«Deixam o carro e o ar condicionado ligados todo o dia para estar fresco quando voltam» | OneFootball

O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, a partir de agora pode também ler excertos das conversas no nosso portal.

Atualmente com 28 anos, André Moreira encontrou estabilidade na Arábia Saudita. Chegado ao Al Raed há cerca de um ano, o guarda-redes despediu-se de 2023/24 com 30 jogos disputados. Já completamente adaptado ao Médio Oriente, o internacional jovem por Portugal não esconde que teve um choque de realidade nos primeiros meses na Arábia.

«Ter noção que a realidade e a cultura são completamente diferentes é o ponto chave da adaptação. A forma como eles vivem a vida influencia questões como o profissionalismo e a disciplina no futebol. Nos dois/três primeiros meses custou-me bastante em termos de adaptação. Por exemplo, na Europa é normal treinarmos de manhã; lá não treinei uma única vez de manhã. Ou seja, passei a fazer a minha vida muito mais de noite», começou por dizer André Moreira, que foi ainda mais longe para exemplificar esta realidade:

«Tanto na minha cidade, que pode ser considerada 'fraca', como nas cidades maiores, é facilmente percetível que o valor que eles dão ao dinheiro não é o mesmo que nós damos cá. Isso vem do facto de eles terem acesso a uma quantidade de dinheiro que nós não temos cá. Para atestar o depósito do meu carro lá eu gasto 17/20 euros, enquanto aqui ficaria por volta dos 100 euros. Quando cheguei lá, disseram-me que o gasóleo tinha aumentado um pouco e que era por isso que, quando iam trabalhar de manhã, tinham passado a desligar os carros.

Eu fique um pouco confuso porque me parecia óbvio que as pessoas desligassem os carros quando vão trabalhar. Mas explicaram-me «Não, aqui é normal irmos trabalhar de manhã e deixarmos o carro e o ar condicionados ligados para termos tudo fresco quando saímos ao fim da tarde». Penso que esta história mostra o quão diferentes são as realidades em que estamos inseridos.»

Apesar de o Al Raed não estar no topo da pirâmide do futebol saudita, o guardião mostrou-se bastante satisfeito com as condições que encontrou. «O Al-Hilal, o Al Nassr, o Al-Ahli, o Al-Itthiad, o Al-Ettifaq e o Al-Shabab são as equipas que têm maior estrutura e organização, até porque são as que têm mais meios financeiros. No entanto, tal como conto a toda a gente com quem falo, não esperava encontrar condições tão aceitáveis como encontrei. Para além disso, todos os clubes da 1ª Liga têm condições bastante razoáveis.

Em termos de comparação, tenho melhores condições no Al-Raed do que aquelas que alguma vez tive no Belenenses. O clube surpreendeu-me muito, não estava à espera das condições 'físicas' que tinha e tenho. É claro que na 2ª Liga as condições não são idênticas, mas, olhando para o meu caso em específico, fiquei positivamente surpreendido», rematou.

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