Jogada10
·17 de novembro de 2025
Auditoria expõe falhas graves na gestão de materiais da Nike no Corinthians

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·17 de novembro de 2025

Uma investigação interna conduzida pelo Corinthians, revelada pelo ”ge”, identificou profundos problemas na administração dos materiais esportivos fornecidos pela Nike. O relatório, que analisou os processos de controle e distribuição de uniformes e itens oficiais, aponta um descompasso alarmante entre o volume de produtos recebidos pelo clube e a utilização efetiva por suas equipes.
Segundo o levantamento, o Corinthians ultrapassou em quase 300% a cota anual estipulada em contrato ao retirar 41.963 itens da Nike apenas em 2025, até 10 de outubro. Somados aos 33.902 produtos contabilizados no ano anterior, o clube acumulou R$ 23,77 milhões em materiais. Este valor deveria se limitar a R$ 4 milhões por temporada. A Nike, contudo, não cobra pelos produtos excedentes.
Apesar da abundância de uniformes e acessórios, a auditoria constatou que diversas modalidades do clube, especialmente categorias de base e esportes olímpicos, seguem desassistidas, usando peças antigas, danificadas ou sequer recebendo novas remessas.
Aliás, o relatório elenca sete falhas estruturais na operação do almoxarifado e no fluxo de distribuição, todas classificadas como graves.
Acúmulo de materiais de coleções antigas sem definição de uso. Falta de distribuição dos itens enviados pela Nike aos setores correspondentes. Ausência de inventário físico no Parque São Jorge há mais de quatro anos. Notas fiscais não lançadas no sistema, gerando risco fiscal e inconsistências contábeis. Distribuição desigual de uniformes entre atletas, diretores e funcionários, somada à falta de planejamento de pedidos. Retiradas de materiais antes da conclusão das aprovações internas. Por fim, itens retirados por pessoas não autorizadas, dificultando o controle de rastreabilidade.
A auditoria destaca que somente em 2024 e 2025 há R$ 6,4 milhões em notas fiscais sem registro, dado qualificado como “não conformidade grave”.
“O não lançamento de notas fiscais no sistema constitui não conformidade grave, comprometendo o controle interno e fluxo de informações, a acuracidade dos saldos sistêmicos dos materiais e riscos de exposição fiscal”, descreve o documento.
Mesmo com o volume expressivo de produtos, setores essenciais seguem sem atendimento adequado. O relatório aponta que a “grande maioria das modalidades esportivas do clube não foi contemplada pela uniformização oficial da fornecedora”.
Departamentos de esportes aquáticos, por exemplo, não receberam nenhum uniforme novo. No futsal, foram observadas camisas e calças “apresentando desgaste acentuado”, com rasgos, remendos e tecido desbotado.
Nas categorias de base, apenas o Sub-20 recebeu kit completo da coleção 2025. Além disso, a auditoria ainda registrou o uso de modelos de 2019 para treinos e 2021 para jogos em divisões inferiores como Sub-12 e Sub-13. Em um caso extremo, o departamento foi orientado a “racionar o uso dos materiais esportivos”.
A falta de reposição se refletiu também no futebol profissional. Às vésperas de enfrentar o Fluminense, em 13 de setembro, o clube descobriu que não havia camisas brancas suficientes. Contudo, sem tempo hábil para uma entrega emergencial da Nike, o Corinthians solicitou ao rival que ambas as equipes atuassem com o uniforme alternativo. O pedido acabou sendo acatado no Maracanã.
O relatório coloca o vice-presidente Armando Mendonça no centro de diversas irregularidades. Ele é responsável pela gestão de materiais desde maio, após a posse de Osmar Stabile. A auditoria aponta que Mendonça realizou retiradas diretas na rouparia sem registro ou autorização, além de acumular itens considerados excedentes ou especiais.
Entre 6 de junho e 30 de outubro, Armando teria requisitado 131 itens, sem incluir camisas destinadas a ações de “relacionamento da diretoria”, que segundo o relatório variam de seis a onze camisetas por partida, com o vice sendo o principal destinatário.

Vice do Corinthians foi flagrado vendendo material oficial do clube por fora – Foto: Divulgação/Corinthians
Em outro episódio, Mendonça solicitou as 19 camisas especiais usadas no clássico contra o Palmeiras com patches da NFL. Após tomar conhecimento de que a auditoria acompanhava o caso, cancelou o pedido, mas posteriormente retirou oito peças, “sem a devida formalização do processo de solicitação”.
Os auditores também relatam que o vice-presidente ordenou a transferência, sem documentação fiscal, de materiais considerados insatisfatórios do CT Joaquim Grava para o Parque São Jorge.
Por fim, há também o relato de que o dirigente entrou sem ser convidado em uma reunião com o responsável da Nike pelo atendimento ao Corinthians.
Mesmo tendo acesso a milhares de itens fornecidos sem custo adicional, o Corinthians gastou R$ 776 mil para adquirir 13.503 materiais licenciados, destinados sobretudo a departamentos como futsal e basquete de base. Um gasto considerado desnecessário pelos auditores.









































