Central do Timão
·20 de novembro de 2025
Ex-zagueiro do Corinthians relembra trajetória no clube e revela bastidores da carreira

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Campeão mundial em 2012 e peça importante no título brasileiro de 2015, o ex-zagueiro Felipe Augusto, que anunciou a aposentadoria no início de 2024, concedeu entrevista ao Meu Timão. O ex-corinthiano revisitou sua trajetória no futebol, relembrou momentos decisivos e comentou a relação com a torcida alvinegra.
Logo no início da entrevista, Felipe contou como costuma ser reconhecido pelos torcedores e qual clube representa sua maior identificação. Questionado se é o Felipe do Corinthians, do Porto ou do Atlético de Madrid, ele respondeu sem hesitar. “Aqui no Brasil, do Corinthians, em Portugal, o do Porto (risos), mas o meu vínculo maior é o Corinthians porque é onde eu moro, meu Brasilzão. Então, é algo que eu tenho uma ligação muito boa, gosto, sofro agora, enfim”, declarou.

Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
O ex-jogador também retomou suas origens antes de ingressar no profissional, lembrando a rotina exaustiva de trabalho antes de surgir a chance no União Mogi. “Antes de ir pro União Mogi, eu trabalhava num mercado, num mercadão (…). Acordava 3h40 da manhã, aí conciliava com treino e estudo ainda. A gente saia daqui 3h40 para carregar, e aí eu saia de lá umas 7h para a gente fazer entrega nos restaurantes. Aí eu voltava e chegava aqui mais de 13h30, mais ou menos. Os treinos eram à tarde, eu treinava à tarde, corria… Mas assim, tudo foi muito bom que deu certo, né?”.
Felipe explicou que sua primeira oportunidade de verdade veio na Valtra, onde recebia por jogo, até receber a proposta para ir ao profissional. Ele contou como tomou a decisão e revelou a reação do diretor. “O diretor da Valtra (…) falou: ‘Felipe, é o seguinte, você quer manter na Valtra, ganhando ali por jogo e tal ou você quer ir pro profissional jogar no União Mogi?’. Aí eu falei: ‘jogar para o profissional, é o que eu quero, sei lá, tentar a sorte aí, né’’. E aí ele pegou, mesmo contrariado: ‘não, tudo bem’. Me inscreveu (no profissional do União). Não ganhava um real. Lá estava (registrado) um salário mínimo, mas nunca ganhei nada. E aí comecei a jogar pelo União Mogi”.
Mais adiante, ele relembrou como chamou a atenção do Corinthians enquanto se destacava pelo Bragantino na Série B, especialmente em uma partida observada por Fábio Carille.
“Quando comecei a jogar o Campeonato Brasileiro (Série B), com dez partidas mais ou menos que eu já tinha feito ali pelo Bragantino, o Carille foi assistir um jogo, que não lembro (…) Aí ele foi lá pra ver um zagueiro, quando o Corinthians estava precisando de um zagueiro, e ele foi observar. Aí quando ele falou que começou o jogo e tal, ele observando o zagueiro, sentado e tudo, aí teve uma bola que, pum, lançou assim, o atacante saiu na minha frente e eu busquei. Aí ele olhou assim… ‘O moleque é rápido’. Beleza, continuou o jogo, aí uma bola, pum, alta assim, eu venho, eu atropelo. Aí ele olhou, aí começou já a sair do zagueiro que ele estava querendo, mudou o foco… Ficou olhando pra mim. Esse jogo ele falou que eu destruí. Tirava a bola, fazia a linha e tudo.”, disse.
“Foi quando ele ligou pros caras, falou, ‘ó, tem um zagueiro aqui no Bragantino, bom, mas é lógico, precisa lapidar, muita coisa e tal, mas tem potencial, tem potencial’. E foi aí, umas dez partidas (de Bragantino), que eu já sabia que o Corinthians estava atrás. Começou o interesse, Corinthians, aí depois começou a vir uns outros clubes… Aquilo já começou a mexer comigo. ‘Há um ano estava no União Mogi, agora tem o Corinthians’. Uma parada muito louca, né? Surreal. Tipo, eu nunca tive base, o negócio aconteceu assim de uma hora pra outra. Até porque muitos amigos meus só foram saber que eu estava no Corinthians quando eu fui pro Mundial. Os caras: ‘ô, louco!’. Me ligaram. Tipo, nem sabiam, porque eu estava jogando na várzea”, contou.
Felipe lembrou também o momento em que encerrou a temporada pelo Bragantino e se apresentou ao Timão, concretizando o sonho do profissional. Ao recordar sua chegada ao CT, Felipe destacou o impacto de conviver com atletas consagrados e como foi recebido pelos companheiros.
“Acabou o ano, eu fiz os 34 jogos (na Série B, pelo Bragantino) e fui me apresentar em 2012 no Corinthians. Foi uma loucura, porque, tipo, é que nem eu falei, eu sempre gostei muito de esporte. Jogava basquete, jogava vôlei, andava de skate, tudo, tudo na minha vida. Recebi proposta pra jogar basquete, recebi proposta pra jogar vôlei, recebi proposta pra andar de skate. Neguei tudo. Se for (para ser profissional), vai ser só para o futebol.”, revelou.
“Quando eu chego ali no Corinthians, em 2012, logo o primeiro que me recebeu foi o Chicão. ‘Pô, Felipe, seja bem-vindo’. Tipo, o cara falou meu nome. Caraca, meu irmão, o cara lá de Mogi, da roça, aquilo já me assusta… E todo mundo me recepcionou, me tratando super bem. E aí eu fiquei, poxa, cara, que loucura isso, né, mano? Tipo, os caras sabem quem sou eu e tal. Enfim, aí começaram a me tratar super bem e tudo. E aí eu cheguei, como eu falei, eu não tive uma base, eu cheguei com muita dificuldade. Mas você via que todos queriam me ajudar. Ficava na minha cabeça: ‘putz, cara, eu preciso melhorar, eu preciso melhorar’.”, continuou.
Ele relatou que o suporte técnico de Tite, Carille e Paulo André foi essencial para sua evolução e adaptação ao nível exigido pelo Corinthians. “Mas só que todo mundo já estava ciente. Só que eu tinha essa cobrança. Então, quem mesmo sempre me chamava e falava: ‘poxa, calma, fica tranquilo’, era o Carille. O Tite falava muito comigo sobre isso. E aí tem o Paulo André, que era o cara com quem eu ficava muito ali. Os caras já sabiam, já estavam cientes daquilo. Mas só que pra mim era complicado, porque eu falei: ‘Poxa, eu fiz uma temporada legalzinha no Bragantino, chego aqui, não consigo tocar uma bola’. Mas, enfim, todo mundo me tratando super bem e tal, comecei a melhorar. Todo mundo me orientando. ‘Pô, faz isso, faz isso aqui’. Comecei a já ser um pouquinho mais desenrolado.”
O ex-zagueiro também revelou como recebeu a notícia de sua inscrição para o Mundial de Clubes, experiência que marcou sua carreira para sempre.
“E aí o Tite me chama. Ele falou: ‘ó, a questão do Mundial, vamos levar tantos atletas e pelo que eu vejo aqui, eu quero que você entenda, não é por dó, não é por nada, é por mérito que eu vou te levar’. Put*, aquilo me deu um negócio que eu falei ‘meu Deus do céu’. Porque eu não estava contando (com a inscrição ao Mundial), sinceramente. Não contava. Não sou muito de chorar assim, sabe? Mas, mano, me arrepiei inteiro. Ao mesmo tempo, um medo. Enfim, treinei com todos. Participei. Fui campeão mundial. Então, posso dizer aí que eu sou um abençoado.”
Entre 2013 e 2014, Felipe ainda buscava estabilidade no clube e convivia com dificuldades naturais para quem não teve formação de base. Segundo ele, o ambiente criado por Tite foi fundamental para seu desenvolvimento naquele período.
“Em 2013, eu comecei a jogar o Campeonato Paulista. O Tite via uma oportunidade assim de colocar os meninos. Colocava eu, o Giovanni na época, até o Zizao jogou um jogo. E aí eu comecei a jogar um pouquinho mais, mas assim, ainda tinha muita dificuldade. Ele sabia disso, o Tite sabia. Como eu ia melhorar? Não é só treinando, precisa de jogo, a gente precisa entender a função, como o atleta se movimenta… Cada jogo é diferente. Aí ele começou a colocar um pouquinho mais. Colocava um jogo, passava ali, depois colocava um outro jogo, ele via uma oportunidade certa. Joguei pouco em 2012, aí em 2013, uns joguinhos a mais. Aí, em 2014, eu já estava jogando mais, porque aí veio o Mano Menezes. Ele já me bancou um pouquinho mais, mas mesmo assim, ainda estava associando muita coisa.”, comentou.
O atleta contou que 2014 foi um ano complexo emocionalmente, com críticas pesadas e falta de confiança. Ele revelou que precisou se blindar para retomar o foco.
“Em 2014, eu joguei mais e foi onde eu tive mais dificuldade, porque eu não entendia o processo (…) Era aquele nervosismo. A bola vem e você já está nervoso. O primeiro passe acabou, você já ferrou sua cabeça… E começou a acontecer isso em alguns jogos específicos. E aí, mano, a massa vem, né? Enxurrada de coisa (críticas). Começou aquela parada de Instagram, era tudo muito novo. Abria esporte, abria televisão, tudo que eu via, jornal, não sei o que, era me criticando. Isso mexe. Mexe muito. Mas só que eu comecei a entender, por exemplo, eu sentei assim, conversei com meu pai, eu conversei com a minha esposa e tudo. Meu pai fala: ‘pô, fecha o Instagram’. A minha esposa também falou, para de ver essas coisas e ‘vambora’. Peguei, bloqueei, deixei fechado, não via mais nada. E comecei a treinar. Aí eu vi que comecei a melhorar no treino. Eu falei: ‘Poxa, o negócio tá funcionando’.”
Mesmo diante das críticas, Felipe começou a mostrar evolução e recebeu propostas de outros clubes, além de ter o apoio do próprio Corinthians para continuar.
“No final de 2014, eu comecei to jogar mais. Mas antes eu já tinha recebido proposta do Atlético Paranaense para sair, tinha recebido proposta do Flamengo e, mais, se não me engano, Cruzeiro na época. Só que aí o Edu Gaspar me chama: ‘vai chegar o seu momento, vai chegar a sua hora’. A gente quer jogar… Ele: ‘meu, você evoluiu muito’. Eu lembro que meu contrato mudava bastante, né, vinha todo mês, todo ano dava, era um upzinho, e aí eu lembro que eles renovaram comigo. Então, tipo, eu falei, ‘poxa, no meio dessa dificuldade (e eles ainda renovaram)’… Então isso me fez acreditar mais. Comecei a trabalhar, trabalhar, trabalhar. Comecei a focar mais, e treinando, treinando e, mesmo com essa dificuldade, jogando, jogando”, afirmou.
A virada definitiva ocorreu em 2015, com a volta de Tite. Felipe contou que se sentia preparado e que o treinador confirmou essa confiança logo nos primeiros treinos.
“Aí vem, acaba 2014, chega 2015 e volta o Tite. No finalzinho (de 14) eu comecei a ir muito bem. O Edu Gaspar chegou em mim antes do Tite chegar, falou assim: ‘Felipe, é o seguinte, você está muito preparado, você já está muito bem, você sente isso?’. Aí eu falei: ‘eu sinto, eu estou bem mais tranquilo’. Aí ele falou assim: ‘então tá, o Tite vai chegar, eu vou conversar com ele que você está preparado, tudo bem?’. Tipo, já para ver o que eu estava, eu falei: ‘é isso mesmo, vamos embora’.”, disse.
“Chegou o Tite, tivemos a conversa. No segundo dia de treino, o Tite chegou em mim e falou assim: ‘está preparado?’. Bem perto assim, né, olhando no olho. Aí eu falei: ‘eu estou’. Ele: ‘então vai jogar’. Enfim, aí comecei a treinar bem. Ele viu já que eu estava totalmente diferente, o estilo de treino… E aí ele me bancou na pré-Libertadores, que foi aquele jogo contra o Once Caldas, que eu venho e faço o gol. Ele puxa no vídeo inteiro e tal, ele fala: ‘eu não falei, eu disse, eu disse, falei pra todo mundo’, porque eu tinha uma massa de críticos e ele bancou e deu certo. E aí foi ali que começou a minha saga mesmo, vamos dizer assim, no Corinthians. Foi superação”, finalizou.
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