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·16 de dezembro de 2022

Farfán encerra sua carreira com grandes momentos por clubes e um gol pela seleção que será gritado eternamente

Imagem do artigo:Farfán encerra sua carreira com grandes momentos por clubes e um gol pela seleção que será gritado eternamente

O futebol deu muito a Jefferson Farfán. Inclusive, a gratidão eterna de todo e qualquer peruano que vivenciou a alegria de rever a seleção nacional numa Copa do Mundo depois de 36 anos. O atacante construiu uma carreira respeitável, com títulos por clubes locais e também boas fases no exterior. Mas nada, nada, se compara àquele gol na repescagem contra a Nova Zelândia. Foi um dos momentos mais significativos do futebol peruano, que permitiu a diferentes gerações experimentarem a sensação de disputar novamente um Mundial. Foi o momento que transformou o ídolo nacional num cara que transcendeu a barreira antes intransponível a tantos grandes jogadores peruanos. Aos 38 anos, Farfán anunciou nesta sexta-feira que pendurará as chuteiras. Sabe que sua história no futebol perdurará enquanto aquele grito de gol continuar ecoando – e continuará.

“Os anos passam e ficam tantas recordações incríveis de toda uma vida fazendo o que mais amo: jogar futebol. Não vou negar que entram também sentimentos de tristeza, de saber que esta etapa da minha vida se encerra, mas a alegria pelo vivido sobrepõe isso e me dá forças para olhar ao futuro com grande esperança. A vida e o futebol me ensinaram que não importa quantas vezes você cai, mas sim quantas vezes você volta a se levantar para seguir lutando”, escreveu Farfán, em suas redes sociais.


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“Quero que saibam que sempre estarei aqui para meu clube e para meu bonito país. Que não há obstáculo que nos detenha, que se nos unirmos, somos mais fortes e conseguiremos tudo. Quero que nossas crianças nunca deixem de lutar por seus sonhos. Obrigado a todos por me acompanharem nessa trajetória da minha vida, por me fazerem mais forte e por serem minha motivação para seguir lutando. Em especial, aos que sempre estiveram do meu lado desde o começo, nas horas boas e sobretudo nas ruins, como minha mãe e minha família. Obrigado, futebol”, encerrou.

Nascido e criado em Lima, Farfán descobriu muito cedo o que a seleção peruana significava. Os tios Roberto Farfán, Rafael Farfán e Luis Guadalupe passaram todos pela Blanquirroja. O contato com o futebol veio desde cedo a “Foquita” – que inclusive herdava o apelido do “Foca” Roberto. E a trajetória nos gramados, que teve uma passagem pela base do Deportivo Municipal, deslanchou a partir de sua chegada ao Alianza Lima em 1999. Tinha 14 anos e foi muito precoce, a ponto de estrear com o time principal aos 16 anos.

Torcedor fanático do Alianza Lima, Farfán não demorou a se transformar em ídolo. Virou titular absoluto aos 17 anos e ganhou o prêmio de jogador revelação aos 18. Já com 19, conquistou o Campeonato Peruano com o gol decisivo na final. Seria eleito também o melhor em atividade no país. Ainda ficaria no Alianza durante a primeira metade de 2004, participando de mais uma conquista do Campeonato Peruano. Mas, àquela altura, o atacante promissor atraía o interesse de vários clubes europeus e assinaria com o PSV. Desenvolveria-se ainda mais num local famoso por fazer garotos sul-americanos estourarem.

Farfán pode não ter alcançado o nível de desempenho de outros prodígios do PSV, mas aquele certamente foi seu auge por clubes. O atacante defendeu os Boeren por quatro temporadas, com 67 gols e 25 assistências em 170 partidas. Em duas edições da Eredivisie, o peruano chegou à expressiva marca de 21 gols. Melhor ainda, levou quatro vezes o título nacional e ainda seria semifinalista da Champions. Mal passava dos 20 e poucos anos, mas já tinha uma carreira respeitável. O que também refletia na seleção.

Convocado a partir de 2003, Farfán disputou a Copa América em 2004 e 2007. Eram tempos em que a seleção peruana não transmitia grande confiança, entre um ataque cheio de talentos e uma defesa toda esburacada. Não brigavam seriamente por uma vaga na Copa do Mundo. E não que o comportamento de Farfán ajudasse. Em novembro de 2007, após um empate contra o Brasil pelas Eliminatórias, o atacante se meteu em “uma festa com mulheres e álcool” na concentração. Dias depois, os Incas acabaram goleados pelo Equador por 5 a 0. E a culpa recaiu sobre o astro, julgado nacionalmente pelo escândalo, ao lado de outros três companheiros. Foi multado e suspenso, atravessando um longo exílio da seleção que durou quase três anos.

A polêmica na seleção não atrapalhou a carreira de Farfán por clubes. Em 2008/09, o atacante se transferiu rumo ao Schalke 04. Teria bons momentos também em Gelsenkirchen, em períodos fortes do time. Conquistou a Copa da Alemanha, também integrou a equipe semifinalista da Champions League. Era um dos jogadores mais queridos na Veltins Arena, com seguidas temporadas entre os destaques dos Azuis Reais. Foi o clube em que mais atuou, com 228 partidas divididas por sete temporadas, perdendo espaço apenas na última. Anotou 53 gols e ainda deu 69 assistências.

O sucesso na Bundesliga foi importante para Farfán recuperar seu moral na seleção do Peru. A paz seria selada em setembro de 2010, com sua volta às convocações. Ainda seria ausência na Copa América de 2011 por lesão, mas teve um bom papel no time que chegou à semifinal continental em 2015. Já passando dos 30 anos, aproveitou a visibilidade para assinar um contrato com o Al-Jazira. O problema é que mal atuou nos Emirados Árabes Unidos, com uma séria contusão no joelho que também o impediu de disputar a Copa América Centenário. A esta altura, sua carreira parecia se encaminhar ao final.

Farfán começou a se reinventar em 2017, quando se transferiu ao Lokomotiv Moscou. O bom momento pelo clube o levaria de volta à seleção no segundo semestre daquele ano. Retornaria a tempo de disputar a reta final das Eliminatórias. E, com a suspensão de Paolo Guerrero, virou a referência do Peru na repescagem contra a Nova Zelândia. A tão aguardada volta da Blanquirroja aos Mundiais poderia acontecer naquele confronto. O empate por 0 a 0 na Oceania deixava tudo aberto para o reencontro em Lima. Foi o jogo da vida do camisa 10. Marcou o primeiro gol, cobrou o escanteio para o segundo. Encerrou o lamento de quase quatro décadas de seus compatriotas. E deixou para trás qualquer problema disciplinar que tinha vivido na seleção. A partir de então, Farfán seria um digno rei.

A atuação histórica na seleção pareceu fazer Farfán pegar embalo. Arrebentaria naquela temporada de 2017/18 pelo Lokomotiv, a ponto de conquistar o Campeonato Russo. Chegou à Copa do Mundo sem precisar se aclimatar ao país. Porém, sua participação no Mundial da Rússia seria modesta. Seria titular no primeiro jogo, sairia do banco no segundo e esteve indisponível para o terceiro. A história, de qualquer forma, estava cumprida. A gratidão eterna era sua.

Desde então, a carreira de Farfán acabou marcada pelos muitos problemas de joelho. O atacante começou bem a Copa América de 2019 e até comandou a vitória sobre a Bolívia na fase de grupos, mas a contusão custou sua presença no restante dos mata-matas. Já nas Eliminatórias, o veterano teve participações isoladas. Ainda saiu do banco com certa frequência durante a reta final do qualificatório para 2022, mas nada suficiente para auxiliar a Blanquirroja em outra classificação ao Mundial. Seu último jogo aconteceu na última rodada, numa vitória sobre a Venezuela que não seria definitiva para os peruanos. Desta vez, não estaria na repescagem.

Neste momento, Farfán estava de volta ao futebol peruano. As lesões o fizeram se despedir do Lokomotiv Moscou em 2020, com 25 gols e 12 assistências em 69 partidas. Sua história na Europa se encerrava com títulos em todos os clubes que passou. Já em casa, era hora de fazer novas declarações de amor ao Alianza Lima, rebaixado no ano anterior, mas salvo graças ao tapetão. As duas últimas temporadas no time viram pouco Farfán em campo, exatamente por causa das lesões. Quase sempre esteve indisponível. Entretanto, pôde mais duas vezes ser campeão. Faturou o Campeonato Peruano em 2021, saindo do banco nos jogos da decisão, e viu do lado de fora também a conquista de 2022. Eram cinco troféus da liga pelos Potrillos, num total de dez troféus de campeonatos nacionais em sua carreira. Em pouco mais de duas décadas na ativa, foi campeão em quase metade desses anos.

Por clubes, Claudio Pizarro sustentou uma fama maior. Pela seleção, Paolo Guerrero foi mais goleador. Farfán, ainda assim, uniu o melhor dos dois mundos. Foi um dos maiores peruanos do futebol europeu e, mesmo em tempos nos quais os atletas passam seu auge no exterior, o prodígio conseguiu se marcar também na liga local. Já na seleção, se faltou um pouco mais de regularidade, deu para totalizar 102 partidas e 27 gols. Um deles já valeu por toda uma vida no futebol. Vai ser comemorado eternamente.

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Por fim, fica o destaque ao emocionante vídeo publicado pelo Alianza Lima, narrado por uma pessoa muito especial: a mãe de Farfan.

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