Esporte News Mundo
·17 de novembro de 2025
Corinthians vira alvo de relatório que revela desvio de materiais da Nike e coloca vice-presidente no centro das irregularidades

In partnership with
Yahoo sportsEsporte News Mundo
·17 de novembro de 2025

Uma auditoria interna realizada no Corinthians expôs um cenário amplo de irregularidades na gestão dos materiais fornecidos pela Nike, revelando problemas que vão desde falhas básicas de controle até o desvio e a comercialização clandestina de uniformes oficiais.
O relatório, encaminhado ao presidente Osmar Stabile, ao Conselho Deliberativo e também à Polícia Civil, que já conduz um inquérito sobre o caso, menciona diretamente o vice-presidente Armando Mendonça como figura central em parte dos episódios classificados como inconformes.
Segundo o documento, o clube extrapolou em quase 300% a cota contratual anual de materiais recebidos da Nike. Apenas entre 2024 e 2025, o Corinthians acumulou R$23,7 milhões em produtos, um excedente de R$15,7 milhões em relação ao limite de R$4 milhões por ano previsto no contrato. Ainda assim, diversas modalidades do clube seguem sem uniformização adequada, com relatos de peças desgastadas, remendadas ou simplesmente inexistentes.
A auditoria listou sete irregularidades consideradas graves. Entre elas, o acúmulo de materiais antigos sem destinação, ausência de inventário há mais de quatro anos e notas fiscais não lançadas no sistema, que somam R$6,4 milhões e representam risco fiscal ao Corinthians. O relatório também aponta distribuição desigual de uniformes, pedidos sem planejamento, retirada de materiais sem seguir o fluxo de aprovações e solicitações feitas por pessoas sem autorização.
Embora o Corinthians possua dois almoxarifados, o do Parque São Jorge, que atende base, feminino e outros esportes, e o do CT Joaquim Grava, que abastece o profissional masculino, o funcionamento de ambos foi considerado desorganizado e frágil.
A desordem contrasta com a quantidade de itens recebidos. Só em 2025, até 10 de outubro, foram 41.963 produtos enviados pela Nike. Ainda assim, modalidades como esportes aquáticos não receberam uniformes oficiais, e a base foi instruída até a “racionar material” antes da Copinha.
Categorias como sub-12 e sub-13 treinam com modelos de 2019 e jogam com peças de 2021. Em paralelo, o Corinthians gastou R$776 mil na compra de 13,5 mil itens licenciados para suprir departamentos como futsal e basquete, mesmo que os uniformes fornecidos pela Nike não gerassem custos ao clube.
A desorganização chegou ao ponto de afetar o time principal. Às vésperas do duelo contra o Fluminense, em 13 de setembro, o clube percebeu que não havia camisas brancas suficientes para o uniforme número 1. Sem tempo hábil para reposição, o Corinthians pediu ao rival que ambos atuassem com o segundo uniforme, o que foi aceito.
A auditoria também investigou uma denúncia anônima sobre venda ilegal de uniformes. O esquema, segundo o relatório, envolvia funcionários do clube comercializando peças do estoque oficial.
Um deles foi flagrado vendendo camisas por R$150 e R$180, admitiu participação e confirmou o desvio. Seu nome não foi divulgado.
Responsável pela gestão dos materiais desde maio, Armando Mendonça aparece como protagonista em diversas ações consideradas incômodas ou irregulares.
O relatório aponta que ele foi o principal destinatário de camisas solicitadas sob o argumento de “relacionamento da diretoria”, normalmente de seis a 11 peças por jogo. Também teria pedido para si 19 camisas especiais usadas no clássico contra o Palmeiras, com patch da NFL. Ao saber que o pedido havia sido detectado, cancelou a solicitação, mas retirou oito peças sem formalização posterior.
Entre 6 de junho e 30 de outubro, o vice retirou 131 itens, sem contar as camisas em dias de jogo. Há registros de retiradas diretas na rouparia, sem controle formal. A auditoria também menciona a transferência de materiais considerados insatisfatórios do CT para o Parque São Jorge, sem documentação fiscal.
Além disso, o documento relata que Mendonça teria adotado tom agressivo em conversas com o diretor de Tecnologia, Marcelo Munhoes, responsável pela auditoria. Em um dos episódios, o vice teria entrado sem convite em reunião com representantes da Nike, formulando perguntas e respondendo ele mesmo, o que gerou “constrangimento e intimidação”.
O relatório final lista 17 recomendações para reorganizar processos internos, reforçar sistemas de controle e corrigir distorções na distribuição de materiais. Para os auditores, as falhas encontradas revelam um ambiente de baixa governança e riscos que podem ter permitido desvios e uso indevido de patrimônio.
A diretoria do Corinthians não se manifestou até a publicação do relatório.
Armando Mendonça contestou os pontos apresentados. Ele afirma que não é responsável pela política de distribuição de materiais, que apenas ajudou a reorganizar processos caóticos encontrados no início da gestão e que o relatório é “tendencioso” e “desconectado da verdade”. Diz que solicita melhorias no sistema de controle e defende que as retiradas feitas se destinavam a ações de relacionamento. Também nega qualquer ameaça ou interferência na investigação.
“Lamento profundamente informações desamparadas de material probatório”, afirmou, acrescentando que sempre apoiará “melhorias, maior controle e apuração correta de irregularidades









































