Barbosa: episódio de podcast mostra como o racismo estruturou a narrativa da derrota do Brasil em 1950 | OneFootball

Está no ar o quinto episódio do podcast “Barbosa: Defendendo um Legado”. O capítulo aborda como o racismo estruturou a narrativa da derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1950 e como goleiros negros, especialmente Moacyr Barbosa, foram colocados como culpados por fatores que ultrapassam o campo esportivo.

O episódio resgata o contexto histórico da formação do futebol no Brasil e a exclusão de atletas negros nas primeiras décadas do século 20. “O futebol oficial nasce com base na exclusão. Na primeira década do século 20 já havia a formação de ligas negras. O futebol é resultado da luta dos próprios negros por espaço em uma sociedade que havia saído da escravidão poucas décadas antes”, explica Marcel Tonini, pesquisador do Museu do Futebol. Para ele, o preconceito continua presente: “O signo do preconceito ainda ronda o futebol. Os jogadores são tratados como iguais enquanto o jogo dura”.

A partir da derrota de 1950, o episódio destaca como Barbosa, Bigode e Juvenal foram eleitos bodes expiatórios. Segundo a narrativa da época, os três tinham algo em comum: a cor da pele. Relatos e registros mostram como a imprensa e parte da sociedade associaram a falha no gol e a derrota a supostas características atribuídas aos jogadores negros, como falta de disciplina e fragilidade emocional em decisões.

O ex-goleiro Aranha participa do episódio e relata experiências pessoais de racismo no futebol. “Ouvi no início: ‘pessoas negras não servem para ficar no gol’. Demorei muito para chegar em um grande clube. Precisava nunca falhar para que dissessem que eu era bom. Até hoje é difícil ouvirem que um goleiro negro é bom”, relata. O jornalista Celso Unzelte complementa: “As pessoas fazem piadas sobre goleiros negros, dizendo que não são confiáveis. Isso foi além do Barbosa. Se ele não foi o maior injustiçado, está entre os principais”.

O episódio também discute como a imagem do Maracanazo foi construída de forma seletiva. Até hoje, a cena mais reproduzida é a de Barbosa sofrendo o gol do Uruguai, enquanto outros lances da partida e erros coletivos são ignorados. A produção ainda resgata documentos que circularam na época, que questionavam a suposta “fragilidade psicológica” de jogadores negros, uma narrativa que se manteve até a conquista da Copa do Mundo de 1958.

O podcast “Barbosa: Defendendo um Legado” é uma produção da Fundação Cásper Líbero, em parceria com a Gazeta Esportiva, e está disponível nas principais plataformas de áudio, como Spotify, Deezer, Apple Music e SoundCloud.

Ouça no Spotify: https://open.spotify.com/show/1Of54q2QnitdNVlY4OT7HO