Derrubando gigantes, o Aberdeen de Alex Ferguson levava caneco da Recopa à Escócia há 40 anos | OneFootball

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·11 de maio de 2023

Derrubando gigantes, o Aberdeen de Alex Ferguson levava caneco da Recopa à Escócia há 40 anos

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Bem antes de tirar o Manchester United da fila e transformá-lo num papa-títulos na Inglaterra e na Europa a partir dos anos 1990, o técnico Alex Ferguson já fora o responsável por alavancar o Aberdeen ao status de força emergente do futebol escocês. E o ápice daquela era de ouro veio em 11 de maio de 1983 com a conquista da Recopa, desbancando potências como o Bayern de Munique e o Real Madrid no caminho para levar a Escócia ao seu terceiro – e até agora último – troféu continental, após as vitórias do Rangers na mesma competição em 1972 e do Celtic na Copa dos Campeões em 1967. Um feito histórico.


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Um clube em ascensão

Estabelecida praticamente desde a criação da liga profissional na Escócia, a hegemonia de Celtic e Rangers – detentores de 107 dos 125 títulos – poucas vezes foi colocada à prova ao longo de mais de um século de competição. Um desses momentos, porém, foi tão marcante que chegou a fazer com que a disputa entre os dois novos postulantes ao patamar mais alto do futebol do país, Aberdeen e Dundee United, ganhasse o apelido de “The New Firm”, em contraste com a “Old Firm” entre os dois velhos e poderosos rivais de Glasgow.

Mas se, em meados dos anos 1970, alguém decidisse apostar em quais clubes seriam as potências ascendentes do país a partir da virada da década seguinte, era pouco provável que escolhesse os dois: na temporada 1975/76, marcada pela criação da Scottish Premier Division, reduzindo o número de clubes na elite escocesa de 18 para dez, Aberdeen e Dundee United escaparam do rebaixamento pelo saldo de gols – o “condenado”, somando os mesmos 32 pontos da dupla, foi o Dundee FC, que caiu junto com o lanterna St. Johnstone.

No caso do Aberdeen, a virada iniciada nos últimos anos da década teve a contribuição de vários fatores. Um deles era econômico: famosa pela extração de granito, a terceira cidade da Escócia passou a receber investimentos maciços na virada dos anos 1960 para os 1970 assim que foi tida como viável a exploração de petróleo e gás no Mar do Norte, pelo qual é banhada. O primeiro campo foi descoberto em 1970. Cinco anos depois, toda a estrutura da indústria petrolífera já estava instalada na cidade e era hora de colher os frutos.

Com a economia local aquecida, o clube de futebol da cidade decidiu investir em estrutura, com a reforma do estádio de Pittodrie ao custo de £1,5 milhão transformando-o, a partir de 1978, em “all-seater”, isto é, com cadeiras em todos os setores – um dos primeiros do Reino Unido, mais de uma década antes de se tornar uma obrigatoriedade preconizada pelo Relatório Taylor. Outra revolução viria após a saída do técnico Billy McNeill (que dirigiu o time em 1977/78), quando este aceitou proposta para voltar ao Celtic, onde havia sido capitão.

O novo comandante escolhido seria um certo Alex Ferguson (na época ainda chamado de “Alec”), ex-atacante que chegara a ser artilheiro da primeira divisão em 1965/66 pelo Dunfermline e logo defenderia rapidamente o Rangers e a seleção. Ferguson, então com 36 anos, vinha de um ótimo trabalho de recuperação do St. Mirren: o clube de Paisley, que até 1970/71 só havia disputado duas temporadas fora da elite, vivia seu pior momento ao amargar seis anos no limbo da segunda divisão, até o treinador levá-lo a um novo acesso em 1977.

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Alex Ferguson e seu auxiliar Archie Knox celebram a conquista

O começo de Ferguson em Pittodrie, porém, esteve longe de ser um mar de rosas. Na primeira temporada sob seu comando, 1978/79, a equipe obteve resultados inferiores aos da campanha anterior pelas mãos de Billy McNeill. E o começo da campanha da liga em 1979/80 foi bastante irregular, o que provocou desconfiança – inclusive dentro do elenco – sobre se o novo treinador teria a tarimba necessária para comandar uma equipe daquela estatura. Porém, uma sequência espetacular a partir de março de 1980 levaria os Dons ao título.

Era uma conquista histórica sob muitos aspectos: o Aberdeen, que em certa altura chegou a estar dez pontos atrás do Celtic, tornara-se o primeiro clube a quebrar o duopólio dos gigantes de Glasgow desde a conquista do Kilmarnock, em 1965. Era também o fim do jejum de 25 anos dos próprios Dons na liga, a qual o clube só vencera uma vez até ali, em 1955. No elenco, três jogadores que estiveram na Copa de 1978 com a Escócia: o goleiro Bobby Clark, o lateral Stuart Kennedy e o atacante Joe Harper. Mas a base olhava para o futuro.

O grupo de 22 jogadores que participaram da campanha vitoriosa na liga já reunia uma dúzia de nomes que dentro de três anos tomariam parte de outra jornada gloriosa, desta vez na Recopa. Na temporada seguinte, o clube disputaria pela primeira vez a Copa dos Campeões e estrearia bem, eliminando o Austria Viena. Porém, na fase seguinte, não seria páreo para o forte Liverpool, que avançou com um tranquilo 5 a 0 no agregado. Na temporada seguinte, disputando a Copa da Uefa, o clube pela primeira vez superaria dois mata-matas seguidos.

O primeiro deles chamou atenção na Europa, uma vez que o clube havia eliminado nada menos que o detentor do título do torneio, o Ipswich Town de Bobby Robson, superado com um empate em 1 a 1 em Portman Road e uma vitória por 3 a 1 em Pittodrie. A seguir, os Dons despachariam sem maiores dificuldades os romenos do Argeş Piteşti, antes de caírem nas oitavas de final para o Hamburgo de Ernst Happel, futuro finalista daquela edição, tendo vencido o primeiro jogo em casa por 3 a 2 e perdido o da volta no Volksparkstadion por 3 a 1.

Era um bom aquecimento para aquela que seria a mais marcante campanha europeia do clube em sua história. E que teria seu ponto de partida no dia 22 de maio de 1982, com a conquista da FA Cup escocesa após uma brilhante goleada de 4 a 1 sobre o Rangers, de virada e na prorrogação, no campo neutro do Hampden Park. Era a primeira conquista dos Dons no torneio desde 1970 e indicava também que o título da liga não fora mera casualidade e que o clube contava sim com uma boa safra de talentos nas mãos de um treinador competente.

O elenco

O grupo de jogadores que participaria da campanha da Recopa contava com 17 jogadores – três dos quais atuaram apenas uma ou duas vezes. De modo que havia um núcleo de 14 atletas mais utilizados formando a base da equipe. Dentro desse coletivo havia uma espinha dorsal que atuou em todas as 11 partidas do time na competição europeia formada pelo goleiro Jim Leighton, pelo zagueiro Willie Miller, pelo volante Neil Simpson e pelo atacante Mark McGhee. Taticamente, o desenho era um 4-3-3 bastante típico do futebol escocês do período.

Esse sistema trazia diferenças sutis em relação ao tradicional 4-4-2 com duas linhas de quatro majoritariamente adotado pelos vizinhos ingleses. Nele, além de um dos zagueiros ser destacado para jogar na sobra, havia o deslocamento dos meias de lado do esquema com quatro homens no setor: um deles (em geral, o da direita) convergia por dentro como armador e abria o corredor para a passagem do lateral, enquanto o do outro lado atuava bem aberto e avançado como um verdadeiro ponta, somando-se aos outros dois atacantes.

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Time do Aberdeen no álbum do Campeonato Escocês 1982-83

O time começava com um nome certo sob as traves: o sóbrio Jim Leighton, que chegara ao clube em 1977 e se tornara o titular na temporada 1980/81 quando o veterano Bobby Clark se lesionou. Ágil e com excelente senso de posicionamento, Leighton fez parte do elenco da seleção escocesa na Copa do Mundo de 1982, mas só estreou pelo Tartan Army em outubro daquele ano, durante aquela temporada 1982/83. Ali virou titular da equipe nacional, mantendo-se no posto pelas Copas de 1986 e 1990 (mais tarde, também o seria na de 1998).

Na lateral-direita, o dono da posição era o mesmo Stuart Kennedy do time campeão escocês de 1980. Jogador veloz, ofensivo e de muito fôlego na recomposição, chegara ao clube em 1976, vindo do Falkirk, e disputara a Copa de 1978 pela Escócia como atleta dos Dons. Na campanha da Recopa, Kennedy era, aos 29 anos, o jogador mais veterano do elenco e ficaria de fora de apenas uma das 11 partidas: justamente a final contra o Real Madrid, para a qual seria o grande desfalque da equipe, tornando necessário um complexo remanejamento no setor.

A lateral-esquerda era disputada por dois jogadores de grande versatilidade. Um deles era Doug Rougvie – que viria a substituir Kennedy na direita na decisão. Defensor alto (1,87 metro), viril e muito querido pela torcida, chegara ao clube em 1972, aos 16 anos, mas só se firmara a partir de 1978. Era capaz de jogar na zaga, nas duas laterais e de volante. O outro era John McMaster, meia de origem, de boa técnica e chute poderoso de pé esquerdo, que passara para a lateral ao voltar de séria lesão sofrida em 1980 que o deixou de fora por um ano.

Um dos pontos altos da equipe – talvez o maior – era sólida parceria na zaga entre Willie Miller e Alex McLeish, ambos convocados pela Escócia para a Copa de 1982. Capitão do time desde 1975, mesma época em que estreou pelo Tartan Army, Miller já caminhava para se tornar uma lenda do clube, o único que defenderia na carreira de 19 anos como profissional, exceto por um rápido empréstimo ao pequeno Peterhead assim que chegou. Jogava mais na sobra, enquanto McLeish (que chegara ao clube como meia) atuava mais no combate direto.

No meio-campo era onde a equipe rejuvenescia: um dos pilares do setor e do time era o volante Neil Simpson, que completaria 21 anos durante a campanha. Trazido de uma equipe juvenil em 1978, era o jogador de força no meio-campo, mas que também aparecia com frequência na frente marcando gols e dando assistências. Outro jogador do mesmo estilo tenaz e dinâmico era Neale Cooper, ainda mais jovem (fez 19 anos em novembro de 1982), revelado no clube e nascido na Índia, mas que vinha em ascensão nas seleções escocesas de base.

Os jogadores mais habilidosos do setor eram também os mais veteranos – mas não muito: Doug Bell, 23 anos, veio do St. Mirren em 1978 e chamava a atenção por seu controle de bola, visão de jogo e agilidade. A exemplo de Stuart Kennedy, no entanto, ficaria de fora da final. Mas a tarefa de armar o time também era cumprida muito bem por Gordon Strachan, meia-direita trazido do Dundee FC em 1977, jogador inteligente, criativo, então um dos maiores talentos em atividade no país e que também estivera na Copa do Mundo de 1982.

O trio de frente trazia dois nomes mais estabelecidos, Mark McGhee e o ponta-esquerda Peter Weir (ambos de 25 anos), sendo a outra vaga disputada pelos novatos Eric Black (19 anos) e John Hewitt (20 anos), ambos formados no clube. Revelado pelo Greenock Morton, McGhee era o único jogador do time oriundo do futebol inglês, contratado do Newcastle em 1979. Weir, por sua vez, viera do St. Mirren em 1981 com o status de reforço mais caro do clube. Ponta habilidoso, era o encarregado das jogadas de bola parada.

O torneio

Ao longo de suas quase quatro décadas de disputa, a Recopa se acostumou a ser considerada a competição de nível técnico mais questionável entre as de clubes da Uefa. Principalmente porque os vencedores de copas nacionais podiam ser equipes de menor peso, tradição, que ocupavam posições mais baixas nas ligas nacionais ou até divisões inferiores (era o único torneio continental europeu que permitia isso). Além disso, em caso de dobradinha de um clube em seu país, a vaga na Recopa ficava com o vice-campeão da copa nacional.

Não foi, no entanto, o caso daquela edição 1982/83, repleta de camisas pesadas do continente. Para começar, havia nada menos que a dupla de gigantes espanhóis Barcelona e Real Madrid. O primeiro, atual campeão do torneio, contava agora com o reforço de Diego Maradona vestindo a camisa 10. O segundo, detentor da Copa do Rei, era dirigido por Alfredo Di Stéfano, que já havia levantado o troféu continental com o Valencia em 1980, além de reunir um punhado de nomes emblemáticos da história merengue naquele período.

Outro gigante que buscava reconquistar o título (já levantado em 1967) e, para isso, contava com nomes de primeira linha do futebol europeu e mundial da época era o Bayern de Munique, do meia-atacante Karl-Heinz Rummenigge e do veterano Paul Breitner. A Itália, por sua vez, mandava a Internazionale e seus seis campeões mundiais com a Azzurra no recém-encerrado Mundial da Espanha. A Inter, a exemplo do Real Madrid, tinha uma motivação a mais para buscar o caneco: nunca havia conquistado a Recopa em sua história.

Pelas Ilhas Britânicas, a Inglaterra era representada pelo Tottenham, campeão das duas últimas edições da FA Cup e que fora o primeiro clube do país a vencer uma taça europeia justamente com a Recopa, exatos 20 anos antes. Além disso, o Swansea City – que vinha de uma histórica campanha de estreia na primeira divisão inglesa, a qual chegou a liderar a classificação antes de terminar num ótimo sexto lugar – também participaria como representante do País de Gales (uma exclusividade da Recopa) por ter vencido a copa galesa.

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Willie Miller troca flâmulas com o capitão do Sion na fase preliminar

Já a bandeira da França era carregada pelo Paris Saint-Germain, que, embora novato em termos de torneios continentais, vinha de vencer a Copa da França e reunia um elenco de respeito, com nomes dos Bleus como o meia-armador Dominique Bathenay e o atacante Dominique Rocheteau, somados a astros estrangeiros como o argentino Osvaldo Ardiles (emprestado pelo Tottenham). Como se não bastasse, havia ainda uma miríade de clubes gigantes em seus países e/ou que já haviam marcado seu nome em torneios europeus.

Com relação à própria Recopa, eram os casos do Slovan Bratislava (campeão em 1968 derrotando o Barcelona) e do Austria Viena (finalista em 1978). O IFK Gotemburgo, campeão da Copa da Uefa na temporada anterior, era o representante sueco, e o AZ ’67, vice no mesmo torneio um ano antes, era o da Holanda. Além disso, times como o Panathinaikos (finalista da Copa dos Campeões em 1971), o Estrela Vermelha, o Újpest, o Galatasaray, o Dynamo Dresden e o Torpedo Moscou eram sempre capazes de aprontarem zebras.

Como se não bastasse a força dos concorrentes, o Aberdeen teria de superar um obstáculo a mais: com 34 equipes inscritas no torneio, foi necessário criar uma etapa eliminatória preliminar com quatro times para que dois fossem eliminados. E o sorteio colocou os escoceses como um desses quatro. O adversário seria o Sion, força apenas intermediária do futebol suíço que na época ainda não havia vencido a liga de seu país, mas já se estabilizara como clube de primeira divisão e chegara a seu quarto título na Copa da Suíça em 1982.

O início da campanha

O elenco do Sion era modesto e de pouca experiência internacional: o único nome a chamar a atenção (mais pelo futuro do que pelo presente) era o volante Georges Bregy, que jogaria a Copa de 1994 como titular da Suíça. Diante disso, na partida de ida o Aberdeen contava com uma vitória em casa que proporcionasse certa tranquilidade para a volta. No entanto, nem o mais otimista dos torcedores dos Dons poderia prever o massacre aplicado pelo time de Alex Ferguson naquela noite de 18 de agosto de 1982 em seu estádio de Pittodrie.

O primeiro gol, marcado de cabeça por Eric Black, sairia logo aos dois minutos, nascido de um tiro livre indireto marcado pelo árbitro por sobrepasso do goleiro Pierre Pittier. Mais tarde, Strachan e Hewitt balançariam as redes quase em sequência, aos 21 e aos 23. E Simpson faria o quarto aos 34. Depois do intervalo, a surra continuou com um gol contra de Alain Balet pouco depois dos 10 minutos. McGhee ampliou, concluindo um bate-rebate na área após escanteio aos 18. E o lateral Kennedy deixou o seu aos 37, fechando a goleada em 7 a 0.

Com a vitória por esse placar, a volta no Stade de Turbillon seria meramente protocolar. Mesmo assim, o Aberdeen ainda retornaria com outra goleada na bagagem, conduzido em campo pela criatividade de Gordon Strachan. No primeiro tempo, Hewitt abriu o placar e Bregy empatou de imediato para o Sion. Mas na etapa final, um gol de cabeça de Miller e outros dois de McGhee fechariam a vitória de 4 a 1 – que poderia ser maior: a linha de impedimento feita pela defesa suíça levou à anulação de outros quatro gols escoceses.

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Neil Simpson afasta um lance pelo alto contra o Dinamo Tirana em Pittodrie

O adversário seguinte, já definido no primeiro sorteio, seria o Dínamo Tirana, da Albânia, país na época tido como o mais fechado e “misterioso” da Europa. No elenco, alguns nomes da seleção que, embora figurando nos últimos escalões do continente, andou vendendo caro os resultados no Grupo 6 das Eliminatórias da Eurocopa de 1984. Além deles, o que se tornaria mais conhecido seria o meia Sulejman Demollari, que na década seguinte chegaria a se tornar o jogador com mais partidas pela equipe nacional na história dos Águias.

Mais uma vez a inversão de expectativas marcaria o confronto. Se contra o Sion o que o Aberdeen desejava era uma vitória administrável em casa no primeiro jogo e acabou obtendo uma goleada avassaladora, o que se falava contra o Dinamo Tirana era numa vitória tranquila, por pelo menos três gols de diferença na ida, novamente disputada em Pittodrie. Mas a prática, porém, trouxe certa frustração: apesar da intensa pressão, tudo o que o time conseguiu foi um magro triunfo por 1 a 0, graças a um gol de Hewitt aos oito minutos.

O resultado provocou certa apreensão para a volta, em 29 de setembro. Porém, após atravessar a Cortina de Ferro, o Aberdeen soube resistir ao calor da tarde de Tirana e à pressão da torcida local para segurar o empate em 0 a 0 e voltar à Escócia com a classificação para as oitavas de final. Nesta fase, o oponente seria o Lech Poznań, que vivia então os primeiros anos de sua era de ouro: a Copa da Polônia de 1982 havia sido sua primeira conquista na história. E naquela temporada 1982/83, ele levantaria pela primeira vez a liga polonesa.

Os nomes de maior destaque do Lech eram o meia Janusz Kupcewicz (titular da Polônia terceira colocada na recém-encerrada Copa do Mundo), o defensor Krzysztof Pawlak (que jogaria a Copa seguinte) e o goleador Mirosław Okoński. Mas com o primeiro fora de forma, o goleiro Zbigniew Pleśnierowicz se transformaria na principal figura dos poloneses ao impedir placar mais dilatado em favor do Aberdeen, que venceu por 2 a 0 com um gol de cabeça de McGhee e outro de Weir, escorando um cruzamento de Strachan da direita.

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Willie Miller troca flâmulas com o capitão do Lech Poznan

Na véspera do jogo de ida, o técnico Alex Ferguson dizia à imprensa que o time precisava de “um toque de arrogância” necessário para se impor em campo: “Temos que passar aos jogadores que eles são bons o suficiente para encarar qualquer um nessa competição. Suas performances nos últimos anos os permitem pensar assim”. Por outro lado, o treinador lembrava que a equipe não poderia se permitir cometer os mesmos erros defensivos inexplicáveis que na temporada anterior levaram à eliminação para o Hamburgo na Copa da Uefa.

O recado foi ouvido: com outra atuação sólida, o Aberdeen venceu também na volta, em Poznań. Aos 14 minutos do segundo tempo, Weir bateu escanteio, McGhee desviou na primeira trave e Bell, quase em cima da linha, só conferiu e decretou o triunfo por 1 a 0. Pela primeira vez em 12 participações continentais, o Aberdeen alcançava a fase de quartas de final de uma copa europeia. A campanha até ali era consistente: cinco vitórias, um empate, só um gol sofrido. Mas agora eram grandes as chances de se cruzar com um peso-pesado.

O primeiro gigante no caminho

O sorteio das quartas de final colocaria frente a frente o Real Madrid (que despachara os romenos do Baia Mare e os húngaros do Újpest) contra a Internazionale (que passara pelo Slovan Bratislava e pelo AZ ’67); o Barcelona (que deixara pelo caminho o Apollon Limassol e o Estrela Vermelha) enfrentando o Austria Viena (que eliminara Panathinaikos e Galatasaray); e o Paris Saint Germain (que havia tirado Lokomotiv Sofia e Swansea) medindo forças com o Waterschei (que superou os luxemburgueses do Red Boys e os dinamarqueses do B93).

Já para o caminho do Aberdeen sobrou ninguém menos do que o Bayern de Munique. Os bávaros haviam passado com certa dificuldade – pelos gols fora de casa, após dois empates – pelo Torpedo Moscou, mas na etapa seguinte eliminaram com autoridade o Tottenham (embora os londrinos tivessem algumas baixas importantes). Além disso, ao chegarem para a partida de ida, no dia 2 de março de 1983 no Estádio Olímpico, ocupavam a liderança da tabela na Bundesliga empatados em pontos com o Hamburgo, ainda que com um jogo a mais.

Além do astro Karl-Heinz Rummenigge e do talento e experiência de Paul Breitner (em sua última temporada), a equipe de Munique contava com uma espinha dorsal composta também pelo líbero Klaus Augenthaler, o versátil lateral Wolfgang Dremmler e o centroavante Dieter Hoeness. Não teria, porém, o goleiro belga Jean-Marie Pfaff, considerado um dos melhores do mundo na época e contratado naquela temporada, ausente por cerca de dois meses devido a uma lesão. Em seu lugar jogaria Manfred Müller, titular antes de sua chegada.

Os Dons, por sua vez, não deixavam por menos em termos de embalo: semanas antes derrotaram o Celtic por 3 a 1 em Parkhead, assumindo a ponta da tabela da Premier Division escocesa. E encaravam o duelo como essencial para sua afirmação. “Há apenas alguns anos, mesmo em seus sonhos mais loucos, o Aberdeen nunca se imaginaria escalando alturas tão vertiginosas. E aqui está ele, a 180 minutos das semifinais de um torneio europeu e de todo o reconhecimento que deseja tão desesperadamente”, escreveu o Glasgow Herald.

“Antes de jogarmos contra o Celtic, disse aos jogadores que eles (adversários) se preocupavam conosco. Minhas instruções foram para que saíssem e dominassem o jogo – fazer as pessoas se sentarem e prestarem atenção. Eles assim fizeram, e os jogadores jovens do time cresceram um pouco naquele dia. Este é um teste semelhante, e para mim também. Tantas coisas boas foram escritas e ditas sobre nós, e esta é a ocasião perfeita para mostrarmos que merecemos esse tipo de reconhecimento”, afirmou Ferguson ao mesmo jornal.

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McLeish salta para marcar de cabeça na épica vitória sobre o Bayern em Pittodrie

E foi assim – respeitando o Bayern, mas sem temê-lo – que o Aberdeen adentrou o gramado do Estádio Olímpico naquela noite. Bloqueando os espaços na defesa, reduzindo as opções de ataque dos bávaros a chutes inócuos de longa distância, atacando com velocidade e alçando a bola sobre a área do adversário para explorar a indecisão do goleiro nas saídas, os escoceses criaram muitos problemas aos anfitriões, que deixaram o campo vaiados pelos 56 mil torcedores ao fim do jogo com o placar de 0 a 0, muito comemorado pelos Dons.

Pressionado a buscar ao menos um empate com gols no jogo de volta, em 16 de março, o Bayern começou a partida tendo de lidar com o sufoco inicial do Aberdeen, mas conseguiu o que queria logo aos dez minutos quando Augenthaler recebeu de Breitner e bateu de fora da área no canto de Leighton, silenciando Pittodrie. As arquibancadas, porém, voltaram a acender aos 22 minutos quando McLeish carimbou o travessão de Müller com uma cabeçada, num indicativo de que o gol de empate dos donos da casa aos poucos amadurecia.

E ele chegaria aos 36: McGhee cruzou alto da direita, na segunda trave, e a cabeçada de Black foi salva em cima da linha por Augenthaler. O zagueiro, porém, não pôde fazer nada quando Simpson apareceu para aproveitar o rebote e recolocar os escoceses no jogo. O gol intensificou a pressão pelo resto do primeiro tempo e o início do segundo. Mas aos 16, viria um novo balde de água fria quando Dremmler cruzou da direita, McLeish rechaçou para o bico da grande área e de lá mesmo Hans Pflügler encheu o pé para recolocar o Bayern na frente.

Ferguson então decidiu mexer no time. Primeiro tirou o lateral Stuart Kennedy para colocar John McMaster no meio-campo, fazendo outros remanejamentos no setor defensivo. Mas a troca que teria impacto imediato seria a segunda, aos 31 minutos, com a saída do volante Neil Simpson para a entrada do atacante, John Hewitt. Um minuto depois, num lance de malícia, chegaria o empate: Strachan e McMaster simularam se desentender na cobrança de uma falta, até que o primeiro deu meia-volta e alçou para a cabeçada certeira de McLeish.

Mais um minuto depois, quando os torcedores ainda comemoravam, o êxtase se fez ainda maior: em nova bola alçada para a área bávara, Black subiu mais alto que a defesa e cabeceou. Müller ainda conseguiu espalmar milagrosamente, mas o substituto Hewitt apareceu como um raio para pegar o rebote finalizando por entre as pernas do arqueiro, sem chance para a atônita defesa do Bayern. Uma virada sensacional por 3 a 2 que enlouqueceu Pittodrie, uma vitória para a história do futebol escocês. E seria só a primeira desse porte naquela campanha.

Passeio nas semifinais

Não seria, porém, a única surpresa daquelas quartas de final. No embate mais equilibrado, o Real Madrid superou a Inter mesmo saindo atrás nos dois jogos, despachando os nerazzurri como havia feito na Copa dos Campeões de 1980/81 e o que tornaria a fazer em duas remontadas épicas nas Copas da Uefa de 1984/85 e 1985/86. Mas quem esperava por um colossal clássico diante do Barcelona de Diego Maradona nas semifinais se frustrou: o Austria Viena despachou os catalães em pleno Camp Nou pelos gols fora de casa após dois empates.

Do quarto confronto sairia o adversário do Aberdeen nas semifinais, e este também seria de certa forma uma surpresa: os belgas do Waterschei, que eliminaram o Paris Saint Germain revertendo a derrota por 2 a 0 no Parc des Princes com um 3 a 0 obtido na prorrogação no jogo de volta. Ainda que nenhum dos dois tivesse tradição no continente (o PSG fazia sua estreia em torneios do continente, enquanto o Waterschei tinha sua segunda – e última – participação), os franceses eram favoritos pelo seu elenco de astros internacionais.

Apesar de modesto, o Waterschei também tinha, é verdade, seus jogadores de seleção: o zagueiro Leo Clijsters e o atacante Eddie Voordeckers estreariam pela Bélgica por volta daquela época (o primeiro, pai da tenista Kim Clijsters, disputaria as Copas de 1986 e 1990 pelos Diabos Vermelhos, e ambos participariam da Eurocopa de 1984). Além deles, o defensor Győző Martos defendera a Hungria nos Mundiais de 1978 e 1982 e o atacante Lárus Guðmundsson foi nome frequente na seleção da Islândia por grande parte daquela década.

Ao contrário dos dias que antecederam os jogos com o Bayern, o Aberdeen desta vez não chegava para o confronto europeu em bom momento. Entre a classificação diante dos bávaros e o primeiro duelo contra os belgas, os Dons haviam sido derrotados duas vezes em casa pela Premier Division escocesa, perdendo para Dundee United e St. Mirren e se complicando na disputa pelo título nacional. De modo que era preciso uma boa vitória na Recopa tanto para chegar perto da decisão continental quanto para recobrar o ânimo do time.

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Aberdeen v Waterschei

Antes do jogo, Ferguson se dizia satisfeito com uma vitória pelo placar mínimo. Mas com apenas quatro minutos de partida o Aberdeen já havia dobrado essa contagem: primeiro Dougie Bell (que voltava ao time após ter ficado de fora da vitória sobre o Bayern) arrancou pela esquerda e serviu a Black com um passe de trivela para abrir o placar. Em seguida, Simpson interceptou uma saída de bola belga, limpou a defesa, chutou e o goleiro Klaus Pudelko não segurou. A blitz escocesa logo de início não deixava o Waterschei nem respirar.

Os visitantes tentaram reagir e criaram chances, mas logo o Aberdeen recuperou o controle das ações e acertou a trave numa cabeçada de McLeish após falta levantada na área. E na etapa final o jogo envolvente e de toques curtos dos escoceses faria a goleada se desenhar. Aos 22, Dougie Bell desceu pela esquerda e cruzou da linha de fundo para McGhee desviar e fazer o terceiro. Dois minutos depois, foi a vez de McGhee centrar para Weir tocar de cabeça e ampliar ainda mais para os escoceses. A vaga final estava bem ao alcance das mãos.

O Waterschei ainda diminuiu com Guðmundsson escorando de cabeça um centro de Voordeckers, numa bola que bateu no travessão e quicou dentro da meta. Mas os Dons logo voltaram a ampliar a vantagem num gol chorado de McGhee, após ter sido salvo por três vezes sobre a linha, aos 38 minutos. Ao apito final da goleada de 5 a 1, Pittodrie fervia. A torcida, que cantava “aqui vamos nós, aqui vamos nós” antes do início do jogo, agora assistia ao sonho impossível de chegar a uma decisão europeia ficar muito próximo de se materializar.

“O placar foi um reflexo apropriado. Essa foi a diferença entre os dois times”, conformou-se após o jogo o técnico do Waterschei, o alemão-ocidental Ernst Künnecke, que já jogava a toalha com relação à segunda partida: “Eu diria que nós agora não temos nenhuma chance de chegar à final. Na volta devemos fazer nosso melhor. Acho que podemos fazer um bom jogo, mas nem eu mesmo vejo meu time marcando quatro gols no Aberdeen”. Na véspera da partida de volta, porém, ele mudou o tom: “Enquanto há vida, há esperança”, declarou.

Já o Aberdeen confiava na folgada vantagem, mas tinha seus problemas: brigando em três frentes (além da Recopa, tinha chances na liga e havia acabado de se classificar para a decisão da Copa da Escócia, ao vencer o Celtic na semifinal três dias antes), enfrentava uma crise de lesões e teria ao menos três baixas para a partida na Bélgica, precisando recorrer a nomes do elenco que ainda não haviam participado da campanha para incluir entre os relacionados e até entre os titulares, como foi o caso do meio-campista Andy Watson.

Mesmo muito desfalcado, o Aberdeen teve atuação sólida na defesa, sem permitir aos belgas que se aproximassem da área. Só na metade do segundo tempo é que o Waterschei – que em 1988 se fundiria ao Winterslag para fundar o Racing Genk – conseguiria furar o bloqueio e balançar as redes com Voordeckers. Mas a magra vitória por 1 a 0 seria insuficiente para reverter a vantagem do Aberdeen, que fazia história ao avançar à final, embora lamentasse a perda da invencibilidade mantida até ali ao longo de toda a competição.

Curiosamente, por ter sido antecipada de quinta para quarta-feira, 19 de abril, a partida de volta só teve transmissão para a Escócia pelo rádio, já que na mesma data e horário seria disputado o replay da outra semifinal da Copa da Escócia entre Rangers e St. Mirren – que teria preferência por se tratar de uma partida de competição local. A antecipação, no entanto, também permitiu que Ferguson viajasse da Bélgica à Espanha para assistir à outra semifinal da Recopa, na qual o Real Madrid superou o Austria Viena e avançou.

Outro gigante na decisão

Apesar de considerados favoritos destacados, os merengues chegavam a aquela decisão sob forte pressão. Amargavam uma seca de títulos continentais que já durava 17 anos, desde a conquista da Copa dos Campeões de 1966, tendo, nesse intervalo, perdido dois canecos para times ingleses: a Recopa de 1971 para o Chelsea e a Copa dos Campeões de 1981 para o Liverpool. E vinham de perder, dez dias antes, o título da liga para o Athletic Bilbao na última rodada por um ponto, após liderarem o campeonato por quase toda a temporada.

Vivendo período modesto, a equipe comandada naquela temporada pelo velho ídolo Alfredo Di Stéfano recebera reforços pouco badalados, a maioria para a defesa, como o zagueiro holandês John Metgod (alto e dono de um chute potente em cobranças de falta, vindo do AZ ’67), além do lateral Juan José (Cádiz) e o zagueiro Paco Bonet (Elche). Jogadores mais experientes, no entanto, não faltavam: havia os defensores José Antonio Camacho e Isidoro San José, os meias Uli Stielike e Ricardo Gallego e os atacantes Juanito e Santillana.

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Festa do Aberdeen ao apito final

E a equipe madridista estava invicta no torneio até ali. Na primeira fase, superara o modesto Baia Mare, da segunda divisão romena (o Dinamo Bucareste fizera a dobradinha), vencendo por 5 a 2 no Santiago Bernabéu após empatar em 0 a 0 fora de casa na ida. Depois, derrotara duas vezes o Újpest: 3 a 1 em Madri e 1 a 0 em Budapeste. A seguir foi a vez da Inter de Milão, com o empate em 1 a 1 no San Siro e a vitória por 2 a 1 em casa. E por fim o Austria Viena, com um 2 a 2 fora de casa seguido por um 3 a 1 no estádio merengue.

O grande trunfo era o centroavante Santillana, jogador experiente, ótimo cabeceador e que havia marcado em todas as fases da competição, liderando a tabela dos artilheiros. O alemão-ocidental Stielike quase foi desfalque, mas se recuperou a tempo e jogaria a final. O mesmo, porém, não aconteceria com duas das baixas do Aberdeen: Doug Bell e Stuart Kennedy ficariam mesmo de fora. O lateral seria incluído no banco, mas sem condições de jogo: a lesão sofrida no joelho levaria ao fim precoce de sua carreira aos 29 anos.

Dessa forma, Alex Ferguson levaria a campo uma escalação bastante alterada para a decisão no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo. Leighton ficaria no gol, com Rougvie deslocado para a lateral direita e McMaster passando à esquerda, com os intocáveis Miller e McLeish no miolo de zaga. No meio-campo, Simpson e Cooper ficavam na proteção, com Strachan responsável por criar as jogadas ofensivas junto com o ponta-esquerda Weir. Na frente, Black (que voltava após um mês de fora por lesão) formava dupla de área com McGhee.

Com capacidade para cerca de 50 mil torcedores, o Nya Ullevi recebeu público modesto, de pouco menos de 18 mil torcedores. A maioria esmagadora, porém, era de escoceses, que viajaram até em barcos pesqueiros da costa norte da Escócia até Gotemburgo. Os números falavam em cerca de 15 mil adeptos dos Dons contra apenas três mil madridistas. A delegação do Aberdeen incluía um convidado ilustre: Jock Stein, técnico da Escócia e campeão europeu com o Celtic em 1967, chamado para aconselhar Alex Ferguson e o elenco.

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Eric Black abre o placar em Gotemburgo

A partida foi precedida por 24 horas de chuva torrencial incessante, fazendo com que o gramado tivesse de ser coberto por uma lona. Se não chegou a ficar alagado, estava bem pesado. E não demorou muito até ficar enlameado. Curiosamente, essa condição favorecia o Real Madrid, que entrara nitidamente buscando levar a decisão para os pênaltis – conta-se que Alex Ferguson havia assistido ao treino dos merengues na véspera da partida e ficou surpreso ao constatar que eles se limitaram a praticar cobranças de penalidades.

Sendo assim, o técnico escocês mandou o time à frente desde o início, e a decisão logo se revelou o duelo entre um impetuoso Davi e um combalido Golias. Com apenas três minutos, o travessão já havia impedido que os Dons marcassem um dos gols mais espetaculares da história das finais europeias: Metgod bateu tiro de meta e Strachan interceptou na intermediária, dominou no peito e arrancou antes de cruzar para Black emendar um maravilhoso voleio de primeira que o goleiro Agustín espalmou, fazendo a bola acertar a trave superior.

E aos sete, o Aberdeen já abria o placar: Strachan bateu escanteio alçando para McLeish cabecear da entrada da área. A bola resvalou no lateral merengue Juan José, que não conseguiu afastar, e sobrou na pequena área para Black, esperto, conferir para as redes. Mas a empolgação inicial foi freada aos 14 minutos: McLeish tentou recuar para Leighton, mas a bola perdeu velocidade na grama encharcada, e Santillana interceptou a jogada, sendo derrubado pelo goleiro. Pênalti que Juanito converteu com categoria para empatar a partida.

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John Hewitt entra no lugar de Eric Black na final

Com o empate, o jogo se tornou mais aberto, lá e cá, embora sem muitas chances claras de gol até o intervalo. Na volta, porém, o Aberdeen teve duas boas oportunidades para voltar à frente pouco antes dos 10 minutos. Primeiro num chute de primeira de Strachan em cima de Agustín e depois numa cabeçada de Black após escanteio defendida no limite pelo arqueiro espanhol. Nos minutos finais, o Aberdeen faria sua única modificação: Black, lesionado, daria lugar ao atacante John Hewitt, o herói da classificação contra o Bayern.

No primeiro tempo da prorrogação, o Aberdeen pediria pênalti num choque entre Cooper e o atacante Isidro antes de Agustín fazer uma boa defesa em cabeçada de Simpson. Do outro lado, Leighton brilhou ao defender no reflexo um chute forte de Santillana pouco antes do intervalo. A essa altura, com a chuva ainda caindo sobre Gotemburgo, o gramado do Nya Ullevi já estava impraticável, demandando um esforço hercúleo de ambas as equipes para conduzir a bola, trocar passes, criar jogadas ou contra-atacar com a bola no chão.

E foi meio na marra que saiu o contra-ataque que decidiu o jogo, quando Weir recuperou uma bola no campo de defesa e lançou McGhee na ponta esquerda. O atacante arrancou, superou o combate madridista e cruzou para Hewitt, que vinha correndo pelo meio, se antecipar a Agustín e tocar de cabeça para as redes aos seis minutos da etapa final da prorrogação. O “supersub”, que viera do banco em cinco de seus nove jogos na campanha, outra vez se consagrava como o “matador de gigantes”, como havia feito contra o Bayern.

Nos minutos finais, o Aberdeen ainda desperdiçaria pelo menos três chances claras de ampliar o placar. Mas no último lance ainda levaria um susto quando o árbitro italiano Gianfranco Menegali apitou uma falta para o Real Madrid na meia-lua, e o defensor José Antonio Salguero, que entrara durante a prorrogação, disparou um foguete que roçou a trave esquerda de Leighton. Depois foi só festa: ao apito final, a vitória por 2 a 1 valia a conquista histórica aos Dons, o terceiro caneco europeu a um clube escocês – e o único fora de Glasgow.

“O Aberdeen tem o que o dinheiro não compra: uma alma, um espírito de equipe construído em uma tradição familiar”. Os elogios rasgados eram de ninguém menos que o treinador adversário, Alfredo Di Stéfano, parabenizando os Dons pela conquista após o jogo. A mentalidade vencedora da equipe comandada por Alex Ferguson se estenderia: dez dias depois, o Aberdeen levantaria a Copa da Escócia batendo o Rangers na final na prorrogação. Em dezembro, venceria a Supercopa Europeia superando o Hamburgo, detentor da Copa dos Campeões.

Antes da saída do treinador para comandar o Manchester United, em novembro de 1986, os Dons ainda venceriam a Premier Division escocesa em 1984 e 1985, a Copa em 1984 e 1986 e a Copa da Liga em 1986, alcançando as semifinais da Recopa na campanha seguinte à conquista do título, caindo para o Porto. Mas naquele ano de 1984, começaria a debandada no elenco, com as saídas de Gordon Strachan para o Manchester United (mais tarde faria história também no Leeds), Doug Rougvie para o Chelsea e Mark McGhee para o Stuttgart.

Em 1986, seria a vez de Eric Black também se transferir ao exterior, atuando pelo Metz, enquanto Neale Cooper migraria para o Aston Villa. Dois anos depois, o goleiro Jim Leighton se juntaria a Ferguson e Strachan no Manchester United – e a espinha dorsal da equipe campeã da Recopa já havia sido totalmente desfeita. A Era de Ouro do Aberdeen se encerrou assim. De lá para cá, o clube se manteve na elite escocesa (de onde nunca caiu) com títulos esporádicos nas copas. Mas nunca mais experimentou tamanho sucesso europeu.

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O capitão Willie Miller com a taça

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