Jogada10
·01 de outubro de 2025
Betinho Marques – Preservar Hulk é mais que um “gostar”, é dever cívico da atleticanidade

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·01 de outubro de 2025
O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço. Mas a sociedade está descartável. Um dia, meu pai me disse, olhando para mim com o olho arregalado e grande:
“Meu filho, desde a hora que você passa por aquele portão será avaliado — do jeito de andar ao modo de mascar chicletes — por melhores que sejam as suas intenções e resultados.”
Pois é! Diante do cenário descartável no qual estamos inseridos, em que temos a “obrigação” de trocar de celular a cada dois anos, as pessoas também se tornaram descartáveis.
Não é sobre ser cobrado ou criticado, é sobre ser descartado por qualquer avaria ou mau desempenho humano que cometemos. Ninguém está ileso ao “não serve mais, está velho, banana que já deu cacho”.
Damos vereditos “científicos” no achismo e só descartamos. Acho que nos identificamos várias vezes como vítimas e como “atiradores de pedra”. E, mais uma vez, não tem nada a ver com a crítica, e sim com a crueldade e o descarte daquilo que é necessário ao mercado da “notícia” que vende mais.
Hulk faz muito pelo Atlético. Mesmo quando está em baixa. Foto: Pedro Souza / Atlético
Diante desse cenário, Hulk — o atleta que mais desempenhou e apresentou números no futebol brasileiro desde que retornou ao país —, após subir a régua e não voltar apenas para dormir em “berço esplêndido” como vários, é cobrado pela régua alta que ele mesmo elevou.
Para não ficar num discurso raso, Givanildo é o atual artilheiro do Galo na inconstante temporada de 2025, com 16 gols e 20 participações diretas nos tentos. São 130 gols do décimo maior goleador do CAM e, até aqui, oito títulos.
O paraibano é o que mais marcou na Arena MRV, com 18 gols, e no novo Mineirão, com 59 gols. Hulk é o maior goleador brasileiro em atividade, com 446 gols — o nono do mundo — e que tem cerca de 200 assistências na carreira, desconsiderando amistosos. Não faltam números, mas paro por aqui para não virar ode às estatísticas.
Mas, ao contrário da “onda”, assim como abraçou Ronaldinho Gaúcho, Keno e aqueles que estavam em baixa, a Massa jamais vai deixar de abraçar, acolher e gritar o nome do Hulk na arquibancada.
Mais que um “chato” para alguns, Givanildo incutiu no Atlético o desejo ativo por vencer e pela honra ao escudo. Aos que esquecem: foi ele quem, como embaixador, incentivou vários garotos e recém-chegados a treinarem mais e a focarem.
Hulk é necessário. É o cara que te empurra a vencer e que contraria o senso comum de fingir ser amigo. É quem luta em Minas Gerais, que vive atrás das montanhas do eixo. Hulk não veio ao Brasil “mamar nas tetas dos brasileiros”; veio para marcar seu nome. E, por isso, gravou com exemplo sua história no Atlético e no futebol mundial. Precisamos de mais “chatos” assim.
O melhor lugar do mundo — já dizia o Jota Quest — é dentro de um abraço. E isso nunca vai lhe faltar, herói. Mas nunca se esqueça de uma mensagem importante:
Para os insensíveis e ingratos, para os que não são seus pais ou amigos, nós sempre seremos apenas números que apresentamos. De qualquer forma, seja por amor ou matemática, Givanildo entrega TUDO que pode — ou até mais. Quem quiser guardar no coração, ok. Mas quem quiser salvar na planilha, não faltarão argumentos para defendê-lo.
Mas, contudo, a memória ainda é curta e, por isso, somos, sim, descartáveis. Nada do exposto acima tem a ver com a necessária cobrança que todos merecemos. Porém, o humano Givanildo, que elevou sua própria régua de cobrança, é vítima de sua própria medidora de excelência, que amplificou também a expectativa de sempre “salvar”.
Acontece — e nem todos entendem — que há horas em que os heróis também choram e precisam apenas de um abraço silencioso e de um grito generoso da arquibancada do clube que sempre honrou.
Preservar Guará, Mário de Castro e Kafunga foi a pavimentação da existência do CAM até a chegada de outros craques e o advento de Reinaldo. Preservar Hulk é nada mais do que zelar pela maior instituição de Minas Gerais, o Clube Atlético Mineiro. Portanto, é mais que um “gostar”, é um dever cívico da atleticanidade.
Galo, som, sol e sal é fundamental.