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·01 de outubro de 2025
De Laurentiis, Conte e uma mudança de mentalidade: «Chegada de De Bruyne só se compara com Maradona»

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·01 de outubro de 2025
No sopé do Vesúvio, o azul do Napoli está mais vivo do que nunca. As ruas continuam a exibir murais de Diego Maradona, santo e herói de uma cidade que respira futebol a cada esquina. Mas o presente já não vive só de memórias: o campeão voltou, renovado e mais ambicioso do que nunca, com Antonio Conte ao leme, às costas de McTominay e com um novo maestro: Kevin De Bruyne.
«É uma cidade que vive do futebol», resume Vincenzo, jornalista italiano da Sportitalia a quem o zerozero recorreu para compreender melhor o contexto atual do Napoli, clube que o mesmo acompanha de perto. Uma coisa é clara e evidente: esta equipa deixou para trás o rótulo de surpresa e assumiu-se como candidata natural a vencer.
Se em 2023 o Scudetto foi uma explosão de libertação após décadas de espera, hoje a ambição é maior. O desafio é continuar no topo e começar a sonhar na Europa.
A chegada de Antonio Conte trouxe uma transformação profunda. «O projeto de Conte começa no ano passado», explica o jornalista. «O Napoli do ano passado era um Napoli que pensava muito mais em estar compacto na fase defensiva. Ganhou o Scudetto porque teve uma defesa muito coesa e segura.»
Agora, o treinador italiano quer mais. «Hoje existe um projeto Conte 2.0, com muito mais ambição. O Napoli é uma equipa muito mais curta no campo, normalmente em 22 ou 23 metros e toca muito mais a bola.»
O ajuste não é apenas tático - é mental. Conte trabalha para moldar uma equipa que jogue sob pressão, que saiba controlar os jogos e que mantenha a fome de vitória depois de já ter saboreado a glória.
Este novo Napoli é um misto de solidez e ousadia, capaz de se fechar como uma muralha, mas também de atacar com uma imprevisibilidade que obriga qualquer adversário a respeitar o Stadio Diego Armando Maradona.
O Napoli deixou de ser um clube que apenas «reage» ao mercado. Hoje, também consegue ser protagonista. «Quando compras alguém como Kevin De Bruyne, é claro que o nível técnico da tua equipa sobe de maneira substancial», sublinha Vincenzo. A chegada do belga foi o «murro na mesa» que transformou a equipa e agitou toda a Serie A.
«A imagem só pode ser comparada com a chegada de Maradona», reflete o jornalista. «Maradona chegou mais jovem, claro, mas De Bruyne chegou aos 34 anos, ainda em grande forma. É um reforço de peso e significa que o Napoli é hoje um clube capaz de atrair este tipo de estrelas.»
Mas o projeto não vive apenas de um nome. O investimento em Rasmus Hojlund, por 50 milhões de euros, por exemplo, foi outra declaração de intenções. «Pagar esse valor por um avançado ainda em crescimento mostra o quão ambicioso o clube é. Hoje, o Napoli já não se limita a sonhar, planeia o seu futuro.»
Será o Napoli o favorito ao título? A resposta é prudente: «Tem mais probabilidades do que no ano passado, seguramente. Mas, para mim, o Inter continua a ser um pouco mais forte no papel.» Ainda assim, a pressão existe - mesmo que ninguém a assuma.
«No balneário talvez se fale de Scudetto, mas Conte é muito bom a criar inimigos e a transformar isso em motivação. Ele consegue compactar o grupo e dar confiança aos jogadores. Vão dizer que vencer o campeonato é uma honra, mas nunca uma obrigação», sublinha o jornalista.
A cidade, por sua vez, vibra com esta nova era: «É uma cidade que vive para o futebol. Cada vitória é celebrada como um triunfo coletivo, cada derrota sentida como um drama pessoal», atirou.
Nenhuma história recente do Napoli pode ser contada sem Aurelio De Laurentiis. «É o homem que mudou tudo», garante Vincenzo. Durante anos, o presidente foi acusado de pensar apenas no lado financeiro do clube, mas a viragem foi clara: começou a investir e trouxe o Napoli de volta ao topo.
«Hoje, tem o seu lugar na história, ao nível de Corrado Ferlaino, o presidente que levou Maradona para Nápoles», acrescenta. Figura polémica, apaixonada, teatral, De Laurentiis é presença constante - dentro e fora do relvado.
«Ele vem da área do cinema, tem sentido de espetáculo e teatralidade. Sabe quando deve criar barulho e quando deve unir toda a gente.»
Uma coisa é certa: mais do que títulos, devolveu identidade ao clube. E fez questão de voltar a fazer do Napoli um símbolo de orgulho para toda a cidade.
«Se De Laurentiis caminha pelas ruas, não está a caminhar apenas um homem. Está a caminhar o presidente do clube que representa toda a região», nota Vincenzo. Uma essa relação única entre as grandes cidades italianas: Nápoles é a única que tem um só clube.
«Ganhar algo no desporto significa para os cidadãos ganhar algo na vida. É uma espécie de vingança social.»
As contradições e injustiças da cidade são dissolvidas no azul do Napoli. O futebol torna-se uma afirmação de identidade, de pertença, de resistência. E, esta quarta-feira, quando o Sporting entrar em campo, não vai enfrentar apenas 11 jogadores. Serão mais de 70 mil a empurrar o clube azzurri para a frente.