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·03 de outubro de 2025
FCSB ou Steaua Bucaresti? Como crise de identidade mudou os rumos de campeão europeu

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Você que tem acompanhado a Liga Europa, até mesmo aqui em nosso site, pode estar se perguntando: que time romeno é esse que atende pela sigla FCSB? Nada mais é do que o campeão europeu Steaua Bucareste, que viveu uma crise de identidade, rompeu com o exército e teve de se reinventar.
A alma do clube, entretanto, ainda está no dia 07 de maio de 1986. No Ramón Sánchez Pizjuán, o Steaua Bucareste decidiu a Copa dos Campeões da Europa contra o Barcelona. Favoritos, os catalães pararam em uma atuação inesquecível do goleiro Helmuth Duckadam, que deu o título aos romenos nos pênaltis.
A chegada do Steaua naquela decisão foi um feito e tanto, mesmo no formato antigo da Champions. O único outro campeão europeu do leste europeu é o Estrela Vermelha, campeão em 1991 contra o Marseille.
Na "Cortina de Ferro", como Winston Churchill batizou o "muro imaginário" que separou a Europa capitalista da comunista, o Steaua vivia no lado de controle soviético na época da decisão. E também nas décadas anteriores. A história do clube, em si, é um sinal dos tempos.
Em 1947, no início do regime comunista na Romênia, um decreto assinado pelo general Mihail Lascar, comandante do Exército Real Romeno, definiu a criação da então Asociatia Sportiva a Armatei (ASA) Bucuresti (Associação Esportiva do Exército de Bucareste). O objetivo inicial era organizar a prática esportiva de alto rendimento para os jovens atletas em serviço militar. O futebol era um dos sete esportes do projeto inicial.
Nos anos seguintes, o clube mudou de nome algumas vezes, para CSCA (Clubul Sportiv Central al Armatei) e CCA (Casa Centrala a Armatei), sempre com ligações ao exército. O modelo seguiu o mesmo aplicado por outros países do bloco, como o CSKA de Moscou e o CSKA de Sofia, por exemplo.
Na década de 1960, enfim veio o Steaua no nome, com o rebatismo de CSA Steaua Bucaresti. Steaua (Estrela, na tradução simples) é um símbolo que remete ao emblema militar e, também, mesmo que indiretamente, ao sistema comunista da época.
Se por um lado estava "desconectado" do mundo ocidental na "Cortina de Ferro", o Steaua era, junto com o Dinamo Bucareste (time da polícia), o favorito do regime e, portanto, tinha prioridade nos melhores atletas romenos. O resultado foi uma soberania impressionante, com o Steaua sendo tricampeão romeno de forma invicta no final da década de 1980. Foram mais de 100 jogos da liga sem derrota, entre 1986 e 1989 (104 partidas). O clube ainda voltaria a uma final de Champions em 1989, mas acabou sendo goleado pelo Milan de Arrigo Sacchi.
O fim do regime comunista na Romênia com a Revolução Romena de 1989 levou os clubes ligados ao Estado à privatização ou reestruturação. O Steaua viveu uma verdadeira crise de identidade.
Quase dez anos depois, em 1998, o departamento de futebol se separou do CSA Steaua, o clube esportivo do exército, e se tornou uma entidade privada com o nome de FC Steaua Bucuresti (Steaua Bucareste), comprado na virada do século pelo empresário Gigi Becali junto ao Ministério da Defesa. O exército romeno, por sua vez, manteve o CSA Steaua com nome, brasão e história. Isso daria uma confusão danada nos anos seguintes.
Depois de anos de batalha na Justiça, em 2014, o Exército ganhou a causa e o FC Steaua Bucuresti teve de retirar o nome Steaua e mudar seu escudo. Criou-se, então, o SC Fotbal Club FCSB. Portanto, o FCSB que vemos hoje na tabela da Liga Europa.
Em 2017, o CSA Steaua refundou seu departamento de futebol e recomeçou na quarta divisão do futebol local. O CSA Steaua Bucuresti leva o nome original, o escudo e, segundo o clube na guerra de narrativas, também os títulos do passado. Além disso, ficou também com o estádio...
A posse do estádio Steaua-Ghencea seguiu com o exército e é lá que o CSA Steaua Bucuresti manda seus jogos. Depois de obras na casa dos 95 milhões de euros, o estádio foi reinaugurado em 2021 como nome de Stadionul Steaua, ou estádio do Steaua, com capacidade para 31,254 pessoas.
O curioso é que o estádio é palco também de alguns jogos da seleção romena e de duelos específicos do FCSB, que tem de pagar um aluguel ao exército para mandar partidas lá e causa sempre polêmica quando tenta usar o palco ao invés da Arena Nationala, principal arena do país para 55,634 pessoas.
Mesmo começando na quarta divisão nacional, o CSA Steaua conseguiu rapidamente subir os degraus da pirâmide do futebol romeno e chegou na Liga II, a segunda divisão, em 2021. Só que para subir de divisão, o clube precisa repetir o passado e ir contra ao que justamente defendeu anos atrás.
O regulamento do futebol romeno impede que clubes financiados pelo Estado disputem a liga profissional da elite romena. Como pertence ao Ministério da Defesa, o CSA Steaua não pode subir de divisão nem que conquiste o acesso no campo.
Na verdade, foi isso o que aconteceu na temporada 2022/23. O Steaua foi vice-campeão da segunda divisão romena, atrás do FC Politehnica Iasi, mas quem subiu foi o terceiro colocado, o FC Otelul...
Segundo a imprensa local, o Ministério da Defesa discute saídas internamente caso essa situação se repita no futuro. Uma privatização ou uma mudança no modelo de financiamento não estão descartados.
Atualmente, o CSA Steaua é o quinto colocado na liga II, a seis pontos do líder, Corvinul Hunedoara. Enquanto isso, na elite, o FCSB é o 11º colocado, após um início ruim de temporada. Mas é ele quem segue carregando o nome de Bucareste em competições internacionais, mesmo que tenham tirado a sua Estrela.
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