Dirigentes dos três grandes e SC Braga de acordo: «Corremos o risco de ver a Liga Portuguesa num patamar de Liga Conferência» | OneFootball

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·14 de setembro de 2024

Dirigentes dos três grandes e SC Braga de acordo: «Corremos o risco de ver a Liga Portuguesa num patamar de Liga Conferência»

Imagem do artigo:Dirigentes dos três grandes e SC Braga de acordo: «Corremos o risco de ver a Liga Portuguesa num patamar de Liga Conferência»

Na manhã deste sábado, na Thinking Football, os responsáveis financeiros dos primeiros quatro classificados da úlitma edição da Liga Portugal Betclic juntaram-se para debater os custos do campeonato português.

Além de os considerarem elevados, Francisco Zenha, Nuno Catarino, José Pedro Pereira da Costa e Cláudio Couto consideram pertinente reduzir a carga fiscal, de modo a dar uma nova vida ao futebol português.


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Francisco Zenha, dirigente do Sporting

«Estamos em sétimo no ranking europeu e a concorrer com seis grandes potências. Nem é coincidência, mas são as maiores seis em termos económicos. Nós nem sequer estamos no top-20. Não há dúvida que tem de se perceber que custos são estes e como mitigá-los para manter no tipo europeu. Há três países na Europa que têm seguros AT, como aqui. Se alguém tem uma pequena lesão, com apenas 5% que pode ser pequena entorse, já recebe indemnização. Nós, Sporting, temos custos de 5 M€ por ano. Há empresas do PSI20 que têm custos menores. É um problema a resolver rapidamente para não perdermos o barco com a Europa. Há logo uma solução óbvia. Fazemos omeletes com poucos ovos. Hoje ainda temos um modelo de negócio bem definido. Sabemos contratar, sabemos exportar, sabemos formar. Este modelo de negócio é replicável. E falamos de mercados, voltando ao tema da capacidade económica do país, com os quais, comparando, somos pequenos. Temos mercados como a Turquia, a Bélgica, a Holanda que trabalham pouco a formação, mas, no dia em que começarem a trabalhar esse aspeto, vão ultrapassar-nos. O ranking para o qual olhamos está assente num modelo de negócio que nos torna competitivos, mas se não nos reinventarmos vamos perder. Os custos de contexto têm de nos permitir ser mais competitivos. A carga fiscal é absurda. Estamos habituados a ter um Benfica e FC Porto habitualmente na Champions, o Sporting agora a voltar, o Sp. Braga já lá esteve. Mas corremos o risco, se não agirmos depressa, de começar a ver a liga portuguesa num patamar da Liga Conferência.»

Nuno Catarino, dirigente do Benfica

«O futebol é uma indústria que temos de ver como entretenimento, mas como uma indústria exportadora, que dá oportunidades a jovens para progredir e ir para fora. Ou tomamos cuidado com esta indústria, ou poderá haver risco de inflexão na nossa capacidade de sermos competitivos neste tipo de mercado. Não podemos não ser competitivos em coisas básicas, como custos de contexto. Em termos de IVA, há também uma questão. Quase uma questão de preconceito, olhando ao que se pratica noutros espetáculos. O Benfica tem uma lista de espera de 14 mil pessoas para ter lugar anual. É uma coisa que impressiona. Como arranjamos soluções para isto? Se formos à Allianz Arena em jogos do campeonato eles têm assistência de mais 10% do que nos jogos europeus. Temos de arranjar soluções. A nossa economia é a 19ª da Europa. A realidade vai levar-nos para esse lugar do ranking. O risco é real. Tornou-se mais real nos últimos dois anos e temos de trabalhar em todos os vetores.

Concorremos no campo, na compra de jogadores, mas temos de cooperar mais noutras. Isto é uma indústria. Se compararmos no desporto americano, é quase cooperativo. Trabalha-se em conjunto, partilha-se experiência. Toda esta cooperação tem de ser feita para evitarmos este potencial declínio. Isso vai requerer trabalhar um bocadinho de tudo, da inovação dos clubes, na forma como trabalhamos no ecossistema.»

José Pedro Pereira da Costa, dirigente do FC Porto

«O impacto de termos custos de contextos alinhados com a realidade europeia, por contas rápidas, poderia representar entre 4 a 5 por cento de margem sobre receitas operacionais, excluindo receitas com vendas de jogadores. Para receitas totais, na ordem dos 160 milhões de euros nos nossos casos, podíamos reduzir custos na ordem dos 7 ou 8 milhões. Pesa de forma relevante. Como indústria estamos bem posicionados no ranking, mas isso não corresponde à nossa dimensão em termos de país no mercado europeu. Olhando às receitas 'core', lutamos em patamares desiguais. Os direitos televisivos têm valor muito inferior, em termos de receitas de participação na UEFA igual, até porque há um valor que tem que ver com as dimensões dos mercados. Nas receitas lutamos com desvantagem e estamos a competir com clubes e países com dimensão desigual. A isso acresce esses custos de contexto de coisas que parecem pequenas. Partilho a ideia transmitida pelos clubes relativamente à preocupação com o ranking da UEFA. Trata-se de uma fonte de receitas muito importantes para qualquer um de nós. O facto de termos passado de sexto para sétimo e termos perdido mais uma equipa na Liga dos Campeões representa perda para Portugal à volta de 40 milhões de euros. Se não atuarmos depressa, pode ser pior. A carga fiscal do IRS é brutal. A UEFA, aliás, nos cálculos para o Fair Play Financeiro usa ajustes e a média mostra que há desvantagem estrutural relevante face a esses países e que é notória na altura de reter talento, de atrair talento... Quando disputamos um jogador com um país com Itália que tem taxa mais baixa e tem vantagem de estatuto de residente não habitual, há uma diferença muito grande.»

Cláudio Couto, dirigente do SC Braga

«O IVA estava a seis por cento na chegada da troika e passou para 23 por cento com expectativa de que fosse momentaneamente, mas em 2017 todos os espetáculos viram a taxa voltar a seis por cento, menos o futebol. Sentimos uma discriminação relativamente a outros sectores do espetáculo. Outro aspeto é a questão dos seguros. Pagamos faturas altíssimas em seguros de acidentes de trabalho. Assistimos a casos tão simples como um atleta que num lance tenha um pequeno corte no sobrolho, seja assistido, não saia do jogo, não é acionado seguro de acidentes de trabalho e o que é certo é que passado uns anos o atleta vem reivindicar que tem uma questão estética e exigir que lhe seja dada compensação pecuniária. Isto tem de ser pago e quem paga são os clubes. É muito dinheiro. Com uma simples alteração à legislação, poderá fazer-se a fatura reduzir.»

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