Calciopédia
·12 de abril de 2022
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·12 de abril de 2022
Este mês, um dos clubes mais tradicionais da Itália, o Catania, foi excluído da terceira divisão. A notícia não pegou os italianos de surpresa, já que faz algum tempo que o clube passa por momentos difíceis – incluindo a falência que foi decretada no final de 2021.
O caso é emblemático, pois mostra que o simples fato de transformar um time em empresa não é suficiente para fazê-lo permanecer de pé, vencendo e, mais, sanando as dívidas. Quando um clube se torna sociedade anônima de futebol, ele ganha os bônus de uma empresa, como mais liberdade para ter investidores. Porém, há também os ônus, o que inclui uma fiscalização mais rígida e até o risco de quebrar – fazendo com que volte para as divisões iniciais.
Entenda a seguir o que será do Catania daqui para frente e como o Brasil poderá usar o caso como exemplo. De acordo com este levantamento exclusivo sobre a Lei da SAF, os clubes brasileiros ainda têm muito que ponderar antes de se transformarem em empresas!
Quando o Catania adotou o formato de empresa, torcedores viram uma luz no final do túnel. Para eles, a mudança poderia trazer alívio para as contas e fazer o clube se reposicionar em campo. Porém, não foi isso o que ocorreu.
Com uma dívida de mais de 56 milhões de euros, o Catania teve o pedido de recuperação recusado pelas autoridades e não conseguiu um comprador para arcar com as pendências. O Tribunal de Catania também não concedeu a autorização temporária para o clube disputar a temporada atual, o que frustrou os torcedores.
A partir de agora, o clube italiano vai fechar as portas e começar com um novo elenco para participar da Serie D, a mais baixa do país. Ou seja, é como se o Catania estivesse iniciando neste momento. No entanto, o time foi fundado em 1946.
A história do Catania mostra que não basta um clube se transformar em clube-empresa para resolver todos os problemas. Há casos ainda mais extremos. O Belenenses de Portugal foi vendido para um grupo que adquiriu 51% do clube. Porém, longe de fazer uma boa gestão, os novos investidores não usaram os recursos disponíveis, não discutiram com a sociedade civil e ainda se envolveram com corrupção.
Na Europa, as regras das SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol) existem há algum tempo, mas nem todos os times quiseram aderir. O Barcelona e o Real Madrid, por exemplo, continuam tendo como donos os milhares de sócios que possuem.
No Brasil, a Lei da SAF foi aprovada recentemente e está rendendo vários debates, pois muitos clubes estão endividados. O carioca Botafogo foi um dos primeiros a anunciar a mudança. O clube foi vendido para o americano John Textor, em uma transação milionária.
Porém, como se observa nos exemplos dos clubes italianos e português, a simples alteração no modelo de gestão não garante sucesso. Para o jornalista e pesquisador sobre o assunto, Irlan Simões, a SAF pode ser uma boia de salvação ou uma oportunidade de melhoria. “Tem clubes que estão organizados, com suas contas equilibradas, não têm muitas dívidas e enxergam a SAF como uma possibilidade de dar um salto, sair da prateleira de baixo para a de cima. E isso pode acontecer? Pode”, afirma em entrevista para o site de esporte bet Betway.
No caso dos clubes que já enfrentam dificuldades, a solução seria temporária. “Se a gente estiver falando dos clubes que estão muito endividados, a SAF é uma saída quase inevitável. Deve ser vista como um meio, não um fim. Podem criar SAFs ao mesmo tempo em que profissionalizam a associação”, pondera Simões.
Até o momento, o que se sabe da lei brasileira é que ela foi elaborada às pressas e, talvez por isso, não contemple todos os cenários. Para pesquisadores e entusiastas do futebol, a forma como as SAFs foram definidas é o grande entrave e é motivo de desconfiança.
“De forma geral, a lei partiu da premissa da urgência urgentíssima. Sob essa bandeira pulou etapas que seriam de grande valia para, quiçá, elaborarmos uma lei interessante (ou mais interessante)”, afirma Luciano Motta, advogado especializado em direito desportivo e autor do livro ‘O mito do clube empresa.
Alguns times brasileiros já afirmaram que continuarão como estão, como é o caso do Palmeiras. Até porque, como tem se observado, o que vale é o tipo de gestão que se faz e não se o clube é uma empresa ou não.