Trivela
·16 de junho de 2021
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A Uefa confirmou nesta quarta-feira a suspensão do atacante Marko Arnautovic, da Áustria. O jogador pegou uma partida de gancho, por conta de sua comemoração no gol contra a Macedônia do Norte, na primeira rodada da Euro 2020. A entidade enquadrou a manifestação do jogador como “insulto a um oponente”, mas não necessariamente como ato discriminatório, como havia pedido a federação macedônia. Com isso, Arnautovic pegou a punição mínima.
As fontes oficiais não especificam quais as afirmações de Arnautovic. Depois do gol anotado pelo atacante na vitória por 3 a 1 sobre a Macedônia do Norte, o austríaco se virou para os defensores adversários e começou a gritar, até ser contido por David Alaba. Conforme a imprensa local, o jogador direcionou ofensas contra as origens do ala Ezgjan Alioski, afirmando que “praticaria sexo com a mãe albanesa” do oponente – obviamente, com palavras menos polidas.
Alioski se manifestou depois do episódio e afirmou que conversou com Arnautovic na saída do estádio em Bucareste: “Nós conversamos depois do jogo e esclarecemos o que ocorreu. Ele veio aos nossos vestiários, me pediu desculpas e apertou minha mão, sendo bem leal. Não ouvi o que ele disse, porque os torcedores estavam comemorando, mas falamos em alemão depois da partida e nos entendemos”.
Para a federação macedônia, havia um claro tom discriminatório com a menção às raízes albanesas do atleta. A Uefa, todavia, ignorou este fato e afirmou que Arnautovic não insultou “a dignidade humana de uma pessoa” – o que poderia render até dez jogos de gancho, como na punição aplicada por racismo sobre Ondrej Kudela, do Slavia Praga. A confederação também não mencionou o gesto considerado supremacista apontado pelo austríaco. Desta maneira, o atacante se ausentará apenas do confronto com Países Baixos / Holanda pela segunda rodada do Grupo C da Eurocopa.
Em seu comunicado emitido na segunda-feira, a federação macedônia condenou o ato de Arnautovic e pediu a punição mais severa ao jogador. “Somos sempre contra o nacionalismo, a discriminação e outras formas de insultos e explosões que não fazem parte do espírito do futebol e dos valores que todos defendemos. Sempre nos levantaremos e defenderemos os interesses e a dignidade dos jogadores da seleção onde quer que eles joguem”, dizia a carta.
Arnautovic tinha postado uma mensagem em suas redes sociais “negando ser racista”. No comunicado da Áustria nesta quarta, ele reiterou as desculpas: “Por iniciativa própria, admiti publicamente minha má conduta na comemoração do gol, mesmo antes do início da investigação, e pedi desculpas por isso. Ocorreram declarações lamentáveis de ambos os lados, mas as provocações não justificam meu comportamento. Imediatamente após o jogo, houve uma conversa e um pedido de desculpas mútuo. Cresci com pessoas de diferentes países e culturas, e defendo a diversidade de forma clara. Todos que me conhecem sabem disso. É importante para mim enfatizar isso. Junto com a federação austríaca, eu defendo a tolerância e a integração em todas as áreas da sociedade”.
O atacante ainda ofereceu €25 mil para um projeto voltado a imigrantes que patrocina: “Precisamente porque a integração é tão importante para mim, através da minha história, gostaria de aproveitar este caso como uma oportunidade e disponibilizar €25 mil para o meu projeto de integração, no qual atuo como patrono. Assim, meu mau comportamento também terá uma boa consequência para mais coerência. Sobretudo, quero ser um bom exemplo a crianças e jovens”.
Nascido em Viena, em 1989, Arnautovic é descendente de sérvios por parte de pai. Embora defenda a seleção da Áustria, o atacante já manifestou seu apoio ligado a causas nacionalistas sérvias e, inclusive, admitiu que atuaria pela seleção da Sérvia se pudesse mudar de equipe nacional – como bem explica o ótimo Copa Além da Copa. O conflito dos sérvios com os albaneses, que representam um grupo étnico na Macedônia do Norte, tem ligação com a disputa territorial por Kosovo – onde há forte presença da comunidade albanesa. Já Alioski nasceu na Macedônia do Norte, descendente de uma minoria étnica albanesa. O ala migrou com a família para a Suíça ainda na infância, durante os conflitos na antiga Iugoslávia, e iniciou sua carreira no Young Boys.