AVANTE MEU TRICOLOR
·29 de setembro de 2025
Explicamos de uma vez por todas o projeto de parceria por investimentos em Cotia (e como ele pode ser um tiro no pé do São Paulo)

In partnership with
Yahoo sportsAVANTE MEU TRICOLOR
·29 de setembro de 2025
Duas novas reportagens publicadas na imprensa no decorrer da última semana jogaram mais luz sobre o fundo de investimento em participações (FIP) que o São Paulo pretende criar, em parceria com a Galápagos, para gerir suas categorias de base.
A ideia tem sido desenhada desde 2023 e ganhou forma nos últimos meses, com previsão de aporte inicial de R$ 250 milhões. Do total, R$ 200 milhões serão destinados ao CFA Laudo Natel, em Cotia, enquanto R$ 50 milhões servirão para reduzir parte da dívida do clube.
O modelo, regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foi construído após consultas a 58 potenciais investidores — entre bancos, fundos e outros agentes do mercado. Depois de várias apresentações e ajustes, a Galápagos tornou-se a parceira escolhida para viabilizar o plano.
O desenho prevê a criação de uma unidade de negócios própria para a base, apartada da associação civil que hoje controla o futebol profissional. Nessa nova estrutura, o São Paulo manterá 70% de participação, e os investidores ficarão com 30%.
A base, tradicionalmente disputada dentro da política interna do clube, deixaria de ser administrada por dirigentes amadores para passar às mãos de profissionais. O fundo terá um conselho gestor com dois membros indicados pelo São Paulo e um pelos investidores, e a diretoria financeira será escolhida pelos sócios minoritários. Já o CEO será indicado pela Galápagos, acompanhado de auditores externos, e sob sua supervisão estarão cargos estratégicos como diretor operacional, gestor financeiro, diretor de vendas e head de scouting, sem a possibilidade de que conselheiros são-paulinos ocupem essas funções, de acordo com o portal ‘Arquibancada Tricolor’.
O clube faz questão de ressaltar que o modelo não prevê cessão de direitos econômicos de atletas nem divisão de receitas diretas de vendas. A participação dos investidores se limitará a 30% do resultado líquido da operação. Em outras palavras, eles entram apenas na parcela de lucro que exceder despesas e investimentos.
Hoje, de acordo com levantamento da diretoria, a base gera uma receita média anual de R$ 123 milhões em transferências, contra R$ 48 milhões de custos de formação — um superávit de R$ 75 milhões. Atualmente esse valor fica integralmente com o São Paulo; no novo arranjo, 70% seriam mantidos pelo clube e 30% destinados aos investidores.
A discussão está justamente na relação custo-benefício. Se a base mantiver apenas sua média histórica, o São Paulo dividirá um resultado já positivo com terceiros. O projeto, então, só se justificaria caso o novo modelo aumente significativamente a arrecadação. Para isso, os R$ 200 milhões a serem injetados em Cotia deverão servir como alavanca.
A previsão é de que, a partir do terceiro ano, o resultado líquido quase dobre em relação à média dos últimos tempos, chegando a R$ 159 milhões anuais. Uma das estratégias para atingir esse crescimento está na ampliação da rede de captação de talentos. Hoje são apenas oito olheiros, e o plano prevê 20, com atuação internacional em países como Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador.
Além disso, serão criados quatro clubes parceiros em regiões estratégicas do Brasil — São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná, segundo o portal ‘Sport Insider’. Esses times funcionarão como satélites de Cotia, envelopados pela metodologia do Tricolor, e permitirão captar jovens que ainda não têm idade para se mudar para o centro de formação.
Outro ponto central do projeto é a modernização da infraestrutura. Está prevista a construção de um campo adicional, a reforma dos gramados já existentes e a instalação de um campo sintético de última geração. Também será erguido um ginásio coberto. O investimento contempla ainda a contratação de atletas semiprontos a partir do sub-15, visando a encurtar o tempo de formação e aumentar as chances de retorno esportivo e financeiro.
No desenho financeiro, parte do aporte também se destinará a aliviar o passivo tricolor. Embora R$ 50 milhões representem pouco diante da dívida total, a diretoria calcula que, ao quitar empréstimos mais caros, o clube economizará cerca de R$ 13 milhões em despesas financeiras anuais.
O plano também prevê que os custos da base, hoje arcados pela associação, passem a ser bancados pelo fundo, liberando recursos para o futebol profissional.
Um aspecto que gera debate é o tempo de retorno e a possibilidade de o clube recomprar os 30% vendidos. Segundo o ‘Sport Insider’, o contrato preverá opções de recompra no décimo, no 15.º e no 20.º ano de operação O valor dependerá dos resultados obtidos: se a base for muito lucrativa, os ganhos dos investidores compensarão o aporte inicial, permitindo que o São Paulo recupere a participação por um preço simbólico. Se, por outro lado, o plano fracassar, a recomposição sairá mais cara.
Internamente, a diretoria tem promovido um ‘roadshow’ para esclarecer dúvidas de conselheiros e jornalistas. A proposta encontra resistências, seja por receios quanto à perda de controle da base, seja por falta de informação precisa sobre o modelo.
O presidente Júlio Casares evita usar termos como “venda da base”, mas admite que a governança será alterada e que os investidores terão peso nas decisões. A aposta é que a profissionalização compense a perda de 30% do resultado financeiro, ampliando o potencial de Cotia em comparação a rivais como Palmeiras e Flamengo.
O São Paulo reforça que não haverá pressa para negociar atletas, com as primeiras vendas projetadas apenas para a terceira janela após a criação do fundo. O objetivo é estruturar a nova operação, atrair jovens de maior potencial e consolidar Cotia como referência.
Atualmente o centro de formação reúne 296 atletas, divididos meio a meio entre níveis A/B e C/D. O objetivo é chegar a 708, com 90% pertencentes ao nível A/B, considerados de alto potencial. O projeto, se aprovado, representará uma mudança profunda não apenas no financiamento, mas também na forma de gerir a base.
A profissionalização da estrutura, a expansão do alcance geográfico e os investimentos em infraestrutura e captação são os pilares da proposta. A expectativa da diretoria é levar o tema à votação no Conselho apenas quando entender que há maioria garantida para aprovação. Também deverá ser necessária a aprovação de uma assembleia-geral, conforme determinado pelo artigo 43 do estatuto.
Ao vivo
Ao vivo
Ao vivo