Trivela
·08 de junho de 2021
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Autor de 13 gols em 27 jogos pelo Stuttgart na temporada passada, Silas Wamangituka não é quem pensávamos. Em nota publicada em seu site oficial nesta terça-feira (8), o clube comunicou que o jogador lhe revelou recentemente que seu nome verdadeiro era Silas Katompa Mvumpa e que ele teria sido vítima de influência e manipulação de seu empresário para falsificar seus documentos.
Diferentemente do que indicavam seus documentos válidos até então, Silas teria nascido em 6 de outubro de 1998, e não de 1999. Além disso, seu sobrenome seria Katompa Mvumpa, e não Wamangituka. A revelação foi feita pelo próprio atleta ao Stuttgart, que desde então entrou em contato com a Federação Alemã para retificar a situação.
Para entender o imbróglio, é preciso voltar quase quatro anos no tempo. Segundo o Stuttgart, em 2017, quando tinha 18 anos, Silas, nascido na República Democrática do Congo, foi convidado pelo Anderlecht, da Bélgica, para testes, recebendo um visto válido de 15 de agosto a 14 de novembro de 2017, emitido com o nome correto do jogador: Katompa Mvumpa.
O clube belga estava interessado em contratá-lo, mas para isso o jogador precisaria retornar para o Congo e pedir outro visto. Em meio a este processo, um empresário na Bélgica teria convencido Silas, sob “grande pressão”, de que ele não conseguiria voltar para a Europa uma vez que deixasse o país. O empresário então teria o persuadido a alterar informações de sua identidade, fornecendo-lhe documentos que o apresentavam como Silas Wamangituka, com a data de nascimento alterada em exatamente um ano. No comunicado, o Stuttgart afirma que, segundo sua avaliação atual da situação, a intenção por trás da falsificação não seria por questões de leis de residência, mas, sim, para romper um vínculo que o jogador teria com um clube em Kinshasa, no Congo.
O empresário então o levou para Paris, para defender o Paris FC, da segunda divisão francesa, e Silas passou a viver com o agente. Dependente do empresário e manipulado por ele por medo de chantagem, o jogador diz que não tinha acesso à sua própria conta bancária ou a seus documentos, com tudo sendo gerido pelo agente. Seus salários também não iam direto para o atleta, que recebia apenas uma parte deles do empresário. Este, supostamente, o ameaçava de que ele “nunca mais jogaria futebol novamente” se as informações viessem a público.
Silas Katompa Mvumpa então se transferiu para o Stuttgart na temporada 2019/20, e em dezembro de 2019 surgiram questionamentos sobre sua identidade nas imprensas francesa e alemã. O Stuttgart diz ter examinado os documentos apresentados pelo jogador, e, depois de checagem das autoridades da França e da Alemanha, o atleta havia sido liberado. Silas poderia ter passado o restante de sua carreira sob o nome Wamangituka sem problemas, destacou o Stuttgart, mas, após desenvolver uma relação de confiança com o clube – e se desgarrar um pouco do empresário graças à distância –, resolveu contar a verdade e foi bem acolhido.
O jogador trocou de representantes, e estes passaram a se manter em contato constante com o Stuttgart para esclarecer a situação junto à Federação Alemã e a Bundesliga. Diretor esportivo do clube, Sven Mislintat afirmou que o atacante “segue sendo o jogador e pessoa que conquistou os corações de nossos torcedores e de seus companheiros desde que chegou ao Stuttgart. Em relação à mudança de nome, ele é, acima de tudo, uma vítima. Iremos protegê-lo de acordo. Tenho um grande respeito pelo fato de que, tão jovem, quase por conta própria e sem saber das consequências, ele tenha ousado dar o passo para resolver esta situação. Continuaremos o ajudando de todas as maneiras possíveis, ele é parte da família Stuttgart”.
O clube informou ainda que, no momento, Silas já está com seu passaporte congolês com informações legítimas em mãos. Em sua conclusão, o Stuttgart afirma também entender que o jogador não tirou proveito financeiro da situação, que foi alvo de exploração por parte do empresário e que teria recebido a permissão de residência mesmo com seus dados corretos.
“Eu vivi em constante medo nos últimos anos e também me preocupei muito com a minha família no Congo. Revelar a minha história foi um passo difícil de dar. Foi apenas com o apoio dos meus novos conselheiros que eu ousei fazer isso. Eu percebi que não precisava mais ter medo e que juntos nós poderíamos colocar tudo às claras. Eu não teria ousado dar este passo se Stuttgart, a equipe e o clube não tivessem se tornado uma segunda casa para mim, onde me sinto seguro. Hoje, estou muito aliviado e espero que eu possa incentivar outros jogadores que tiveram experiências parecidas com agentes”, respirou aliviado o jogador, em declaração publicada no site do clube.
O Stuttgart não informou a identidade do agente de forma a preservar o seu atleta, mas está investigando medidas legais contra o representante.