Ao ENM, Márcio Máximo conta detalhes da carreira, estilo de jogo e também sobre período que trabalhou com Ronaldo Fenômeno | OneFootball

O Esporte News Mundo traz com exclusividade uma entrevista com o treinador brasileiro Márcio Máximo, que atualmente comanda a seleção da Guiana. A equipe conquistou três pontos nas primeiras duas rodadas das eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar em 2022. A Guiana joga o torneio pela Concacaf e está no grupo F, atrás de São Cristóvão e Nevis, que é o líder com seis pontos conquistados.

ENM: Primeiramente é um prazer poder conversar com você. E para iniciar as perguntas gostaríamos de saber como atuam as equipes de Márcio Máximo?

Márcio Máximo: Assim como todos os treinadores tentamos manter uma equipe ideal, competitiva, compacta. Particularmente acredito que o time precisa ser equilibrado, não sou adepto da posse de bola ou modo reativo, isso depende do cenário que o técnico está envolvido e dos jogadores que tem disponível no time. Não gosto desse termo jogar por uma bola, isso é muito pouco. Sempre comparo a uma luta de boxe que os adversários ficam trocando golpes e caso não seja assim, chega um momento que algum oponente vai a nocaute.

ENM: Aqui no Esporte News Mundo também conversamos recentemente com o Leonardo Neiva, que comanda a Seleção de São Cristóvão e Névis e atualmente lidera o grupo F das eliminatórias da Concacaf. Gostaria que falasse sobre a competição, as dificuldades e as duas partidas realizadas até o momento?

Márcio Máximo: Na Concacaf aproximadamente uns 20 anos para os dias atuais era uma disparidade enorme em relação ao México, Estados Unidos e Costa Rica, países com um Futebol mais desenvolvido e estrutura melhor que as outras seleções. Então eles começaram a estimular o Futebol na região e a vinda de treinadores de outros nacionalidades ajudou nisso. Os brasileiros levam isso em todos os ambientes que trabalham, isso de ajudar no Futebol e desenvolver os atletas da região que estão.

ENM: Você já teve a oportunidade de trabalhar em quatro continentes diferentes. Relate suas experiencias. Na Tanzânia levou a seleção a primeira Copa das Nações em 2019, enquanto pela Guiana conseguiu classificação para a Copa Ouro em 2020.

Márcio Máximo: Sim, respeitando as características de todos, porém mantendo os princípios. Inclusive fizemos a renovação da seleção da Tanzânia, tínhamos apenas dois jogadores que atuavam no exterior e quando terminou o ciclo, fizemos outros com 14 atletas, um deles a gente lançou do sub-17 e ele chegou a jogar pelo Aston Villa da Inglaterra, hoje está no Fenerbahce da Turquia. Aqui temos que fomentar os jogadores locais, mas na Tanzânia era o inverso e precisávamos colocar eles em outros mercados de atuação e fizemos através dos resultados conquistados no campo. A maioria antes de ir a Europa passou pelo Mazembe que teve um papel essencial na visibilidade deles.

ENM: Você tem como preferência o jogo posicional. Aqui no Brasil o debate sobre esse estilo de atuação cresceu bastante principalmente após a passagem de Domenec Torrent pelo Flamengo. E é notório a dificuldade de repassar as informações sobre esse método. Poderia falar sobre o seu estilo é caso e por que temos a dificuldade de compreender? Principalmente quando dizem que o jogador fica estático no esquema, o que é uma mentira, concorda?

Márcio Máximo: : Essa é uma grande dúvida para as pessoas que não conhecem o jogo posicional que é apenas a oportunidade de chance numérica em cada parte do campo, não tem nada estático. Quando você está arrumado para iniciar o jogo existe um posicionamento, mas quando inicia a partida, existem trocas de posições e táticas. Ainda sobre o jogo posicional, tudo ocorre nele, assim como em outros sistemas e ideias diferentes. No caso do Domenec é até uma questão ética a gente não analisar outros treinadores, porém acredito que houve precipitação do Flamengo em relação ao perfil do treinador, independente da qualidade dele, o problema foi buscar alguém apenas por ser internacional, enquanto temos diversos treinadores no Brasil capacitados, que poderiam assim como o Rogério Ceni fazer o time jogar porque é muito bom e conseguiu ser campeão brasileiro. Infelizmente com o espanhol ocorreu algo que é comum no Brasil trazer um treinador diferente do perfil do clube e obviamente do elenco que está no momento.

ENM: Em seu currículo tem uma experiência bem legal como treinador do Livingston, da Escócia. Como foi trabalhar no local?

Márcio Máximo: Foi um período bem legal porque a nossa carreira internacional proporciona uma série de aprendizados, porque quando trabalhamos numa seleção ou clube no exterior, automaticamente duelamos contra várias escolas, pois temos treinadores de diversas nacionalidades diferentes em ambos os casos. No Brasil anteriormente não tinha isso, mas vem mudando agora com a exportação de treinadores, que na minha opinião é benéfico, mas não podemos deixar de valorizar os nossos, uma coisa não pode contrapor a outra. Eu mesmo fiz minha formação na CBF e vários amigos treinadores também. Recentemente tivemos uma palestra com o treinador que ficou 22 anos no Arsenal, o Arsene Wenger e foi bastante interesse, inclusive foi a federação brasileira que ajudou neste evento. Acredito que deveríamos ter um suporte maior em relação ao mercado externo. Ainda sobre o Livingston foi bem legal a vivência, a Escócia é um excelente país. Conseguimos fazer grandes duelos contra os times da Premier League e isso foi muito bom para minha experiencia profissional. Cheguei a receber uma oferta para ser treinador na terceira divisão inglesa, mas recusei e fui para o Livingston, o que hoje considero um erro, porque na Inglaterra poderia ter mais visibilidade e posteriormente tive a oportunidade de entrevista no Southampton, mas era para comandar o sub-23, não achei interessante e deixei o convite de lado.

ENM: Você trabalhou como assistentes nas categorias de base sub-17 e 20 da Seleção Brasileira. Como foi trabalhar com a base? ainda em relação ao seu trabalho, você costuma utilizar bem os jogadores que sobem das categorias nos profissionais? E como saber o momento exato para subir um atleta e não queimar etapas?

Márcio Máximo: Eu trabalhei com o professor Humberto Redes, depois que vim do salão e fui para o campo, mas tive uma lesão serie e impossibilitou de ser um atleta com uma longa carreira, eu fui estudar e jogava pela equipe de minha universidade. Fui convidado neste período para trabalhar na Sub-17 do Brasil. Também estive com o Redes na seleção do Catar, onde fizemos excelente campanha na Copa da Ásia, depois ele não renovou e deixamos de trabalharmos juntos. Nesse período acabei virando treinador profissional e foi quando assumiu a seleção das Ilhas Cayman. Isso determinou inclusive meu perfil porque os treinadores que trabalham a base buscam sempre ajudar esse perfil, não apenas com a mudança de mentalidade, mas também a intensidade do jogo, então acho que essa mescla da base com o profissional é importante para a essência do jogo. Essa é uma característica minha e levo para todas as equipes que tenho a oportunidade de dirigir.

ENM: Em 1992 você atuou com o Ronaldo também nas seleções de base. Como foi jogar com o craque que 10 anos depois seria o responsável maior pelo Penta?

Márcio Máximo: Ele sempre mostrou uma capacidade e velocidade com bola muito grande, ele tinha um porte físico excelente para a idade na época, eram 16 anos e o Ronaldo era o destaque da equipe. O salão ajudou bastante principalmente na questão do drible, havia muita discussão porque o Adriano, um jogador do Guarani na época era o mais recente da base que tinha feito sucesso na categoria, então eles achavam que o Ronaldo não iria superar ele. E isso foi uma aposta do Humberto Redes. Ronaldo surpreendeu todas as expectativas da época e um fato importante ele foi convocado como atleta do São Cristóvão, uma coisa inusitada até mesmo naquela época.

ENM: Aqui no Brasil cresceu bastante a exigência sobre compreender o jogo e saber repassar tanto aos atletas, quanto torcedores e pessoas envolvidas em geral com o Futebol. Você fez todas as licenças da CBF. O que conseguiu absorver dos conteúdos? E o que ainda acredita que possa melhorar? Você também foi palestrante na Associação Brasileira Treinadores Futebol.

Márcio Máximo: Acredito que essa exigência seja saudável para a evolução do nosso Futebol, os cargos de gestões das equipes começaram a ser ocupados por pessoas capacitadas para estarem naquele ambiente, então acredito que seja um trabalho que precisa ter uma sequência e progressão. Não basta o treinador tem um modelo de jogo, ideia, se o clube pensar totalmente diferente dele. Em relação as palestras são boas porque tanto a CBF consegue trabalhar e atingir todos os mercados de treinadores. É bom lembrar que toda licença PRO no mundo é bastante elevado os seus valores.

ENM: O Brasil agora terá uma regra que os clubes só podem demitir treinadores uma vez durante o Campeonato Brasileiro. O que acha sobre isso? Acredita que seja bom, que vá melhorar em relação as condições de trabalhos aos treinadores?

Márcio Máximo: R: Teoricamente sim. Porque se não houver o jeitinho brasileiro a ideia será ótima. Dizem que vai diminuir o número de empregados e realmente, se a ciranda for menor, mas em compensação quando contratarem seus treinadores com o pensamento que aquele comandante terá a cultura e perfil do clube em questão. Você não pode ver o Flamengo jogando na defesa, pois é parte daquele time sempre ter uma ideia ofensiva. Então aguardo que a partir da lei os gestores tenham maiores critérios quando forem contratarem e até mesmo demitirem treinadores.

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