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·29 de outubro de 2020
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A coluna Papo Azteca desta semana vem contar uma história inusitada. Dessa forma, falaremos sobre uma vaca que tornou possível a existência do Club de Fútbol Atlante. Mas, calma que eu explico. Antes, vamos conhecer um pouco sobre esse clube.
Localizado na Cidade do México, capital do país, o Atlante é um dos times mais tradicionais do México. Conhecida como a equipe do povo, por conta dos operários e comerciantes que fundaram o clube, atualmente joga a Liga de Expansión, ou segunda divisão.
Criados em 8 de dezembro de 1918, os Azulgranas têm alguns títulos importantes na coleção. Entre eles, estão cinco conquistas de liga, três de Copa México e dois de Campeón de Campeones. Por duas vezes, também conquistaram a Liga dos Campeões da Concacaf. Logo, dá pra entender o porquê de sua tradição. Porém, nos últimos anos, a situação é bem diferente.
De tempos em tempos, o Atlante costuma mudar de cidade ou estádio. É o time com mais mudanças de endereço, sendo seis no total. Entre saídas e retornos à capital, já passou por Querétaro, Nezahualcóyotl e Cancún. Nesta última, esteve jogando entre 2007 e 2019. No ano passado, decidiu retornar mais uma vez ao seu local de fundação. Infelizmente, todas essas instabilidades, somadas aos quatro rebaixamentos, tiraram um pouco de seu prestígio. Apesar disso, os Potros de Hierro (Cavalos de Ferro) sempre estarão entre os grandes.
Sua história prova isso. Nos anos iniciais do século passado, o futebol no México só era conhecido em clubes esportivos britânicos e escolas particulares da capital. A partir da segunda década, o esporte chegou às colônias, periferias e fábricas da cidade. Assim, alguns pequenos torneios começaram a ser organizados pelos donos das indústrias. O intuito era evidenciar o nome das empresas através de seus funcionários. Em pouco tempo, a fábrica de calçados Excelsior se envolveu nas competições amadoras. Antes disso, um dos trabalhadores, Trinidad Martínez, tinha descoberto a prática do futebol em um clube esportivo perto do trabalho.
Contudo, a condição econômica da época impedia que um clube fosse formado. Então, se não podiam jogar em torneios organizados ou amadores, os funcionários da fábrica participavam de encontros informais na Colônia Condesa. Embora jogassem desde 1916, nunca criaram um documento formal que validasse a existência do clube. Mesmo assim, no final de 1918, foi criado o Sinaloa, time localizado na esquina das ruas Sonora e Sinaloa. Quem foram os idealizadores? Trinidad Martínez e seu irmão Refugio, além de Agustín Pérez.
A partir daí, o novo clube mudou de nome mais três vezes: de Sinaloa, foi a Lusitania em 1919. No ano seguinte, virou U-53, em homenagem ao submarino alemão da 1ª Guerra Mundial. Por fim, se tornou Atlântico em 1921, em alusão ao oceano de mesmo nome. Logo, por conta do uso coloquial da palavra, o Atlântico acabou virando Atlante.
Como nunca houve uma ata constituinte do clube, não se sabe exatamente sua origem. Há quem diga que ela se deu em 1916. Outros dizem que foi em 1918. Além disso, o ano de 1919 também é uma possibilidade. A cada data cheia, os associados fazem uma festa comemorando uma história que ninguém sabe onde se iniciou. Se o autor deste texto pudesse arriscar, diria que foi em 1918, sob o nome de Sinaloa. Porém, como seu centenário foi celebrado em 2016, é provável que 1916 tenha sido mesmo o ano de fundação do Atlante.
A esta hora, você deve estar se perguntando: o que uma vaca tem a ver com isso? Como dito anteriormente, esse é um clube essencialmente de bairro. Geralmente, os recursos disponíveis eram escassos. Por isso, quando ainda jogavam na Colônia Condesa, Refugio Martínez precisou vender sua vaca para pagar os uniformes do time. Parece uma piada, mas é a realidade. E, de fato, não há exemplo maior do que é o Atlante na essência. Inegavelmente, muita luta e paixão marcam a história desse clube. Afinal, seus 104 anos de existência não foram construídos por acaso.
Então, um torcedor fez questão de relembrar esse fato curioso durante a marcha centenária do clube. Inclusive, no mesmo lugar onde se realizou a venda do animal. Don Jesús, como é chamado, apareceu segurando uma placa entre os que celebravam, e expôs novamente ao mundo a famosa frase: o Atlante existe graças a uma vaca. Esse e outros contos fazem parte do “folclore” adorado por todos os torcedores.
Portanto, se pudermos desejar alguma coisa a esse clube tradicional, é que ele volte à primeira divisão mexicana. Sua história única, junto de uma torcida apaixonada, merece um destino melhor do que o segundo escalão do futebol. Entre altos e baixos, o Club Atlante se manteve de pé. Não importa se campeão ou rebaixado, os torcedores sempre estiveram presentes. Então, que o esforço de Refugio não caia em esquecimento, pois a família azulgrana deve sempre ter um lugar especial guardado na história.
Foto destaque: Reprodução/Medio Tempo