MundoBola Flamengo
·02 de novembro de 2025
Feliz a nação que pode contar com seus heróis (e seus ídolos)

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·02 de novembro de 2025


Muito se debate a questão do ídolo no futebol. Quem é ídolo e quem não é? Só é ídolo quem ganha muitos títulos? Pra ser ídolo precisa ser craque? Existe tempo mínimo de clube pra tratar um jogador como ídolo? Períodos de grande carência podem levar uma torcida a idolatrar um atleta que, dentro das condições normais de temperatura e pressão de um clube, seria visto apenas como “bacana”, se muito?
Mas antes de entrar no debate sobre quem pode ou não ser considerado ídolo, é interessante entender o que ser ídolo significa. O que é um ídolo? Pra que um ídolo serve? Bem, para os gregos, que estavam debatendo essas questões quando todo esse campo semântico ainda era mato, um ídolo é um objeto ou figura de adoração, normalmente com poderes sobrenaturais ou divinos, que é capaz de realizar a comunicação entre o nosso mundo e as outras esferas de compreensão. O ídolo representa, o ídolo cativa, mas acima de tudo o ídolo transcende.
E é por isso, por exemplo, que Arrascaeta é ídolo. Não apenas porque Arrascaeta tem qualidade muito acima da média, não apenas porque ele é um dos atletas mais vencedores da história do Flamengo, não só porque ele é hoje o estrangeiro com mais gols usando o manto rubro-negro, ao lado de Doval. Também é por tudo isso, claro, mas não é só por isso.
Arrascaeta é ídolo, porque seu futebol representa e transcende. Quando o camisa 10 faz um gol de falta, como fez neste sábado, diante do Sport num Maracanã lotado, você não vê apenas Arrascaeta. Você vê Zico, Junior, Petkovic, Renato Abreu. Você vê a camisa 10 viva, a memória ancestral e simbólica de uma nação depositada num homem que, através da nossa fé, assume o poder do sobrenatural e nos conecta a uma coisa que é futebol mas não é só futebol. É fé, é sonho, é esperança, é amor, é saudade de pai, é abraço de mãe, é comemoração com amigos.
O mesmo vale pra Bruno Henrique, um homem que já foi dado como esquecido, superado, desnecessário, mais vezes do que podemos lembrar, mas que está sempre lá. Você duvida de Bruno Henrique? Os feitos dele vão te obrigar a renovar sua fé. Você acha que não precisa mais de BH? Ele vai te lembrar do quanto ele já te fez feliz e do quanto ele ainda pode fazer. Porque o camisa 27 é a encarnação do mistério, do insondável, das verdades que não podem ser articuladas mas sim apenas sentidas, de uma entidade que dança em sintonia com canções que nós nem mesmo conseguimos ouvir.
E é daí que vem os ídolos. Dessa combinação inexplicável de qualidade, conquistas, carisma, conexão com a torcida e mais vários elementos que não podem ser medidos, nomeados ou ponderados. Mas que, somados, ajudam a cimentar alguns nomes na história, enquanto outros, talvez igualmente talentosos, acabam se tornando notas de rodapé.
Em noites como a deste sábado, quando a vitória por 3x0 foi garantida pelos dois ídolos remanescentes de uma das nossas gerações mais vitoriosas, sob o comando de outro ídolo dessa mesma geração, Filipe Luís, fica clara a sorte que nós todos temos de poder ver ao vivo, não nos vídeos antigos e nas crônicas perdidas, esses jogadores que nos conectam não apenas com o que existe de mágico e sobrenatural no futebol, mas também com o que existe de mais bonito em nós mesmos.









































