. Mais de uma vez, eu quis este tipo de trabalho, mas, como eu não atendia a certos critérios, as pessoas duvidavam que eu tinha o perfil certo para assumir uma seleção. O Boca não é um trabalho fácil, coloca demandas diárias em você e em tudo que é direcionado a você. Esse tipo de experiência o coloca em outra categoria, que obviamente não é para diminuir tudo o que veio antes, o que eu valorizo muito.
Perguntado sobre o que o empolga em relação à seleção do Equador para aceitar o trabalho, ele indicou que as possibilidades. “O potencial. Eu assisti o desenvolvimento de jovens jogadores nas categorias de base, e eles são uma safra muito boa. Há um grupo de jogadores interessantes ao redor dos 23 anos, mas não há muitos entre eles e jogadores como [Christian] Noboa, [Alexander] Dominguez e [Antonio] Valencia”, avaliou.
“No processo de reconstrução, se eu puder dar ao time a marca do futebol argentino, sem perder a essência do que é um jogador equatoriano, então a seleção nacional pode voltar onde estava há seis anos, e também pense em um projeto de desenvolvimento de 10 anos”, disse Alfaro.
Alfaro assumiu o comando do Equador no começo de setembro, pouco tempo antes de fazer a sua primeira convocação para os jogos de outubro, na estreia das Eliminatórias da Copa. Um desafio que o treinador, ex-Boca Juniors, tenta encarar da melhor forma.
“Equilibrar a falta de tempo disponível coma necessidade de resultados enquanto moldamos um time e a identidade do grupo. Foi quase o caso de me apresentar aos jogadores assim que eu os mandava a campo, esperando por uma boa primeira impressão e estabelecer rapidamente um relacionamento. Eles responderam de forma soberba e facilitaram as coisas para mim. Senti que eles acreditaram em mim e tentaram assimilar os conselhos que demos”.
Nas duas primeiras rodadas, o Equador de Alfaro estreou contra a Argentina, e perdeu por 1 a 0, com um gol de pênalti de Lionel Messi. No segundo jogo, venceu de forma até tranquila o Uruguai por 4 a 3. “No total, foi positivo, porque nós enfrentamos dois dos melhores times da América do Sul. Nós jogamos bem, especialmente contra o Uruguai. Nós criamos alguma expectativa agora e nós temos que entregar, sem acreditar em nenhum exagero. O Equador venceu seus quatro primeiros jogos na última edição, mas não se classificou para a Rússia. Qualquer um que não conheça a própria história está fadada a repeti-la. Nosso trabalho está apenas começando, então todos temos essa vantagem”.
“Senti um desempenho diferente no segundo tempo contra a Argentina. Eu disse aos jogadores para esquecerem que estavam enfrentando a Argentina e seus grandes nomes, já que isso só tornaria mais difícil de competir. Eles precisam deixar de lado qualquer coisa pré-concebida, é uma questão de atitude”.
“Antes do jogo contra o Uruguai, disse que estava cansado de ouvir que o verdadeiro adversário no Equador é a altitude. Eu disse a eles: ‘Vamos mostrar a eles que seus adversários são os que estão vestindo as camisas e construído pelo futebol, não pela geografia’. Depois disso, vi uma equipe mais livre e generosa. Para mim, há três coisas que o Equador precisa para diminuir a diferença nas seleções mais altas”, contou o treinador.
“O primeiro aspecto é agressão, em um bom sentido. Por causa do seu biotipo, eles são fortes, rápidos, dinâmico e técnico, mas agora como você contesta uma bola às vezes dita quem vai ganhar o jogo. Isso também influencia o lado tático das coisas. Eles não deveriam ter medo de defender alto no campo, longe do gol. Com essa velocidade, eles podem reagrupar rapidamente”.
“A segunda é concentração. Meu objetivo é que os jogadores sejam capazes de perceber as situações ou espaços ou tomar vantagem a qualquer tempo, porque detalhes como esse podem fazer a diferença nesse nível. Contra o Uruguai, nós concedemos dois pênaltis desnecessários, por causa dos lapsos de concentração”.
“Em terceiro, disciplina tática, e entender por que nós fazemos tudo. Talento é um pré-requisito, mas não é suficiente em si mesmo. Todos os três fatores podem fazer o time que queremos ser”.
O Equador irá enfrentar Bolívia e Equador nesta data Fifa e o treinador está pensando nos adversários. “Como um todo, estamos pensando sobre como nós gostaríamos de começar e terminar o jogo na Bolívia, e como fazer do mesmo jeito contra a Colômbia. Para a Bolívia, não vencer iria diminuir o progresso que eles fizeram, então nós esperamos que eles compitam como se fosse uma final. Por essa razão, nós precisamos estar mentalmente preparados”.
“Depois disso, a Colômbia será muito intenso, já que eles têm um estilo identificável além de mudanças súbitas feitas entre as eras de [José] Pekerman e [Carlos] Queiroz. Além disso, eles sabem o que é vencer em Quito, então nós temos que ser inteligentes e garantir que o jogo é disputado nas áreas que queremos que sejam”.
“Neste momento, o Equador é mais um punhado de boas intenções do que um time. “Como eu disse antes, o desafio é converter esperança em realidade. Eu não quero dirigir um time, mas sim vencer. Por exemplo, quem diz que não podemos ganhar a próxima Copa América? Com meus pés firmes no chão, eu tenho que admitir que será uma decepção se não estivermos na próxima Copa do Mundo, então irei colocar meu coração e alma para levar o Equador ao Catar”.