Em 2003, o Milan amargou vice mundial para o Boca Juniors em jogo que evocou memórias ruins | OneFootball

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·28 de junho de 2025

Em 2003, o Milan amargou vice mundial para o Boca Juniors em jogo que evocou memórias ruins

Imagem do artigo:Em 2003, o Milan amargou vice mundial para o Boca Juniors em jogo que evocou memórias ruins

No Japão, os fantasmas se divertem – e o Milan já foi alvo de sua troça. Em 2003, o time italiano retornava à Copa Intercontinental quase uma década após sua participação anterior, nove anos antes, em 1994, quando foi a Tóquio e terminou derrotado pelo Vélez Sarsfield. Parece, entretanto, que os jocosos espíritos daquela noite continuaram rondando a região metropolitana da capital japonesa e, em Yokohama, deram as caras novamente, assombrando o Diavolo. Contra o também argentino Boca Juniors, os rossoneri foram vítimas do mesmo algoz, o técnico Carlos Bianchi, e viram o ídolo Alessandro Costacurta ser vilão outra vez.

Então sob o comando de Carlo Ancelotti, o Milan tinha o capitão Paolo Maldini e o já citado Costacurta, segundo na hierarquia rossonera, como únicos remanescentes da Copa Intercontinental de 1994. A vaga para o torneio de 2003 foi conquistada após uma histórica final de Champions League: na primeira decisão totalmente italiana da competição, o Diavolo superou a Juventus nos pênaltis, com atuação memorável do goleiro Dida.


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Além do arqueiro, outros brasileiros brilhavam no elenco milanista: Kaká, em início de trajetória estelar pelo clube e pela Europa, o multicampeão Cafu – já veterano, mas em seus primeiros meses de Diavolo – e Serginho. No Boca Juniors havia também um representante do Brasil: Iarley, contratado após destaque pelo Paysandu. Ele substituía Marcelo Delgado, goleador xeneize e principal artilheiro da Copa Libertadores ao lado de Ricardo Oliveira, que jogava no Santos e teria futuro rossonero. Naquela competição, ganha pelos argentinos com um placar agregado de 5 a 1 sobre o Peixe, também se sobressaiu o jovem Carlos Tevez, que chegaria ao Japão sem ritmo de jogo e, por decisão de Bianchi, ficaria no banco.

Na metade do primeiro tempo, o dinamarqu6es Tomasson abriu o placar para o Milan (AFP/Getty)

Bianchi, aliás, já era uma figura mítica na competição. Além de ter vencido o Milan em 1994, à frente do Vélez, em 2001, já com o Boca, derrubara o Real Madrid. A Copa Intercontinental de 2003 seria a última com um clube italiano. Em 2005, a Fifa assumiu a organização do Mundial de Clubes, abolindo o antigo formato, em que os campeões europeus e sul-americanos se enfrentavam, e acrescentou times de outros continentes à disputa. No novo modelo, os rossoneri e os xeneizes voltariam a se enfrentar em 2007, com triunfo da trupe de Ancelotti.

Voltando a Yokohama, 2003, o confronto entre Milan e Boca Juniors teve início com os italianos assustando. Aos 2, Kaká chutou de fora de área, após lançamento de Andrea Pirlo, mas mandou por cima da meta defendida por Roberto “Pato” Abbondazieri. Os argentinos tiveram sua primeira oportunidade aos 18, após uma falta sobre Guillermo Barros Schelotto, que resultou em cartão amarelo para Kaká. Na cobrança, Raúl Cascini encontrou Matías Donnet livre, e o enganche obrigou Dida a fazer uma grande intervenção ao saltar no canto inferior esquerdo. Rolando Schiavi, no escanteio seguinte, também exigiu bela defesa do brasileiro. Os argentinos cresciam no jogo.

Contudo, quem marcou primeiro foi o Milan. Aos 23 minutos, Pirlo lançou em profundidade, Andriy Shevchenko deixou passar, e Jon Dahl Tomasson, com frieza, finalizou entre as pernas de Abbondanzieri. A vantagem europeia foi estabelecida contra o curso do jogo. Mesmo atrás, os sul-americanos mantiveram o ímpeto. Aos 28, Schelotto cruzou, Iarley antecipou Maldini e quase encobriu Dida, que espalmou para o centro da área. Donnet, desta vez, aproveitou e arrematou com precisão, igualando o placar.

No Geral, Milan e Boca Juniors fizeram um jogo morno, de poucas oportunidades para cada time (AFP/Getty)

Apesar do empate, o Milan não se deixou abalar. Logo após o revés, Tomasson perdeu boa chance, e a bola ficou com Pirlo que mandou para a área. A defesa boquense afastou e Kaká decidiu arriscar um lindo chute da meia-lua, carimbando a trave esquerda dos argentinos. O arremate que por pouco não recolocou o Diavolo em vantagem foi suficiente para segurar o ímpeto dos argentinos. Assim, o restante da etapa inicial foi de equilíbrio. A posse alternava, mas sem grandes emoções. A igualdade no marcador parecia satisfazer ambos os times, que preferiram evitar correr riscos desnecessários.

Se no início do primeiro tempo quem dominava a posse de bola era o Milan, no começo do segundo foi o Boca que manteve a pelota, trocando passes e estudando os rossoneri. A etapa complementar seguiu morna até pouco após os 60 minutos, quando Maldini recebeu de Shevchenko, após um belo lançamento de Pirlo, e parou numa boa defesa de Abbondanzieri. Na casa dos 66, foi a vez de Kaká assustar o arqueiro, com um chute que saiu pela linha de fundo.

Desde o início do segundo tempo, a transmissão oficial da partida filmava insistentemente o jovem Tevez, de apenas 19 anos, que, em tempos pré-Lionel Messi, era a maior promessa argentina da época. Aos 73 minutos, como se atendesse ao “pedido” da diretoria de geração de imagens, Bianchi colocou Carlitos no lugar de Schelotto. O garoto logo participou de um ataque xeneize: recebeu de Sebastián Battaglia e tentou um chute, que foi bloqueado pela zaga. A sobra ficou com o capitão Diego Cagna, que arriscou e, devido a um desvio na zaga, ganhou o escanteio. Após a cobrança, Rolando Schiavi escorou para Donnet, que também levou perigo com uma cabeçada.

Depois de igualdade no tempo normal, o jogo entre italianos e argentinos foi para a prorrogação (AFP/Getty)

Aos 77 minutos, Ancelotti decidiu colocar Rui Costa no lugar do amarelado Kaká. Já aos 79, o português finalizou de longe e, com desvio, assustou a defesa adversária. Na reta final da segunda etapa, o jogo voltou a ficar morno e só esquentou nos acréscimos: Battaglia encontrou Iarley, que fez o pivô para Tevez, que desperdiçou, chutando alto. Com a persistência do empate, a prorrogação entrou em cena. Na época, valia a regra – já extinta – do silver goal. Ela estabelecia que, caso uma equipe estivesse à frente do placar ao intervalo do tempo extra, a partida se encerraria. O que não ocorreu, já que os dois times, cautelosos, pouco fizeram.

A etapa final da prorrogação, por sua vez, começou intensa. Shevchenko recebeu – mais um – belo lançamento de Pirlo, dominou no peito e chutou de voleio, forçando Abbondanzieri a intervir. Aos 112 minutos, o Boca Juniors teve uma boa oportunidade a partir de falta de uma posição perigosa, mas Donnet parou num desvio na barreira, que facilitou a vida de Dida. Depois, na casa dos 115, o Milan teve um tiro livre a seu favor e Pirlo acabou encontrando a cabeça de Pippo Inzaghi, que balançou as redes. Entretanto, o atacante marcou em posição irregular e o gol foi anulado.

Para dois times exaustos, restava a disputa de penalidades. O Milan depositava todas as suas fichas em Dida, pegador de pênaltis. O brasileiro já tinha sido herói no Mundial de Clubes da Fifa, quando ajudou o Corinthians a superar o Vasco e levantar a taça, em 2000, e também contra a Juventus, já pelo Diavolo, na decisão da Champions League de 2003.

Vilão em Tóquio e em Yokomaha, Costacurta, bandeira rossonera, perdeu pênalti de forma bizarra (AFP/Getty)

O primeiro a bater foi Pirlo. Após uma partida sensacional, o camisa 21 bateu forte, mas de maneira centralizada e numa altura que tornou fácil a defesa de Abbondanzieri. Schiavi converteu para o Boca e jogou a pressão para o lado do Milan. Porém, Rui Costa guardou sua cobrança e Dida acertou o canto no chute de Battaglia, restabelecendo o empate na disputa após duas penalidades para cada lado.

O Milan, entretanto, não aproveitou a vantagem psicológica. Clarence Seedorf isolou sua batida e Costacurta apareceu com uma das piores cobranças da história do futebol: chutando mais o chão do que a bola, arrematou fraco, quase no meio do gol, e foi defendido por Pato Abbondanzieri. Do outro lado, Donnet e Cascini converteram, selando o triunfo do Boca Juniors. Vale destacar que o histórico zagueiro milanista havia feito uma partida tenebrosa contra o Vélez Sarsfield, em 1994: cometeu o pênalti que resultou no primeiro gol de El Fortín, falhou bisonhamente no segundo e ainda foi expulso. Novamente, era negativamente decisivo no Japão.

Mais uma vez, o Milan sucumbia a um time argentino – e, novamente, a Bianchi. O mestre das decisões intercontinentais presenteava o Boca Juniors e a si próprio com sua terceira taça no torneio. Seria justamente a última conquista de sua carreira. Os italianos lamentaram a nova derrota em solo asiático por pouco tempo. Afinal, reagiram ao longo da temporada e foram campeões da Serie A, em 2004. Os rossoneri ainda preservaram a maior parte das peças do elenco e, em 2007, conseguiram a revanche sobre os xeneizes no Mundial de Clubes.

Milan 1-1 Boca Juniors (1-3 nos pênaltis)

Milan: Dida; Cafu, Costacurta, Maldini, Pancaro; Gattuso (Ambrosini), Pirlo, Seedorf; Kaká (Rui Costa); Shevchenko, Tomasson (Inzaghi). Técnico: Carlo Ancelotti. Boca Juniors: Abbondanzieri; Perea; Schiavi, Burdisso, Rodríguez; Battaglia, Cascini, Cagna; Donnet; Barros Schelotto (Tevez), Iarley. Técnico: Carlos Bianchi. Gols: Tomasson (23’); Donnet (29’) Pênaltis convertidos: Rui Costa; Schiavi, Donnet e Cascini Pênaltis perdidos: Pirlo, Seedorf e Costacurta; Battaglia Melhor em campo: Donnet Árbitro: Valentin Ivanov (Rússia) Local e data: estádio Internacional de Yokohama, Yokohama (Japão), em 14 de dezembro de 2003

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