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·27 de novembro de 2025

Em 1991, a Roma sofreu para bater o surpreendente Brøndby e ser finalista da Copa Uefa

Imagem do artigo:Em 1991, a Roma sofreu para bater o surpreendente Brøndby e ser finalista da Copa Uefa

No início da década de 1990, uma das semifinais da antiga Copa Uefa teve o brilho da novidade como maior motivação. De um lado, a Roma era favorita a chegar à decisão do torneio pela primeira vez, numa tentativa de apagar a decepção pela perda da Copa dos Campeões em casa, em 1984 e impor a força do futebol italiano, já que a Serie A era a liga europeia mais forte daqueles tempos. Do outro, tínhamos o surpreendente Brøndby, que sonhava em ser o primeiro time da Dinamarca a alcançar uma final continental. No fim das contas, com bastante dificuldade, os giallorossi levaram a melhor e avançaram para encontrar uma velha conhecida nos jogos que valiam o título.

Em 1990-91, a Roma vivia um momento turbulento, mas carregava ambição consigo. Sob a batuta de Ottavio Bianchi, técnico que já conquistara o scudetto e a Copa Uefa pelo Napoli, a Loba tinha de lidar com acontecimentos graves: escândalos de doping envolvendo Angelo Peruzzi e Andrea Carnevale, além da morte do presidente Dino Viola, cujo lugar seria ocupado no fim da temporada pelo contestado Giuseppe Ciarrapico, que comprou as ações da agremiação junto à viúva Flora Viola.


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O ambiente atribulado impactou na campanha na Serie A, que foi decepcionante – com um modesto nono lugar –, o que forçou a Roma a investir suas forças nas competições de mata-mata. Os giallorossi ganhariam a Coppa Italia, e a Copa Uefa também se converteu em sua rota de redenção. Algo projetado, já que o elenco romanista era composto por jogadores de peso, como o capitão Giuseppe Giannini, o zagueiro brasileiro Aldair, o versátil Sebastiano Nela, e os campeões mundiais Thomas Berthold e Rudi Völler – este último seria o artilheiro do torneio continental.

A campanha europeia da Roma começou com firmes vitórias pelo placar mínimo sobre o Benfica, que vinha do vice europeu (foi derrotado pelo Milan na final da Copa dos Campeões) e português, mas faturaria o título luso daquela temporada. Em seguida, a Loba despachou o Valencia, que fora segundo colocado no Campeonato Espanhol – empate por 1 a 1 no Mestalla e vitória por 2 a 1 no Olímpico.

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O jogo de ida foi truncado, mas Cervone fez uma grande defesa para manter o zero no placar (Arquivo/Brøndby IF)

Nas oitavas, o Bordeaux – outro vice-campeão nacional – chegou carregado por nomes de peso, como Didier Deschamps, Wim Kieft e Bixente Lizarazu, mas caiu diante do poder de fogo romano, com Völler marcando quatro vezes num incrível placar agregado de 7 a 0 favorável aos romanos. Após eliminarem os franceses, 0s giallorossi voltaram a encarar um segundo colocado na liga de seu respectivo país nas quartas e, novamente, foram avassaladores: o belga Anderlecht foi aniquilado por mais quatro gols do centroavante alemão e, com 6 a 2 na soma das partidas, sucumbiu. Numa campanha de tantas coincidências, o destino reservaria aos capitolinos mais um adversário que sonhou com a glória local, mas não foi capaz de destronar o vencedor: nas semifinais, encararia o Brøndby, da Dinamarca.

O adversário da Roma na semifinal também tinha sua própria narrativa de ascensão. Vice-campeão dinamarquês, era treinado por Morten Olsen, capitão da Dinamáquina da década de 1980 e que estreara como técnico em janeiro de 1990 – mais tarde, seria comandante da seleção escandinava por 15 anos, de 2000 a 2015. Em campo, o time auriazul tinha como destaques um lendário Peter Schmeichel, que alcançava a maturidade pouco antes de rumar ao Manchester United, e outras grandes peças do futebol local, como John Jensen e Kim Vilfort. Fora dos gramados, o clube ganhara destaque por sair na frente dos rivais nacionais e se tornar o primeiro do país a ter jogadores profissionais com contrato em tempo integral, em 1986, e virar uma empresa de capital aberto, em 1987.

O Brøndby se classificou para a Copa Uefa como vice da liga dinamarquesa em 1989, mas ganharia o título em 1990 e 1991 – vale destacar que o campeonato é disputado ao longo do ano solar, como no Brasil. Na competição continental, os escandinavos estrearam com um duríssimo 6 a 4 no placar agregado contra o Eintracht Frankfurt – fizeram 5 a 0 na ida, mas tomaram um susto na volta, perdendo por 4 a 1.

Em seguida, aplicaram 4 a 0 no Ferencváros, fizeram 3 a 0 no Bayer Leverkusen (campeão do torneio em 1988) e tiveram trabalho contra o soviético Torpedo Moscou: após uma vitória e uma derrota por 1 a 0, passaram por 4 a 2 nos pênaltis. Já era a maior campanha de um time da Dinamarca em um torneio da máxima entidade do futebol da Europa – e, até o fechamento deste texto, ainda é. Mas, contra a Roma, estava em jogo a chance única de se tornar o primeiro finalista do país num certame do gênero.

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Confiante, a torcida romanista fez enorme festa no Olímpico (La Roma)

A partida de ida, disputada no frio duro e no vento cortante de Brøndbyvester, cidade localizada na região metropolitana da capital Copenhagen, apresentou imediatamente o choque de intenções entre os dois times. O gramado pesado do acanhado Brøndby Stadion limitava qualquer tentativa mais elaborada, e a Roma, apesar da superioridade técnica, precisou se adaptar a um jogo de resistência física e disciplina tática. Os mandantes, curiosamente, se apresentaram com três jogadores chamados Jensen na linha de defesa (Bjarne, John e Brian), além de outros dois no banco – Henrik e Carsten.

O Brøndby começou a partida com mais ímpeto, pressionando alto e explorando constantemente o volume físico de seus meio-campistas. Logo nos primeiros minutos, uma finalização forte de John Jensen obrigou Giovanni Cervone a uma intervenção no alto, mas sem tanta dificuldade. A Roma tentou responder através de escapadas rápidas, quase sempre intermediadas por Berthold e concluídas por Völler, mas as primeiras iniciativas esbarraram em posicionamento impecável da defesa dinamarquesa e na segurança de Schmeichel, que se impôs desde os minutos iniciais. Na única chance da etapa inicial, Ruggiero Rizzitelli hesitou e parou no goleiro dinamarquês.

A partida evoluiu com pouca fluidez, e o meio-campo italiano sofreu para criar jogadas. Giuseppe Giannini foi marcado de forma cerrada, quase sempre recebendo o contato imediato de dois adversários, e Fabrizio Di Mauro, quando buscava profundidade pelas laterais, também encontrava dobras constantes. O Brøndby respondeu com lances de transição veloz, especialmente por seu lado direito.

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Ainda no primeiro tempo, Rizzitelli aproveitou a sequência de um rebote do lendário Schmeichel para abrir o placar para a Roma (Scanpix)

No segundo tempo, os dinamarqueses cresceram fisicamente e empurraram a Roma para trás durante alguns minutos, intensificando os cruzamentos e chutes de média distância. A equipe italiana, ciente do risco de se expor, reorganizou as linhas e passou a jogar com pragmatismo absoluto, controlando espaços e diminuindo a frequência das ações ofensivas. O duelo ficou cada vez mais truncado, com ritmo fragmentado e poucas construções limpas.

Isso, contudo, não impediu Brian Jensen a levar perigo numa cabeçada e num levantamento, que encontrou Frank Pingel. No desvio do atacante, Cervone teve tempo de reação e rebateu a melhor chance da partida. Na sequência, a defesa da Roma parou para reclamar de possível falta de Jens Madsen em Antonio Comi, mas Bent Christensen não aproveitou a oportunidade e finalizou para fora. Antes do fim, Pingel voltou a testar o arqueiro giallorosso de fora da área, e ele se virou bem.

Quando o apito final confirmou o 0 a 0, a sensação era de que a Roma havia apenas suportado a noite, sabendo que o mais importante era não perder – e que o verdadeiro confronto seria decidido em condições distintas no Olímpico. Porém, a volta ocorreu depois de chuva intensa e contínua, que deixou o gramado pesado, encharcado e irregular. Ou seja, as trocas rápidas de passes estavam prejudicadas e o cenário de imprevisibilidade seguia afetando ambos os lados.

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Num lance fortuito, o Brøndby empatou na etapa final (Fodboldbilleder)

O Brøndby entrou com personalidade, aproveitando-se da hesitação inicial da equipe italiana e rondando a área romana nos primeiros minutos, obrigando Cervone a intervenções importantes e Aldair a cortes decisivos. A Roma demorou a encontrar ritmo, mas gradualmente ajustou a circulação de bola, principalmente através de Giannini, que buscava organizar a equipe. Ao mesmo tempo, Bianchi mantinha linhas baixas para evitar que os dinamarqueses apostassem em atacar espaços em velocidade, seu grande forte.

O jogo só começou a mudar quando Nela arriscou um chute forte de média distância e Schmeichel espalmou para escanteio. Na sequência do lance, a bola voltou para Sebino, que experimentou novo arremate. O goleiro rebateu para o lado, mas o estado do gramado facilitou que a bola sobrasse para Di Mauro. O meia recuperou com rapidez e, com uma cavadinha precisa, encontrou Rizzitelli, que testou para o fundo das redes desguarnecidas com facilidade. O gol, anotado aos 33 minutos, acendeu o Olímpico e estabilizou a Roma emocionalmente.

Com a vantagem, a Loba voltou a levar perigo em chutes de fora da área. Ainda antes do intervalo, Stefano Desideri testou Schmeichel, que agasalhou a bola. Já no segundo tempo, foi a vez de Nela, em cobrança de falta, tirar tinta da trave. O lateral-esquerdo, que era o homem mais perigoso dos mandantes, acabaria se envolvendo mais tarde num fortuito lance negativo, que colocaria a equipe da casa em apuros.

Afinal, o Brøndby não desistiu. Voltou para o segundo tempo com intensidade renovada e, aos 61 minutos, encontrou o empate em jogada nascida pela direita. Brian Jensen tentou um passe para Henrik Jensen na área, mas Antonio Comi se atirou de carrinho e gerou um desvio que enganou Cervone – o arqueiro já havia saído da baliza para ficar com a bola. A pelota foi em direção à meta e Nela, na desesperada tentativa de cortá-la, acabou jogando-a contra a própria meta. O lance, marcado pela hesitação defensiva e pela dificuldade de controle no terreno molhado, mudou completamente o panorama da semifinal: o 1 a 1 colocava os dinamarqueses na final por conta do gol marcado fora de casa.

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Já nos minutos finais, Völler se antecipou a Rizzitelli e, noutro rebote de Schmeichel, tirou os giallorossi do sufoco e os colocou na final (La Roma)

O jogo mergulhou em drama e o Brøndby passou a se defender, empurrado para trás pelos mandantes, que logo levaram perigo em duas cobranças de falta – Desideri fez a bola raspar a trave e Nela obrigou Schmeichel a espalmar uma bomba para escanteio. A Roma avançou suas linhas, Berthold passou a aparecer como elemento ofensivo e a equipe acumulou finalizações travadas, como as de Völler e Rizzitelli, e cruzamentos desviados. Di Mauro chegou a ter cabeçada salva em cima da linha por Henrik Jensen e o time pressionava sem conseguir recuperar a vantagem. Os dinamarqueses mostravam força mental, e sua resiliência gerava ansiedade na adversária.

A Roma havia se lançado ao ataque desde que o jovem atacante Roberto Muzzi substituíra Comi, aos 71 minutos. Sua insistência só seria premiada nos instantes finais da partida. Após uma sequência de tentativas frustradas, Stefano Pellegrini encontrou espaço para levantar a bola na área e encontrou Berthold, que desviou a trajetória e fez a defesa dinamarquesa afastar mal. Na sobra, Desideri soltou a bomba e Schmeichel acabou batendo roupa, atrapalhado pelo quique da bola no gramado encharcado e pela quantidade de corpos à sua frente. Rizzitelli tentou finalizar, deslizando na lama, mas Völler o antecipou e fuzilou para a rede. O artilheiro alemão, que estava mancando bastante e já desejava ser substituído, pediu a alteração logo após a comemoração. Bianchi, então, lançou o volante Manuel Gerolin para segurar o resultado.

Em minutos derradeiros de pura tensão, uma exaurida Roma se retraiu para proteger a vantagem enquanto o Brøndby partia para o desespero. O estádio acompanhou cada dividida como se fosse um último suspiro, até que o apito final encerrou a batalha. Em meio à lama, ao desgaste e ao nervosismo, a classificação tomou contornos de épico, graças a uma atuação decidida no limite físico e mental. A intensidade da festa no Olímpico refletia o desafogo pelo gol tardio e o peso emocional de uma eliminatória marcada por adversidades climáticas, tensão e erros forçados pelo estado do campo. E, claro, além do alívio, a felicidade por alcançar a terceira decisão de um torneio internacional, após a Copa das Feiras de 1961 e a Copa dos Campeões de 1984.

Os festejos daquele fim de abril, porém, não se repetiriam em nível continental no mês seguinte. Após eliminar o Brøndby, a Roma enfrentou a Inter, outra gigante italiana, na final da Copa Uefa – vendo os nerazzurri prevalecerem por 2 a 1 no agregado e conquistarem o primeiro de seus três títulos da Copa Uefa. Depois de bater tantos vice-campeões nacionais, a própria Loba sentia o amargo sabor da derrota. Entretanto, aquela temporada teria um retrogosto agridoce, uma vez que, em junho, os giallorossi encerrariam 1990-91 superando a Sampdoria e levantando a Coppa Italia.

Brøndby 0-0 Roma

Brøndby: Schmeichel; Bj. Jensen, J. Jensen (Okechukwu), Olsen, Br. Jensen; Madsen (H. Jensen), Rasmussen, Vilfort, Christofte; Christensen, Pingel. Técnico: Morten Olsen. Roma: Cervone; Nela, Berthold, Comi, Aldair, Carboni; Desideri, Di Mauro, Giannini (Gerolin); Rizzitelli, Völler. Técnico: Ottavio Bianchi. Árbitro: Lajos Németh (Hungria) Local e data: Brøndby Stadion, Brøndby (Dinamarca), em 10 de abril de 1991

Roma 2-1 Brøndby

Roma: Cervone; Berthold, Aldair, Comi (Muzzi); Pellegrini, Desideri, Di Mauro, Nela; Giannini; Rizzitelli, Völler (Gerolin). Técnico: Ottavio Bianchi. Brøndby: Schmeichel; Bj. Jensen, J. Jensen, Olsen, Br. Jensen; H. Jensen (Elaho), Rasmussen (Madsen), Vilfort, Christofte; Christensen, Pingel. Técnico: Morten Olsen. Gols: Rizzitelli (33′) e Völler (88′); Nela (contra; 61′) Árbitro: Emilio Soriano Aladrén (Espanha) Local e data: estádio Olímpico, Roma (Itália), em 24 de abril de 1991

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