Calciopédia
·10 de abril de 2020
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Uma expectativa gigante que nunca chegou perto de se concretizar. Assim pode ser resumida a passagem do atacante Darko Kovacevic pelo futebol italiano, no qual defendeu Juventus e Lazio. O sérvio teve bons momentos na carreira, principalmente com os gols marcados e os feitos obtidos pela Real Sociedad, mas faltou um pouco para que conseguisse entrar no time dos principais avantes de sua época.
Darko nasceu em Kovin, cidade sérvia da antiga Iugoslávia. O garotinho cresceu rápido, chegou a 1,87m de altura e foi jogar no ataque, já que era muito habilidoso nas jogadas aéreas e tinha um bom faro de gol. Mesmo com o tamanho avantajado, Kovacevic também se movimentava com destreza. Com isso, rapidamente foi notado pelo Radnicki Kovin, clube de sua cidade natal, no qual desenvolveu seu percurso nas categorias de base. Antes mesmo de estrear como profissional pelo time, o atacante foi negociado com o Proleter Zrenjanin, da primeira divisão iugoslava.
Rapidamente deu para perceber que Kovacevic seria um dos grandes atacantes da seleção da Iugoslávia. Com a camisa do Proleter, Darkogol foi lançado aos poucos na temporada 1992-93 e ganhou as manchetes na campanha seguinte, quando anotou 19 tentos e foi o vice-artilheiro do campeonato, atrás apenas de Savo Milosevic, do Partizan. Os dois seriam adversários sadios por toda a carreira.
Para o campeonato de 1994-95, o Estrela Vermelha escolheu Kova como o jogador capaz de fazer o time desbancar o seu grande rival, o Partizan, então bicampeão nacional. Darko encarava o seu primeiro grande desafio ao jogar num dos maiores clubes do país e não decepcionou: sua primeira temporada já foi um sucesso. Kovacevic foi abastecido por Dejan Petkovic, marcou 24 gols em 31 jogos e terminou como vice artilheiro, atrás de Milosevic (30). Porém, o principal objetivo, que era o título, foi conquistado – e, de quebra, o Estrela Vermelha também levou a copa.
Àquela altura, Kovacevic já era um jogador de seleção: recebera sua primeira convocação pela Iugoslávia no fim de 1994, aos 21 anos. Com tal status, Darko voou na primeira parte da temporada 1995-96, ao lado de Dejan Stankovic (considerado grande promessa da época), e anotou 13 tentos em 16 jogos do campeonato – além de participar da campanha do bicampeonato da copa. Darkogol, porém, não estava mais em seu país quando o Estrela Vermelha levantou a taça. Havia chamado a atenção de mercados centrais da Europa e foi adquirido pelo Sheffield Wednesday, da Premier League.
Numa das maiores ligas de futebol do mundo, seria a hora de Darko mostrar do que era capaz e passar de promessa de um mercado periférico a realidade na Inglaterra. Ele começou muito bem, marcando dois gols em uma vitória por 4 a 2 contra o Bolton, no terceiro jogo pelos Owls, e mais um em empate por 1 a 1 contra o Liverpool, no quarto.
Porém, a fonte secou. Kovacevic não conseguiu se impor, marcou apenas mais uma vez e terminou a temporada como reserva, sendo que o Sheffield Wednesday foi apenas o 15º colocado, com dois pontos acima da zona de rebaixamento. Em 2007, o jornal britânico The Times publicou uma reportagem sobre as 50 piores contratações da história da Premier League inglesa e Darko ficou na 10º posição.
Tentando voltar a ser aquele atacante do começo da carreira, Kovacevic aceitou uma proposta para ir jogar na Espanha no verão de 1996. O iugoslavo acertou com a Real Sociedad e reencontrou o seu futebol num time que ainda tinha Aitor López Rekarte, Javi de Pedro, Iñigo Idiakez, Dietmar Kühbauer, Gheorghe Craioveanu e Ricardo Sá Pinto. Depois de um primeiro ano de adaptação, no qual atuou mais como garçom, trabalhando muito para o time, e dividiu o comando do ataque com Craioveanu, Darkogol quebrou a banca em 1997-98 – uma temporada excelente para o esporte basco.
Naquele ano, o Athletic Bilbao foi vice-campeão espanhol, com 65 pontos, e a Real Sociedad veio logo atrás, com 63 – o Barcelona levou a Liga e o Real Madrid foi o quarto. Kova foi o grande nome da excelente campanha do time branco e azul, com 17 gols, e ficou entre os cinco maiores artilheiros do campeonato. Uma bela forma de se apresentar em definitivo ao mundo e ir para a Copa de 1998.
Contudo, Kovacevic tinha de dividir espaço com Milosevic no esquema conservador do técnico Slobodan Santrac e só fez duas partidas na competição. A forte Iugoslávia (que tinha ainda Stankovic, Sinisa Mihajlovic, Vladimir Jugovic, Dragan Stojkovic, Dejan Savicevic, Predrag Mijatovic e outros bons jogadores) caiu nas oitavas de final: vitória da Holanda por 2 a 1, com gol de Edgar Davids no apagar das luzes.
Depois de retornar do Mundial da França, Kovacevic manteve o alto nível na Real Sociedad e entregou 24 gols na temporada. Foram 16 na campanha do 10º lugar em La Liga e mais oito na Copa Uefa, competição da qual foi um dos artilheiros, mesmo que seu time tenha sido eliminado pelo Atlético de Madrid ainda na terceira fase – correspondente às oitavas de final. Os ótimos números no País Basco (53 tentos em 110 jogos) chamaram a atenção da Juventus: o atacante forte, veloz, goleador e hábil pelo alto era ideal para o futebol italiano. A Velha Senhora desembolsou 37 bilhões de velhas liras para conseguir ficar com o atacante.
Kova chegou para o lugar de Thierry Henry, que não foi bem em Turim, e tinha o objetivo de dar mais opções a um ataque que contava com Alessandro Del Piero e Filippo Inzaghi como protagonistas, além de Juan Esnáider e um baleado Daniel Fonseca como opções. Na avaliação do técnico Carlo Ancelotti, Darkogol seria reserva de Delpi e Pippo, o que acabou ocorrendo na Serie A. O sérvio atuou em 26 partidas da competição, mas foi titular em apenas três delas. Mesmo como arma de segundo tempo, teve participações regulares e cresceu em jogos grandes: marcou numa vitória contra o Milan e também anotou uma doppietta no triunfo por 2 a 1 sobre a Inter, em San Siro. Foram seis gols naquele campeonato.
O centroavante, porém, era o titular da Juventus na Copa Uefa. A Velha Senhora chegou à competição após vencer a Copa Intertoto e, uma vez que a equipe do Piemonte visava o título italiano (acabou sendo vice-campeã), Ancelotti promovia um rodízio no torneio continental. Assim, Kovacevic foi titular nas oito partidas da Juve na antecessora da Liga Europa e se saiu bem: com 10 gols marcados, se tornou o primeiro juventino a ser artilheiro do certame. A equipe, porém, acabou eliminada nas oitavas de final pelo Celta de Vigo.
Em 2000, Kova tinha uma Eurocopa para disputar. Apesar da boa temporada pela Juventus, o atacante tinha um rival em melhor momento: Milosevic era um dos principais atacantes do futebol espanhol, onde arrebentava pelo Zaragoza. Savo foi titular (e artilheiro da competição, com os mesmos cinco gols de Patrick Kluivert) e Darko só atuou em duas partidas, sem balançar as redes. A Iugoslávia voltaria a ser eliminada pela Holanda nas oitavas de finais, só que desta vez por um sonoro 6 a 1, em Roterdã.
Parecia que a maré estava virando negativamente para o jogador iugoslavo. Em 2000-01, a Juventus voltou ao mercado por um atacante: David Trezeguet. Entre Darkogol e Trezegol, Ancelotti preferia o francês. Mesmo com os 20 tentos anotados em 44 aparições em 1999-2000, Kovacevic perdeu espaço e virou quarta opção do ataque juventino. O sérvio iniciou apenas 10 jogos em toda a campanha e marcou seis vezes, sem fazer a diferença. A Velha Senhora voltou a ser vice-campeã italiana, mas deu vexame nas copas: foi eliminada nas oitavas de final da Coppa Italia, perdendo em casa para o Brescia, e foi lanterna de um grupo da Champions League que tinha Deportivo La Coruña, Panathinaikos e Hamburgo. Nem Zinédine Zidane dava jeito.
Procurando jogar mais, o sérvio tentou trocar de clube e chegou a ter propostas do Rangers, mas acabou sendo enviado para a Lazio numa negociação que levou Marcelo Salas a Turim. A troca deu errado para ambos os times: enquanto o chileno se machucou e só marcou quatro gols em dois anos de Juventus, Kovacevic entrou em campo pela equipe romana em apenas 11 oportunidades, sem encontrar o caminho das redes adversárias. Passando longe de impressionar, Darko caiu em descrédito com a torcida e o técnico Alberto Zaccheroni, o que foi suficiente para ser negociado já em janeiro de 2002.
Seu destino foi o clube que nunca desconfiaria de sua procedência: a Real Sociedad. O retorno a San Sebastián lhe permitiu reencontrar com os gols. Em 19 partidas de La Liga, o camisa 9 anotou oito vezes em 2001-02, mas o auge ocorreria no campeonato seguinte. A equipe de Raynald Denoueix era iluminada pela classe de Xabi Alonso e Valeri Karpin, e na frente a dupla com explosiva com Nihat devastava defesas. Darkogol marcou 20 gols, o turco fez 23 e a Real Sociedad fez uma campanha estrepitosa: foi vice-campeã, com 76 pontos; apenas dois a menos que o Real Madrid.
Aos 29 anos, Kova tinha atingido o seu auge como atleta. Dali para frente, continuou sendo importante para a Real Sociedad, mas a equipe de Anoeta perdeu o encanto e não repetiu as grandes campanhas. O sérvio reencontrou a Juventus na fase de grupos da Champions League de 2003-04 (os bascos cairiam para o Lyon, nas oitavas de final) e não passou de mais do que 10 tentos por temporada até 2006-07. Depois de anos de crise econômica e flertes com o descenso, a Real Sociedad acabaria rebaixada para a segunda divisão.
Beirando os 34 anos, Darko acabou deixando o time basco (até por conta de seu alto salário) para encerrar a carreira em outro lugar. Até hoje, com 107 gols em 284 aparições, Kovacevic é o sexto maior artilheiro dos txuri-urdinak. Àquela altura, perto de se aposentar, o atacante também já havia terminado sua trajetória pela seleção. Somando os serviços pela Iugoslávia e por Sérvia e Montenegro, foram 59 jogos e 10 gols, sempre à sombra de Milosevic.
Em 2007, Kovacevic foi se aventurar no Olympiacos e teve um impacto formidável no futebol grego. O sérvio chegou no time de Pireu, então bicampeão helênico, e adicionou mais cinco troféus ao currículo, entre Supercopa, Super Liga e Copa da Grécia. Além disso, foi eleito o melhor jogador estrangeiro da liga em 2007-08 graças a 17 gols e ao segundo posto na artilharia do campeonato, e ajudou os alvirrubros a disputarem as oitavas de final da Champions League. Acabaram eliminados pelo Chelsea.
Darkogol parou de jogar profissionalmente em maio de 2009. Meses antes, em janeiro, o sérvio foi submetido a uma cirurgia para corrigir um bloqueio numa das artérias do coração e foi aconselhado pelos médicos a encerrar a carreira. Entre clubes e seleção, Kovacevic realizou 614 partidas, com 240 gols marcados. Uma trajetória mais do que respeitável, mas que não atendeu às grandes expectativas iniciais – como ocorreu com muitos atletas oriundos de países da antiga Iugoslávia.
Aposentado, Darko retornou para a Espanha para ficar perto de seus filhos, Darko Junior e Stella. Porém, o amor pelo futebol e o apreço que desenvolveu pela Grécia falariam mais alto. Kovacevic voltou a Atenas com a família, de mala e cuia, para trabalhar como colunista e, em 2010, a convite do presidente do Olympiacos, Evangelos Marinakis, se tornou chefe dos olheiros do clube. Em seguida, assumiu o cargo de diretor esportivo da agremiação helenênica e o ocupou até 2018, quando foi contratado para exercer a mesma função na federação sérvia.
Depois de ser presença habitual na editoria de esportes da imprensa, Kovacevic apareceu nas páginas policiais no início de 2020. Como vítima: Darko foi alvo de um atentado quando saía de casa, em Atenas, e acabou baleado na perna. Poucos dias depois, o tabloide sérvio Telegraf publicou uma reportagem em que apontava o espanhol Raúl Bravo (ex-Real Madrid e ex-companheiro do atacante no Olympiacos) como mandante do crime. O lateral foi preso em 2019, acusado de pertencer a uma organização criminosa que manipulava resultados de partidas de futebol, e negou envolvimento com a tentativa de homicídio. A história está sob investigação e é mais misteriosa do que os motivos que levaram ao fracasso de Kova no futebol italiano.
Darko Kovacevic Nascimento: 18 de novembro de 1973, em Kovin, Sérvia Posição: atacante Clubes: Proleter Zrenjanin (1992-94), Estrela Vermelha (1994-96), Sheffield Wednesday (1996), Real Sociedad (1996-99 e 2002-2007), Juventus (1999-2001), Lazio (2001), Olympiacos (2007-2009) Títulos conquistados: Campeonato Iugoslavo (1995), Copa Iugoslava (1995 e 1996), Copa Intertoto (1999), Supercopa da Grécia (2007), Super Liga Grega (2008 e 2009) e Copa da Grécia (2008 e 2009) Seleção iugoslava: 51 jogos e 9 gols Seleção sérvio-montenegrina: 8 jogos e 1 gol
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