Trivela
·01 de novembro de 2022
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O Häcken possui uma história razoável no Campeonato Sueco, mesmo sem a tradição de outros vizinhos de Gotemburgo. O clube fundado em 1940 disputa a primeira divisão desde os anos 1980 e soma 21 aparições na elite. Porém, nada se compara à glória desfrutada nesta temporada: a equipe conquista pela primeira vez a Allsvenskan e de quebra encerra um jejum de 15 anos de sua cidade. Não foi uma campanha qualquer, seja pelas nuances ou pelas marcas. De ameaçado pelo rebaixamento em 2021, o time virou um repentino candidato à liderança na atual edição. Os aurinegros dominaram a primeira colocação desde o fim do primeiro turno, com a perseguição do Djurgardens. Todavia, tiveram mais fôlego na reta final e garantiram o troféu com uma rodada de antecedência, graças à goleada por 4 a 0 sobre o rival IFK Göteborg. Além da festa, uma boa grana deve entrar na conta, já que a equipe se assegura também nas preliminares da Champions League. Será uma experiência inédita para as Vespas no principal torneio continental.
O Häcken era um clube de projeção limitada durante os seus primórdios. A equipe começou a disputar as divisões de acesso na década de 1950, até alcançar a elite do Campeonato Sueco pela primeira vez em 1983. Seria uma efêmera passagem que durou apenas uma temporada. Somente a partir dos anos 1990 é que os acessos se tornaram mais frequentes e as Vespas viraram um ioiô entre as duas primeiras divisões. Uma estabilidade maior na elite aconteceu mesmo depois da virada do século.
Fato curioso, a primeira participação do Häcken num torneio continental não teve motivação estritamente esportiva. A Copa da Uefa costumava premiar vagas por Fair Play, a times com melhores índices disciplinares, e os aurinegros carimbaram o passaporte mesmo com o rebaixamento no Campeonato Sueco em 2006. Para um time da segunda divisão, não fizeram feio na Copa da Uefa de 2007/08: eliminaram KR e Dunfermline, até a queda para o Spartak Moscou. De qualquer maneira, é a partir de 2009 que as Vespas retornam à primeira divisão sueca para nunca mais cair. Passaram a fazer campanhas na parte superior da tabela e a se tornar frequentes na Liga Europa, mas sem nunca passar das fases preliminares.
O técnico Per-Mathias Högmo
Aos poucos, o Häcken pareceu amadurecer suas chances de título. O primeiro sinal veio em 2012, quando a equipe perdeu o Campeonato Sueco apenas dois pontos atrás do Elfsborg. O vice era um feito inédito. Já em 2016, as Vespas voltaram à final da Copa da Suécia após 26 anos e ergueram o troféu pela primeira vez, com vitória na decisão contra o Malmö. O sucesso se repetiu em 2019, em triunfo sobre o Eskilstuna. Um herói da torcida nesses tempos era brasileiro: o atacante Paulinho, artilheiro do Campeonato Sueco em 2018.
Mais recentemente, o Häcken seria vice-campeão da Copa da Suécia em 2021, derrotado pelo Hammarby na final. Porém, os aurinegros fizeram um Campeonato Sueco claudicante naquele mesmo ano e brigaram para não cair. Terminaram no 12° lugar, sua pior colocação desde aquele retorno à elite em 2009, somente quatro pontos acima da zona de rebaixamento. Não existiam muitos indícios de que as Vespas se candidatariam ao troféu da Allsvenskan em 2022. Mas isso aconteceu, por méritos próprios e também pela queda significativa do bicampeão Malmö, que abriu espaço a outros concorrentes.
O Hammarby começou o Campeonato Sueco de 2022 na liderança, mas logo o Häcken se colocou como um adversário. Os aurinegros assumiram a ponta no fim do primeiro turno e chegaram a sustentar uma invencibilidade de 12 partidas. Quando o time perdeu, foi para o Djurgardens, que tomou o topo e se apresentou como principal ameaça. A partir de então, as Vespas não perderam mais e retomaram a primeira posição com uma série de quatro vitórias. Em setembro, houve um período instável no meio do segundo turno, com quatro empates consecutivos que entregaram a liderança de novo ao Djurgardens. Até que viesse o confronto direto.
O Djurgardens tinha a vantagem de atuar em casa para tentar ampliar a liderança. Perdeu por 1 a 0, em resultado que recolocou o Häcken no primeiro lugar. Desde então, as Vespas acumularam somente vitórias e contaram com novo tropeço dos concorrentes, que dividem suas atenções com a fase de grupos da Conference. O mais chamativo nessa arrancada decisiva do Häcken está no peso dos adversários: derrotaram AIK e Malmö, até a partida contra o IFK Göteborg no último final de semana. O título seria conquistado justamente diante do principal clube de Gotemburgo, com uma goleada por 4 a 0 no Estádio Gamla Ullevi, incluindo três gols no primeiro tempo. Foi incontestável.
O feito do Häcken é bastante simbólico neste sentido. Gotemburgo é a cidade com mais títulos na história do Campeonato Sueco, 36 no total, 11 a mais que Estocolmo e 14 à frente de Malmö. Também é a cidade com mais clubes campeões, cinco no total. O problema é que esses troféus estão bastante empoeirados. Örgryte, GAIS e Göteborgs IF não são campeões desde o século passado. Já o IFK Göteborg, por mais que seja o segundo maior vencedor do Allsvenskan, com 18 taças, só faturou uma neste século – e há 15 anos, em 2007.
O título inédito do Häcken possui um nome de peso na casamata. Per-Mathias Högmo possui uma carreira notável como treinador em clubes da Noruega, sobretudo no Tromso. O norueguês dirigiu as seleções de base em seu país, bem como as equipes principais no masculino e no feminino. Foi com as mulheres que atingiu seu maior sucesso, dono do ouro olímpico em Sydney-2000. Entretanto, viveu um período de baixa à frente dos homens entre 2013 e 2016, num trabalho que rendeu críticas mesmo que promovesse as estreias de promessas como Martin Odegaard e Alexander Sörloth. Mais recentemente, o veterano de 62 anos coordenava a base da federação norueguesa, até aceitar o convite do Häcken em junho de 2021, quando o time estava na lanterna da Allsvenskan após oito rodadas. Desde então, alavancou o desempenho e atingiu patamares inéditos. Esse é o seu primeiro título à frente de um clube, o que não havia conseguido mesmo passando por forças como o Rosenborg e o Djurgardens.
Já dentro de campo, a sensação do Häcken é o atacante Alexander Jeremejeff. O camisa 9 teve outras passagens pelos aurinegros, assim como já defendeu clubes como o Malmö, o Twente e o Dynamo Dresden. Mesmo assim, o jogador de 29 anos nunca tinha feito uma temporada tão brilhante como a atual. São 22 gols do sueco em 26 aparições na Allsvenskan, artilheiro da competição. Outra figura importante é o meio-campista Mikkel Rygaard, que marcou dois gols e deu uma assistência no jogo do título. A faixa central também chama atenção pela presença dos gêmeos Simon e Samuel Gustafson, este dono da braçadeira de capitão. Mas não é um elenco recheado mesmo para os padrões suecos. O único jogador com mais rodagem por uma seleção é o zagueiro Even Hovland, de 29 aparições pela Noruega, mas longe das convocações desde 2020.
O Häcken vai para a rodada final do Campeonato Sueco com 63 pontos, nove a mais que o Djurgardens, que ainda tem uma partida a menos. Nada que permita a ultrapassagem. O destaque fica para o rendimento ofensivo dos aurinegros, com 66 gols anotados, o melhor ataque da competição. Por todas as circunstâncias, o título das Vespas parece um ponto fora da curva. Mas é um momento inesquecível que sua diminuta torcida, com média de 4,6 mil espectadores por jogo na temporada, certamente vai aproveitar. O final de 2022 será saboroso, enquanto 2023 ainda reservará a Champions. A equipe começará na primeira fase preliminar, mas só por isso já ganha um atalho para se classificar pelo menos à fase de grupos da Conference. Seria outro patamar inédito para a agremiação.
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