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·24 de outubro de 2025

Atleta revela bastidores da crise no Avaí Kindermann: ‘Não temos prioridade alguma’

Imagem do artigo:Atleta revela bastidores da crise no Avaí Kindermann: ‘Não temos prioridade alguma’

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Em protesto pelos atrasos de salários, as jogadoras do Avaí Kindermann anunciaram que não entrarão em campo na final do Campeonato Catarinense, no próximo sábado (21), às 15h (horário de Brasília), contra o Criciúma. Além disso, em nota, o elenco também denunciou problemas graves no clube.


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Após a manifestação, o Esporte News Mundo conversou com uma das atletas, que revelou detalhes sobre a situação enfrentada pela equipe. A pedido da fonte, sua identidade será preservada nesta reportagem.

As promessas de um projeto bem estruturado, salários em dia, estadia, alimentação de qualidade e briga por títulos chamaram a atenção da atleta em sua chegada ao Avaí Kindermann. Segundo ela, a gestão mencionou que, na temporada passada, houveram atrasos salariais, mas prometeu que isso não se repetiria em 2025. Entretanto, não demorou para a jogadora perceber que a realidade no clube catarinense era outra e os problemas começaram a aparecer.

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Elenco do Avaí Kindermann no início da temporada 2025 (Foto: Beno Küster/Avaí FC)

O elenco teria sido surpreendido pela diretoria com salários atrasados logo no início da temporada. Para elas, o clube alegou que estaria aguardando repasses de verbas. Foram dados prazos para os pagamentos serem efetuados, mas os valores não foram quitados no dia combinado.

“Nós sempre somos surpreendidas com essa questão de atrasos, porque são dados que são passados pelo Júlio, presidente do Avaí, Sardá que é o presidente da associação Kindermann, e pelo Jonas que é o diretor. Todos eles nos dão datas, mas quando chega o dia, somem e não nos dão explicações. Desde lá atrás, no começo da temporada, são passadas datas e elas não são cumpridas. A gente fica sem entender porque dão datas se não vão cumprir”, disse a fonte com exclusividade ao ENM.

As líderes do grupo foram procuradas para serem informadas sobre os parcelamentos dos valores em aberto, medida determinada pela diretoria para quitar os débitos. Segundo a jogadora, não foram dadas outras alternativas ou qualquer espaço para negociação.

“O presidente reuniu atletas representantes, chegou com datas falando que iam pagar salários atrasados em duas ou três vezes, e assim iam quitar, então fomos meio que surpreendidas com os salários já atrasados, não tivemos outros meios, não tivemos como negociar ou encontrar outro meio, eles já chegaram falando isso, falando (sobre) as parcelas”, afirmou.

NEGLIGÊNCIA

Além dos valores já parcelados, são relatados outros atrasos salariais desde julho. A ausência dos pagamentos por parte do Avaí Kindermann afeta não apenas as vidas das jogadoras, mas também daqueles que dependem delas, como familiares e prestadores de serviços. Sem a principal renda, as atletas expuseram a ausência de dinheiro para comprar coisas básicas, como itens de higiene pessoal.

“A gente já não tem um grande valor por mês, se comparado com a folha salarial do masculino, a nossa é bem menor. Esse atraso tem impacto direto na nossa vida, nas nossas famílias e nas pessoas que trabalham conosco. Nós, que somos atletas profissionais, temos uma questão de profissionais por trás. Temos treinador que pagamos à parte, temos assessoria que nos ajuda a estar sempre trabalhando, tem agência… Então, também fazemos essa parte de quem fica devendo, criamos impacto na vida de outras pessoas. Falando por mim, eu recentemente não tive como comprar produtos pessoais. A gente pede, passamos por situações críticas aqui no alojamento”, revelou.

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Atletas denunciam descaso no Avaí Kindermann (Foto: Maurício Figueiró/ Avaí FC)

Outro assunto que chama atenção na denúncia é a escassez de comida. Reforçando a informação compartilhada no texto publicado nas redes sociais das atletas, a fonte afirmou que é oferecida uma alimentação básica à elas. Segundo a jogadora, a profissional responsável pela alimentação do time busca alternativas para variar o cardápio e tentar atender as necessidades conforme o que é disponibilizado pelo clube:

“A alimentação tem sido cada vez mais limitada. Nós, que somos atletas de alto rendimento, precisamos ter uma alimentação adequada, com variedade. A profissional que trabalha cuidando da nossa alimentação, ela faz milagres pra variar o que comemos no dia a dia. Temos sofrido muito com essa parte. É limitado, não dá para suprir todas as necessidades. A gente tenta sempre estar em alto rendimento, mas sempre com menos do mínimo necessário.”

As lesões de duas jogadoras que romperam o ligamento cruzado direto (LCA) do joelho, a primeira em abril e a segunda em agosto, também foram evidenciadas. Mesmo sendo uma contusão grave, que exige um longo tempo de recuperação, elas ainda aguardam os procedimentos cirúrgicos.

“Aqui temos duas companheiras de equipe que precisam fazer a cirurgia de LCA, uma se lesionou em abril e outra agora em agosto, nós não temos data nenhuma de quando elas farão a cirurgia. Eles estão brincando com a saúde física e mental das atletas, com os sonhos dessas meninas, assim como eles tem feito conosco. Vai muito além da questão salarial”, expôs a jogadora.

“Nossa vida não para, o amor pelo futebol não vai pôr comida na mesa, não vai pagar contas. Aqui tem pessoas também. Todas as vezes que entra dinheiro, somos as últimas, não temos prioridade alguma. Fizemos esse pedido de socorro por isso”, desabafou a atleta do Avaí Kindermann

Ao longo da temporada, o time teve baixas significativas e, hoje, conta com apenas 13 jogadoras disponíveis. Apesar dos problemas, a equipe manteve a união, conquistou bons resultados e fez uma campanha excelente no Campeonato Catarinense Feminino, chegando à final.

“Nos unimos com quem ficou, conversamos todos os dias, nos damos as mãos, apoio, para alcançar o resto dos objetivos que ainda temos. Conseguimos fazer um bom Catarinense, conseguimos atingir o primeiro objetivo, que era estar na final, mas a situação está cada dia mais insustentável. Estamos pedindo várias vezes para que essas questões sejam solucionadas, gritando por socorro e ninguém nos ouve. Isso é bem ruim, porque a gente só escuta promessas, datas, que as coisas vão melhorar, ‘por favor confie em mim’, enquanto a gente pede socorro por situações que não deveríamos e ainda assim estamos conseguindo manter nosso papel, fazer coisas incríveis, com número limitado”, declarou.

No primeiro jogo da decisão, que aconteceu no último sábado (18), o Avaí Kindermann ficou no empate em 1 a 1 com o Criciúma, no Estádio Heriberto Hülse. O título será decidido no próximo final de semana, na tarde do dia 25 de outubro, no Caçador. Porém, em protesto aos atrasos e descaso do clube, as Leoas já declararam que, se as demandas não forem atendidas, não entrarão em campo.

“Não temos outra maneira de fazer esse alerta, de gritar por socorro, sem ser essa. Eles só estão pensando na camisa, no clube, mas em nossas vidas e tudo que somos, não só como atletas, mas como pessoas também, eles não estão pensando”, disparou.

FALTA DE INVESTIMENTO

A atleta disse acreditar que, se tivesse mais investimento na categoria, alimentação correta, salários em dia e uma estrutura melhor, o time teria conquistado resultados expressivos no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil e no estadual. Por enquanto, o único desejo do elenco é que os problemas sejam resolvidos em breve.

Em pedido às entidades organizadoras do futebol feminino, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Fifa, a jogadora do time catarinense solicitou que tenham um olhar cuidadoso para a categoria:

“Que eles comecem a fiscalizar, abraçar mesmo o futebol feminino, porque existem muitas coisas nos bastidores que acontecem e que impactam diretamente na vida de cada uma das que deixam casas para buscar um sonho.”

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Finalista nesta temporada, Avaí Kindermann conquistou o Campeonato Catarinense em 2024 (Foto: Leandro Boeira/Avaí FC)

O CLUBE

A fonte afirmou que o clube ainda não procurou o grupo para falar sobre a ausência na final do Catarinense, mas ela diz saber que a diretoria não aprovou o protesto do time. “Sabemos que eles não gostaram da maneira que fizemos, mas foi a única que conseguimos de pedir socorro”, concluiu.

Procurado pelo ENM, por meio de sua assessoria, o Avaí Futebol Clube informou que a gestão do futebol feminino é de responsabilidade da diretoria da Associação Esportiva Kindermann (AEK), isso inclui contratações de atletas e comissão técnica, manutenção dos pagamentos de salários e outros gastos relacionados à equipe.

Como parceiro do projeto, o clube afirmou ainda que tem como dever um “pagamento mensal” previsto em contrato e que, para 2025, o orçamento aprovado projetava um gasto de R$ 800 mil.

Ao contrário do planejamento, o Avaí diz ter se sensibilizado com os “desafios enfrentados pela AEK” e teria ultrapassado o valor repassado em 25%, superando R$ 1,068 milhão.

A diretoria executiva do clube disse reconhecer a importância do futebol feminino e que está procurando alternativas para que “os compromissos assumidos sejam honrados o mais breve possível.”

Confira a nota do Avaí Futebol Clube na íntegra:

Sobre a situação das atletas do Avaí Kindermann, gostaríamos de esclarecer que a gestão do Futebol Feminino Avaí/Associação Esportiva Kindermann (AEK) é de TOTAL responsabilidade da Diretoria da AEK, que contrata jogadoras, comissão técnica, e demais gastos relacionados à manutenção da gestão de pagamentos e governança da equipe. Ao Avaí Futebol Clube compete como parceiro, auxiliar com um pagamento mensal conforme contrato que, para o ano de 2025 projetou-se gastar R$ 800.000,00 com a equipe feminina. Entretanto, até a presente data, sensível aos desafios enfrentados pela AEK na manutenção da equipe, o Avaí Futebol Clube já realizou um total de R$ 1.068.165,94 em repasses à Associação Esportiva Kindermann, ou seja, aproximadamente 25% a mais do que havia sido autorizado em orçamento. 

Mesmo assim, a Diretoria Executiva do Avaí Futebol Clube, entendendo a importância do futebol feminino, segue buscando recursos adicionais para que os compromissos assumidos sejam honrados o mais breve possível.

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