Zerozero
·04 de dezembro de 2025
É polícia e foi o melhor marcador de Portugal em novembro: «Só comecei a jogar aos 16 anos»

In partnership with
Yahoo sportsZerozero
·04 de dezembro de 2025

Novembro trouxe 2426 jogos nas 70 competições de âmbitos distrital e nacional de futebol sénior em Portugal. Nesta rubrica mensal, o zerozero vai à conversa com o melhor marcador do mês em todo o país.
Roberto, ponta de lança do ACD Serzedelo S. Pedro, clube que milita na Série B da 1º Divisão da AF Braga, foi o jogador que mais se destacou no capítulo dos golos no último mês, com 11 remates certeiros em quatro jogos.
Goleador de serviço no pequeno clube situado no concelho de Póvoa de Lanhoso, conjuga o futebol com o emprego de Polícia Municipal em Braga. O seu percurso no futebol começa muito mais tarde do que o normal, tendo praticado outros desportos até aos 16.
Venha com o zerozero conhecer o avançado que faz tremer as defesas das distritais bracarenses.
Zerozero (zz): O Roberto foi o melhor marcador em Portugal no mês de novembro com 11 golos. Estava a par desta estatística?
Roberto (R): Não, por acaso era algo que não estava à espera e muito sinceramente nem sabia que havia este tipo de contabilização a nível nacional.
(zz): Para isso, muito contribuíram os sete golos que marcou na vitória frente ao GD Peões por 12-2, na última partida. Conte-nos a história deste encontro. Estava à espera de marcar tantos golos num só jogo?
(R): Não. Foi um jogo que foi algo atípico, podemos assim dizer. Nós tínhamos um desafio para este mês da parte do nosso treinador e era o último jogo que nos faltava para o completar. O desafio era vencer todos os jogos do mês de novembro para depois fazermos algo em equipa. E mesmo na primeira parte acabámos por construir um resultado que se fosse já no final do jogo já seria muito considerável, porque já estava em 8-0. Ou seja, foi um jogo em que toda a equipa esteve unida, esteve com boa atitude, teve muita entreajuda e não houve individualidades.
Lá está, uma vez que atuo como avançado, e normalmente são os avançados que finalizam as jogadas, acabei por ser o que marcou mais. Contudo, tenho que realçar os meus outros dois colegas que jogaram ao meu lado, fizeram dois golos cada um, fizeram assistências, e por isso foi um jogo de equipa que acabou por sair tudo bem e, felizmente para mim, também correu de feição a nível individual. Às vezes com alguma sorte, mas a sorte também se trabalha.
(zz): O vosso treinador propõe esses desafios todos os meses?
(R): Já tinha sido feito, mas não nestes moldes. Tinha sido uma situação diferente, uma vez os próprios resultados não estavam a coincidir com o nosso nível de jogo e treino. No início deste mês, após a conversa do último jogo de outubro, ele lançou este desafio para ver se começávamos a elevar os níveis de resultados, porque infelizmente não estavam a acontecer. Tivemos um mês difícil, mas as coisas começaram a surtir efeito e esperemos que continue assim.
(zz): Têm o objetivo de subir ou pelo menos de conquistar a Série?
(R): Era algo que gostávamos, mas não é assumido para fora e nem o vai ser. O nosso orçamento, a forma da nossa equipa estar, em geral, não é de todo uma daquelas equipas que se olhe e diga «estes são candidatos porque investem, porque gastam dinheiro». No entanto, cá dentro, temos o objetivo de ir jogo a jogo e no fim fazemos contas. Se a taça sorrir para o nosso lado, melhor, porque qualidade não nos falta.
(zz): Foi formado nas camadas jovens do GD Monsul. Como foram esses anos?
(R): Foram anos de aprendizagem. Infelizmente não pôde ser a formação que eu desejava, porque não tenho o meu pai todos os dias. Ele é emigrante, o que acabou por me condicionar, porque na altura, quando tinha 13 ou 14 anos, na minha freguesia éramos sete ou oito rapazes e foram quase todos para o Maria da Fonte. Eu, infelizmente, não pude ir uma vez que a minha mãe não tem carta e o meu pai, estando fora do país, não tinha quem me fosse buscar aos treinos, nem quem me fosse levar.
Só comecei a jogar por volta dos 16 anos, quando fui para o Monsul, porque o Presidente vinha-me buscar a casa e foi aí que acabei por dar os primeiros passos no futebol. Não foi a formação desejada, porque era um clube de freguesia, um contexto diferente, o próprio treinador não seria o ideal para uma equipa de formação.
Estive dois anos lá, o primeiro ano de júnior não joguei por opção e depois acabei por fazer o segundo ano de júnior, na altura já no Arsenal Crespos. Era uma estrutura diferente, uma equipa com muito mais formação, porque eles tinham muitos miúdos a treinar, já nos davam outras condições. Eu comecei a jogar em pelado, que era o normal aqui na distrital, e depois no Crespo já era sintético, já havia outras condições, havia fisioterapeuta.
Depois, quando passei para sénior no meu primeiro ano de Alegrienses, foi um choque por ser completamente diferente o contexto de jogo e de treino. Uma vez que comecei a jogar futebol com 16 anos, aos 18 já era sénior e é um impacto diferente. Há certas coisas que não se tem, que se jogasse desde os meus 13, 14 anos, que de certeza aprenderia.
Mas o Monsul foi importante porque foi lá que fiz muitos dos meus amigos, alguns deles atualmente jogam comigo em Serzedelo, que foi também um dos fatores que me fez vir para cá.
(zz): Mas então não jogou futebol federado até aos 16? Só com os amigos?
(R): Na altura praticava desporto, mas não era futebol.
(zz): Que desportos é que praticava?
(R): Pratiquei atletismo de pista e badminton.
(zz): Desporto escolar ou tinha clubes na sua zona?
(R): Desporto escolar em ambos. Por acaso ainda chegámos a participar em algumas provas de atletismo aqui no Estádio 1º de Maio porque a escola tinha bastantes bons atletas e o nosso treinador também é o do SC Braga. Inclusive ainda há colegas meus, que na altura treinavam comigo, que atualmente são atletas do Braga no atletismo.
(zz): Porque saiu? Gostava mais do futebol?
(R): Sim, gostava mais de jogar futebol. Ainda fiz atletismo no primeiro ano que comecei a jogar no Monsul, mas depois acabei por deixar porque não podia estar presente nas provas ao fim de semana porque havia jogo. Acabei por ter que escolher um dos dois.
(zz): O que faz fora dos relvados?
(R): A minha vida fora do futebol é complicada. Eu sou Polícia Municipal aqui em Braga. Tenho que às vezes andar a fazer as ginásticas para conseguir estar presente em treinos, em jogos, ou seja, acaba por ser uma vida um bocadinho atarefada para o contexto do futebol. No entanto, felizmente já consigo estar presente quase sempre, porque não é fácil, uma vez que trabalho por turnos, às vezes à noite e o horário não é compatível com os treinos. Mas de resto, tirando a parte do trabalho que é o que ocupa grande parte do meu tempo, é uma vida normal, tranquila.
(zz): Já teve que faltar a jogos?
(R): Felizmente não. Consigo sempre arranjar a forma de trocar com um colega ou colocar folgas, ou trocar turno, por isso não tenho tido esse problema.
(zz): E a treinos?
(R): A treinos sim. Principalmente quando é o turno da noite, aí é difícil haver a troca. Às vezes há um treino ou outro que falto, de três em três semanas, o máximo dos máximos.
(zz): O Roberto saiu do ACR Guilhofrei na Divisão de Honra e veio para o Serzedelo no escalão abaixo. Ser amigo de vários elementos do plantel foi o motivo dessa decisão?
(R): Quando comecei a fazer a formação para a Polícia Municipal, eu sabia que após acabar não ia conseguir estar em Guilhofrei. Mesmo pela localização geográfica, porque o Serzedelo, da minha casa, são cinco minutos, enquanto Guilhofrei são 35. Tendo em conta que muitas das vezes chegava a casa por volta das 20h00, 20h10, os treinos em Guilhofrei também começavam às 20h15, como é agora no Serzedelo, 35 minutos eu nunca iria chegar a tempo.
Falei com o diretor-desportivo, que era meu amigo na altura e disse-lhe que não ia poder continuar. A minha profissão iria fazer com que eu fosse chegar muito atrasado aos treinos e com certeza não entraria nas escolhas do treinador. Entretanto, surgiu a proposta do Serzedelo, que é um clube que é perto da minha casa.
Já conheço o diretor-desportivo de cá há muitos anos. Por esse motivo, e principalmente pelo facto de eles oferecerem-me algo que naquele ano mais nenhuma equipa tinha oferecido, que era a flexibilidade devido à minha vida profissional, decidi vir. E apesar do treinador ter mudado da época passada para esta, a flexibilidade ainda se mantém, por isso é que ainda continuo.
(zz): Que tipo de clube é o Serzedelo?
(R): É um clube muito humilde, em que as pessoas que fazem parte da estrutura, apesar de não terem o que queriam para nos oferecer, fazem muitos esforços para conseguir dar-nos o máximo de conforto possível e o máximo de qualidade de treino.
Por exemplo, antes equipávamos em dois balneários diferentes. Este ano foi promovida uma obra por parte da direção, em conjunto até com o treinador, para unir uma parte de um balneário com uma parte inutilizada da sede para fazermos um balneário único e nos equiparmos juntos. As pessoas são todas da freguesia, andam com o Serzedelo às costas.
(zz): O Roberto tem feito bastantes golos nas últimas épocas, já começaram a surgir interessados em escalões superiores?
(R): No início da época, sim e no final da época passada também. Mas, tal como disse anteriormente, uma vez que o meu contexto profissional iria-me obrigar a não estar a 100% no futebol, acabei por não aceitar essas propostas. Não iria conseguir estar como eu gosto de estar, faltar o menos possível a treinos e muito menos a jogos.
Queria só agradecer a todas as pessoas que tiveram grande importância no meu percurso desde o treinador do Monsul, o treinador do Crespo, o treinador e o presidente do Alegriense que ainda hoje são meus amigos especialmente o Sr. Feliciano, se não estou em erro é o presidente mais antigo da AF Braga, aos treinadores que tive em Guilhofrei que foram acrescentando sempre um pouquinho no meu crescimento e ao Serzedelo porque acabou por me dar aquele conforto de um clube de terra.









































