
Gazeta Esportiva.com
·30 de setembro de 2025
Corinthians troca serviço de logística sem assinar contrato e revisão do compliance

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·30 de setembro de 2025
Em meados de abril de 2024, o Corinthians, então presidido por Augusto Melo, decidiu trocar a empresa responsável pelo serviço de logística do departamento de futebol sob sugestão e indicação do executivo Fabinho Soldado. O Timão desfez a parceria com a Palace e contratou a Off Side, que opera até os dias atuais sem contrato assinado e revisão do compliance, como admitiu o clube em nota enviada à Gazeta Esportiva.
A desconfiança acerca do acordo firmado com a Off Side partiu de um requerimento enviado pelo conselheiro Gilson Teixeira ao presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Romeu Tuma Júnior, ao qual a reportagem teve acesso. No documento, Teixeira questionou a “legalidade, regularidade e economicidade” dos serviços prestados pela empresa, indicando possível “sobrepreço, ausência do processo licitatório e conflito de interesses”.
A partir daí, iniciou-se uma investigação interna no Parque São Jorge para entender a parceria. A conclusão das apurações revelou uma série de irregularidades no processo de contratação da Off Side.
Conforme determinado pelo estatuto do Corinthians, o clube precisa recolher pelo menos três orçamentos antes de fechar uma contratação deste porte. Esta obrigação, porém, não foi realizada pela diretoria da época. Os termos e as referências do contrato também não passaram pelo sistema de compliance do clube, implantado no segundo semestre de 2021.
Além disso, a Gazeta Esportiva apurou que a minuta contratual com a Off Side, embora tenha sido redigida, não foi assinada pelo Corinthians. A empresa, portanto, atua há mais de um ano sem qualquer vínculo.
(Foto: Peter Leone/O Fotografico/Gazeta Press)
As irregularidades foram admitidas pela atual diretoria do Timão, presidida por Osmar Stabile. O Corinthians, em nota, confirmou que não houve assinatura de contrato com a Off Side na gestão Augusto Melo, além de atestar a ausência da revisão do compliance e dos três orçamentos.
“Após apuração interna feita pelo Departamento Jurídico, foi constatado que não há contrato assinado com a empresa para a prestação dos serviços. A última troca de e-mails entre a Off Side e o jurídico do Corinthians foi na data de janeiro de 2025. A administração atual não encontrou evidências de concorrência para a escolha da empresa, que não passou pelo compliance do clube. Agora, dentro do processo de regularização da parceria passará pelos trâmites internos corretos”, enviou o Corinthians à reportagem.
A gestão atual também promete regularizar a parceria. “A diretoria entende que há a necessidade de formalização do acordo para o correto andamento da parceria e seguirá os trâmites internos para oficializar a questão”.
Diante da ausência de um contrato assinado, o Corinthians informou à reportagem que a Off Side tem emitido notas fiscais de acordo com os serviços prestados, jogo a jogo. Segundo o clube, a empresa presta assessoria logística apenas em partidas fora do Estado de São Paulo.
A atual diretoria do Corinthians alega que levantou dados financeiros para decidir pela continuidade da Off Side. Segundo informações obtidas pela reportagem, o Timão gastou cerca de R$ 13,4 milhões com serviços de logística ao longo de 2024. Na atual temporada, a expectativa é que a despesa tenha valor semelhante.
Além disso, a decisão pela Off Side passou pelo desejo de oferecer mais conforto aos atletas. A diretoria de futebol teve uma conversa com jogadores para receber um feedback dos serviços prestados anteriormente e optou por fazer a mudança.
Questionado pela reportagem, o executivo de futebol Fabinho Soldado defendeu a decisão que teve ele como principal entusiasta.
“No entendimento do executivo de futebol, Fabinho Soldado, o Corinthians tem hoje o melhor serviço prestado dentro dos valores executados, comprovadamente com menor custos quando se compara os pacotes oferecidos pelas empresas. O Corinthians avançou e muito em sua logística, comprovadamente perceptível no dia a dia e no feedback dos atletas”, afirmou, em nota.
Fabinho Soldado foi quem acompanhou Augusto Melo na reunião que determinou a contratação da Off Side, mas o entendimento da atual cúpula alvinegra é de que o executivo não tem competência ou responsabilidade pelo trâmite burocrático da contratação, à época sob cuidado de Vinicius Cascone, então diretor jurídico.
A Gazeta Esportiva entrou em contato com Augusto Melo e Vinicius Cascone, presidente e diretor jurídico do Corinthians no ato da contratação da Off Side. Ambos, no entanto, preferiram não se manifestar sobre os tópicos abordados pela matéria. Caso algum deles se pronuncie, o texto será atualizado.
A reportagem também procurou a Off Side para questionar os motivos da não assinatura de um contrato com o Corinthians. A empresa enviou uma nota através de seu CEO, Rodrigo Ernesto, mas optou por omitir detalhes da parceria. Veja abaixo o comunicado, na íntegra:
“A Off Side é uma empresa especializada em logística esportiva que atua no mercado desde 2000. Ao longo desses 25 anos, consolidou-se como referência no segmento com entregas técnicas que visam a melhor estratégia logística para seus clientes. Somente neste ano de 2025, a Off Side já atendeu 25 dos principais clubes do Brasil, entre as Séries A e B do Brasileirão, além de ter prestado serviços a 22 clubes sul-americanos que estiveram em disputa das principais competições continentais, como as Copas Libertadores e Sul-Americana. Esse histórico demonstra a confiança e a credibilidade construídas junto às principais agremiações do futebol da América.
Por ética e respeito à confidencialidade com seus parceiros, a Off Side não comenta ou divulga detalhes de contratos, sendo essa uma prerrogativa na relação com as próprias instituições, que têm a total liberdade para explanar tais informações, se assim julgarem pertinente, seja interna ou publicamente.
De forma geral, nossos processos seguem um padrão profissional que orienta nossa conduta há mais de duas décadas. As necessidades logísticas de cada cliente são avaliadas caso a caso: primeiro de maneira macro, com antecipação de cenários e definição de estratégia — sempre validadas com a instituição esportiva — e, em seguida, com foco na execução em si. Esse trabalho envolve também relacionamento e alinhamento operacional com órgãos públicos, estádios, outras equipes, além de aeroportos em diferentes cidades. A partir desse diagnóstico, apresentamos orçamentos transparentes e compatíveis com a realidade de cada entidade esportiva.
Temos orgulho da história que construímos e da credibilidade que alcançamos por meio de grandes parcerias nestas últimas décadas. Seguimos trabalhando para evoluir e profissionalizar a logística esportiva no Brasil e na América do Sul”.