Trivela
·10 de setembro de 2022
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·10 de setembro de 2022
A seleção da Rússia não entra em campo desde novembro. A equipe nacional está suspensa pela Fifa desde a invasão do exército russo na Ucrânia e segue sem perspectivas de retomar seus compromissos oficiais. No entanto, isso não impede que os russos marquem amistosos por conta própria. Nesta semana, a federação local anunciou uma partida contra o Quirguistão em setembro e outra contra o Irã em novembro – que já levanta questionamentos, às vésperas da Copa do Mundo. Além disso, a federação da Bósnia deu sinal verde para um duelo entre a seleção local e a Rússia também em novembro. O anúncio foi recebido sob protestos de Edin Dzeko e Miralem Pjanic, os dois principais jogadores do país.
A Rússia fez sua proposta para enfrentar a Bósnia em novembro e o assunto seria discutido internamente. Os jogadores bósnios foram consultados e, segundo as primeiras manifestações, se posicionaram de maneira contrária. Todavia, a federação bósnia preferiu tomar sua decisão definitiva em reunião da diretoria. Dos seis membros, cinco votaram favoravelmente pela realização do amistoso e o anúncio oficial confirmou o duelo em São Petersburgo, em 19 de novembro, pegando os atletas de surpresa. A insatisfação seria expressa pelos protagonistas do time.
Dzeko é o recordista em jogos pela seleção da Bósnia e também o maior artilheiro da equipe nacional, com 63 gols em 124 partidas. O capitão afirmou que aconselhou os dirigentes a recusarem o amistoso, mas acabou ignorado. Porém, reiterou sua posição e indicou que não entrará em campo se o jogo realmente acontecer. A queda de braço poderia marcar o fim de uma história de 15 anos de seleção ao centroavante. Outro detalhe é que o ídolo de infância do veterano é Andriy Shevchenko, um símbolo da Ucrânia e uma voz ativa contra a guerra.
“Sou contra a realização desse jogo. Sou sempre a favor da paz e só pela paz. A federação sabe a minha opinião, mas, infelizmente, não sou eu quem toma as decisões sobre quais serão os adversários da seleção. Tenho minha própria posição clara e ela não inclui disputar esse jogo, enquanto pessoas inocentes se machucam. Eu me solidarizo com o povo da Ucrânia nesses tempos difíceis”, afirmou Dzeko, em entrevista ao portal Klix.
Vice-capitão e segundo jogador com mais aparições pela Bósnia, Pjanic deu declarações parecidas. Também apontou que os dirigentes sabiam de sua posição em relação ao encontro com a Rússia e que não deseja entrar em campo. Aos 32 anos, o meio-campista permanece como uma figura de relevo na equipe nacional, mesmo sem repetir o impacto do passado nos clubes, recentemente transferido ao Sharjah dos Emirados Árabes Unidos.
“Fiquei sabendo da decisão da federação. Os líderes da entidade conhecem minha posição. Eles me ligaram, me perguntaram o que eu achava do jogo. Eu disse o que pensava e fui surpreendido por uma decisão diferente. Não é uma boa decisão. Estou sem palavras. Quando a seleção começa a jogar bem, algo sempre dá errado. A federação sabe minha posição. Vou apenas dizer que isso não é bom”, apontou ao site Sportske.
O elenco da Bósnia reúne diversos jogadores impactados diretamente pela Guerra da Bósnia, ocorrida nos anos 1990 – entre eles, Dzeko e Pjanic. O meio-campista nasceu em Tuzla, mas deixou o país ao lado da família ainda na infância e se refugiou em Luxemburgo, onde iniciou a carreira. Já o centroavante é natural de Sarajevo e cresceu na cidade, mesmo com os cercos e a destruição que assolaram a região por quatro anos. O veterano já relatou que precisava parar de jogar futebol nas ruas porque as sirenes tocavam e todos tinham que se esconder das bombas. Certamente o passado de ambos têm mais eco no posicionamento contra o amistoso com a Rússia.
Antes do possível amistoso contra a Rússia em novembro, a Bósnia entra em campo pela Liga das Nações em setembro. A equipe enfrenta Montenegro e Romênia, fechando sua participação na fase de classificação. Os bósnios lideram o Grupo B3, com oito pontos, e são candidatos ao acesso à primeira divisão – em situação que ainda pode ajudá-los na repescagem para a Euro 2024. A decisão da federação contamina um ambiente que se via positivo por essa boa sequência recente, com a equipe invicta há cinco partidas.