
Gazeta Esportiva.com
·15 de setembro de 2025
Da Taça das Favelas à ascensão no Palmeiras: quem é Robson, zagueiro decisivo no Brasileiro sub-20

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·15 de setembro de 2025
O jovem Robson viu sua vida passar por mudanças transformadoras em um curto período de tempo. O zagueiro iniciou a trajetória no futebol por meio de projetos sociais e da Taça das Favelas e, hoje, defende as cores do Palmeiras com muito orgulho. O Verdão apostou no garoto de 18 anos, que sagrou-se bicampeão do Campeonato Brasileiro sub-20 no final do mês de agosto e se consolidou como uma das principais lideranças do atual elenco.
Nascido em Guaianases, na zona Leste de São Paulo, Robson precisou trabalhar muito para chegar ao patamar onde está. Junto de seu pai, o zagueiro entregava sapatos e ferramentas em Jandira, Carapicuíba e Barueri, municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Foi com 16 anos que, oriundo de projetos sociais, decidiu tentar carreira no futebol. Ele se consolidou no meio através da Taça das Favelas de 2022, em que defendeu a Associação Esportiva Codó.
Um ano depois, deu seus primeiros passos no futebol profissional ao ser contratado pelo Flamengo de Guarulhos, quando disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior e ganhou destaque. O defensor despertou a atenção do Palmeiras, que não poupou esforços para contratá-lo ainda no final de 2023. Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, Robson revelou ter muito orgulho dos rumos iniciais de sua carreira.
“É um sentimento de muito orgulho. Às vezes, não sei nem explicar como Deus foi tão bom na minha vida de lá para cá. Foi tudo muito rápido também. Tive momentos importantes que nunca vou esquecer, vou sempre levar para o resto da minha vida. Em 2022, Copinha, Taça das Favelas… E você atingir outro patamar que é o Palmeiras, a Seleção Brasileira mesmo, a oportunidade de fazer treinos no profissional com grandes jogadores. É muito significativo para mim e para toda minha família”, afirmou o jogador.
“Tento sempre manter o meu foco, minha disciplina, minha dedicação total. Eu sei que, para um atleta, sair de um clube menor e alcançar um clube de elite não é fácil. Tem a adaptação, mas com total dedicação e foco, eu graças a Deus consegui”, acrescentou.
O sub-20 do Palmeiras disputou duas importantes decisões na atual temporada. O Verdão chegou à final da Libertadores da categoria, mas acabou derrotado. Já no Campeonato Brasileiro, os Crias da Academia, liderados por Robson, tiveram um final feliz e saíram com o título. Curiosamente, ambas as decisões se encaminharam para os pênaltis.
A grande final da Libertadores sub-20 se deu em 16 de março deste ano, no Estádio Arsenio Erico, em Assunção (Paraguai). Na ocasião, o Palmeiras foi superado pelo Flamengo nos pênaltis, por 3 a 2, após empate em 1 a 1 no tempo normal. Carbone, Daniel Sales e Guilherme Gomes marcaram para o Rubro-Negro carioca, enquanto Gilberto e Luighi converteram pelo Verdão.
Robson foi titular durante os 90 minutos, mas não chegou a bater uma penalidade na disputa. Ele relembrou o vice-campeonato, mas destacou a importância do papel do treinador Lucas Andrade na manutenção da moral do elenco.
“Ah, teve aquela conversa de sempre, que o treinador [Lucas Andrade] costuma falar que passou, agora é seguir em frente. Momento triste, não tinha muita coisa para falar. Ele disse para a gente sempre manter a cabeça no lugar, pézinhos no chão, porque as coisas iriam acontecer da melhor forma”, contou o zagueiro.
Robson durante final da Libertadores sub-20 (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras/by Canon)
A previsão do comandante alviverde de fato se confirmou. Em agosto deste ano, o Palmeiras disputou a grande final do Campeonato Brasileiro sub-20 contra o Red Bull Bragantino. No jogo de ida, disputado no Estádio Cicero de Souza Marques, o Verdão buscou o empate em 1 a 1 após sair atrás no placar. Yuri Leles anotou para o Massa Bruta, enquanto Erick Belé, de cabeça, deixou tudo igual no marcador.
Já no duelo de volta, no Allianz Parque, as duas equipes não saíram do 0 a 0, e a decisão encaminhou-se novamente para os pênaltis – ferida aberta no Palmeiras devido ao vice na Libertadores sub-20. O trauma, porém, foi superado com muito trabalho. O elenco treinou duro e, desta vez, levou a melhor nas penalidades máximas.
“Nós sempre tentamos manter a cabeça no lugar. Quanto mais erramos, mais temos que trabalhar, com certeza. Quando saímos da Libertadores, nos pênaltis, vimos o quão importante é treinar pênaltis. E sempre treinamos, só que quando perdemos a Libertadores, quando saímos dali, passamos a treinar muito os pênaltis, em todos os treinos. Porque, querendo ou não, foi muito importante, que nem você viu agora, fomos campeões nos pênaltis. Você vê a importância de trabalhar isso”, avaliou o defensor.
Foi nos pênaltis, portanto, que o Palmeiras sagrou-se campeão do Campeonato Brasileiro sub-20. Os Crias da Academia ganharam por 4 a 3. Thalys, Coutinho e Marcio Vitor converteram, enquanto Riquelme Fillipi acertou a trave. O goleiro Aranha defendeu dois pênaltis.
Ficou sob os ombros de Robson a responsabilidade da cobrança que poderia decidir o título. Vestindo a braçadeira de capitão, o zagueiro caminhou lentamente até a marca da cal, pegou a bola e cobrou com segurança, forte e no meio do gol. Neste momento, um filme passou pela cabeça do atleta, que soube manter a cabeça no lugar mesmo em meio a um momento de tamanha pressão.
“Passou um filme na minha cabeça ali. Ter a oportunidade de estar decidindo esse momento foi muito importante para mim e para todos nós. A gente trabalha muito e não tem forma melhor de ter essa responsabilidade de bater o pênalti. Me senti muito feliz e muito orgulhoso”, enfatizou.
Robson em cobrança de pênalti decisiva na final do Brasileiro sub-20 (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras/by Canon)
A final do Campeonato Brasileiro sub-20 teve um torcedor especial presente em um dos camarotes do Allianz Parque. O técnico Abel Ferreira e seu auxiliar Vitor Castanheira assistiram à partida de volta da decisão.
Alguns jogadores do elenco sub-20 frequentemente treinam com o profissional e são utilizados pelo treinador. Thalys, vendido ao Almería recentemente, era um deles. Benedetti, Gilberto, Erick Belé, Luighi, Riquelme Fillipi e o próprio Robson também já tiveram oportunidades de trabalhar junto ao time de cima.
De acordo com Robson, Abel Ferreira não chegou a ter nenhuma conversa direta com o elenco sub-20 após a conquista do Brasileirão, mas o zagueiro espera que o desempenho da equipe tenha agradado o professor.
“Não, não, ele não teve nenhum contato não. Mas sobre ter gostado, tenho certeza que sim [risos]. [Sobre impressioná-lo], Aí não sei. A gente trabalha, dá o nosso melhor, e também o nosso foco total é no sub-20. Deixa isso aí com eles [risos]”, comentou.
Robson soma 38 jogos pelo Palmeiras (36 como titular) e um gol marcado nesta temporada. O zagueiro de 1,89m se destaca pela capacidade física e pela imposição, além, é claro, da qualidade técnica. Mas o zagueiro, ainda que muito novo, também tem uma característica que o diferencia de muitos jogadores: a liderança.
Mesmo com apenas 18 anos, Robson foi o capitão do Palmeiras sub-20 em diversas oportunidades na atual temporada. Sem Gilberto em campo, foi ele quem ‘assumiu a bronca’ de usar a braçadeira no jogo de volta da final do Brasileiro da categoria.
“Acho que esse papel de liderança vem muito de mim mesmo. De ser comunicativo, de falar com o pessoal, com os jogadores, estar atento, disposto. Toda hora que tiver que perguntar, eu pergunto. Estou sempre ali disposto, porque é o que tem que ser feito, o que tem que ser falado. Se eu precisar ajudar algum atleta, vou ali e corrijo. E assim vai”, contou em entrevista à Gazeta Esportiva.
Por trás do menino que se mostrou tranquilo e risonho durante os quase 20 minutos de papo, se esconde um grande líder. Robson revelou que, às vezes, também dá aquela bronca nos companheiros quando acredita ser necessário.
Robson, ao centro, com a braçadeira de capitão do Palmeiras (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras/by Canon)
“Ah, sim [se dá broncas]. Tem que ser um pouquinho chato, sim [risos]. De discussão, já tive com goleiro. Mas o que aconteceu no campo, fica no campo. Acho que é normal ter uma discussão ali dentro de campo, mas jamais podemos levar isso para fora [do gramado] e para dentro do vestiário. É manter a cabeça no lugar, sempre. Se tiver que cobrar ou se tiver que escutar, ambas as partes têm que abrir os ouvidos”, ponderou.
Apesar das pequenas turbulências dentro de campo, o clima no vestiário alviverde é leve. O dia a dia do grupo é intenso, mas recheado de amizada. Robson, por exemplo, é muito próximo de Gilberto, Riquelme Fillipi, Coutinho e Erick Belé – que hoje está treinando com o profissional.
“O dia a dia ali é muito importante. Você passar o dia com essas pessoas maravilhosas, esses grandes jogadores. Também é muito intenso”, afirmou.
“Todos são meus amigos, mas um dos mais próximos, que costumo resenhar no dia a dia e fazer academia junto, é o Gilberto. Ele é meu irmão, de verdade. É uma pessoa sensacional que Deus colocou na minha vida. Tem o Riquelme [Fillipi] também, o Coutinho, o Erick Belé, que está no profissional hoje. O Benedetti também esteve muito comigo, mas acabou indo para o profissional. Esses são os mais próximos mesmo; Também tive muito contato com o Thalys, Allan. Os meninos tudo [risos]. Mas o mais íntimo mesmo é o Gilberto”, concluiu o zagueiro.
O Palmeiras de Robson, agora, sonha com a conquista do Campeonato Paulista sub-20. Nesta sexta-feira, a partir das 15h (de Brasília), o Verdão vai em busca da classificação à terceira fase do Estadual, em casa, contra o Sertãozinho. O Alviverde venceu o jogo de ida, fora de casa, por 2 a 0.
“Estamos disputando o Paulista. Vamos tentar dar o nosso melhor para chegar na final de novo, ser campeão, mas passo a passo. Vamos mais uma vez em busca do título”, projetou Robson.
O Palmeiras vai atrás do seu 14º título do Paulista sub-20, tendo conquistado seis das últimas oito edições do torneio. Em 2023, as Crias da Academia sagraram-se campeãs ao baterem o São Paulo, vencendo os dois jogos da final.