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·12 de outubro de 2024
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A Ferroviária esbanja tradição no futebol paulista e, há pouco tempo, passou a reescrever a sua história no cenário nacional. Depois de passar por altos e baixos na história recente, inclusive com a falência no começo desse século, a equipe de Araraquara voltou à tona no futebol brasileiro e disputará a Série B 30 anos depois da última participação.
Depois de bater na trave em cinco oportunidades na quarta divisão, a Ferroviária conseguiu, em 2023, o acesso para a terceira divisão nacional. E, na primeira oportunidade na Série C depois de 21 temporadas longe, a Locomotiva fez história e retornou ao segundo mais alto nível do futebol brasileiro, a Série B.
"O povo está feliz" em Araraquara, como diria o hino da Ferroviária.
30 anos depois, a Locomotiva volta à Série B. E não são menos pois a Ferroviária faliu. A equipe de Araraquara chegou ao fundo do poço na temporada de 1996 e foi obrigada a desistir da vaga no segundo mais alto nível do futebol nacional por falta de recursos.
Foi ali, em meio a incertezas, que a Ferroviária foi pioneira. Alguns anos depois, em 2003, um grupo de investidores de Araraquara comprou o clube, que na época disputava a quarta divisão estadual, e transformou a agremiação em um clube-empresa, muitos anos antes das SAFs bombarem no Brasil. E quem diria que o pioneirismo deu certo.
A equipe deixou a quarta divisão e, depois de brigar muito nas divisões inferiores, transitando entre Série A2 e A3, a Locomotiva voltou à elite paulista em 2015. A equipe de Araraquara teve a ajuda do Athletico, na época sem H, em uma parceria de empréstimos. Naquela campanha, o goleiro Rodolfo, ex-Fluminense, e o zagueiro Marcão, capitão do Galatasaray, fizeram parte do elenco, por exemplo.
Na volta à elite, a Ferroviária começou como sensação, mas não manteve o alto nível e lutou para evitar o rebaixamento no último jogo, após empatar sem gols com o Linense. Na segunda metade da temporada, disputou a Copa Paulista, competição que havia vencido em 2006, e ficou com o vice. Voltou, por conta da boa campanha, à Copa do Brasil depois de dez anos, mas caiu na primeira partida para o ASA.
Foi em 2017 que o mundo voltou a sorrir. O cenário no Paulistão era o mesmo, mas a permanência veio de maneira histórica. A Locomotiva vinha em desgraça na competição, na lanterna, e tinha o jogo contra o Corinthians como última opção para permanecer. O treinador PC de Oliveira, multicampeão no futsal, treinava a equipe e escalou o goleiro reserva Tadeu para a partida. Tadeu fechou o gol, ajudou a equipe a vencer o Timão e, mais tarde, a se manter na elite. No fim das contas, o heroi virou santo em Araraquara.
Na Copa Paulista, o sonho pela Série D era real. E ele veio: com o jovem, mas já titular, Tadeu como capitão, a Locomotiva fez uma excelente campanha, teve o artilheiro do ano no futebol brasileiro, com Léo Castro, e se sagrou campeã após derrotar a Inter de Limeira nos pênaltis. O retorno ao Campeonato Brasileiro estava sacramentado.
Com o tempo, a Ferroviária passou a se estabilizar no Campeonato Paulista e bater de frente com os grandes, cada vez conquistando posições mais altas. Tanto que, em 2019, se classificou para a segunda fase do Paulistão após 34 anos. Na Série D, a trajetória foi difícil nas primeiras temporadas.
Em 2018, sem muitos recursos, a Locomotiva parou na primeira fase em um grupo com Tubarão, Novo Hamburgo e Cianorte. Era o elenco remanescente da Copa Paulista de 2017 com a perda de alguns dos principais pilares, como Tadeu (que foi defender o Oeste), e algumas contratações pontuais. Fato é que não deu certo.
No ano seguinte, ainda nada. O clube se classificou ao mata-mata pela primeira vez na história da Série D, mas parou frente ao Cianorte nos pênaltis. Em 2020, manteve o elenco do Paulistão e, com força total, tropeçou no primeiro mata-mata contra o Marcílio Dias, que tinha 19 jogadores fora por Covid-19 e eliminou a equipe paulista em Araraquara, de virada.
As coisas mudaram em 2021 e, dessa vez, a Locomotiva realmente bateu na trave. Depois de campanha impecável na primeira fase com invencibilidade de 15 jogos e mais de 1000 minutos sem sofrer gols, a Ferroviária caiu justamente nas quartas de finais, mata-mata que dava a vaga para a Série C. Frente ao Atlético Cearense, a equipe de Araraquara perdeu nos pênaltis dentro de casa. Um verdadeiro trauma.
Em 2022, o time deu um passo atrás. A Ferroviária sequer passou da primeira fase e viu tudo ruir no ano seguinte. Isso porque, após o rebaixamento para a Série A2 do Paulistão, a Locomotiva ficou sem a vaga na Série D de 2024 e tinha, na edição de 2023, a última chance. Em caso de não acesso, a equipe ficaria sem competições nacionais para a temporada seguinte.
Mas as coisas sorriram aos torcedores afeanos, que mereciam tal felicidade. A Locomotiva não foi dominante, não fez campanha vistosa e, por muitas vezes, ameaçou dar adeus à competição. Fosse na fase de grupos, que passou na última vaga, ou nos mata-matas, os quais definiu, em todas as ocasiões, longe de Araraquara.
Em história de filme, a Ferroviária conseguiu. Foi batalha a batalha. Um jogo após o outro. A história foi feita na Paraíba, quando empatou com o Sousa e, após a vitória na Arena da Fonte, conquistou o tão sonhado acesso à Série C, depois de 21 anos.
E a história continuou sendo escrita. Desacreditada e candidata ao retorno à Série D, o clube recolocou Araraquara em cena no futebol após 30 anos. Se o acesso para a Série C veio sem destaque e soberania, a promoção para a segunda divisão nacional chegou com brilho e convencimento.
Com um elenco formado a dedo com peças experientes e de qualidade, a Locomotiva fez boa primeira fase. Foram 36 pontos em 19 jogos e apenas uma derrota, justamente na última rodada, contra o Botafogo da Paraíba. De quebra a melhor defesa: apenas nove gols sofridos.
Na segunda fase, já com o estilo do novo treinador Júnior Rocha, que havia substituído Vinícius Bergantin, as vitórias vieram nas batalhas. Viradas históricas contra Athletic e Londrina dentro de casa e a torcida como principal arma do clube em busca do acesso.
Depois de tropeçar fora contra os dois rivais já citados, a Locomotiva enfrentou o Ypiranga, adversário do empate na estreia da segunda fase, na decisão. E, dentro da Arena da Fonte, saiu atrás, mas marcou quatro vezes, com três do artilheiro Carlão, e confirmou o acesso com a vitória por 4 a 2.
Depois de 30 anos, a Ferroviária voltará a jogar a Série B. O que esperar da equipe de Ararquara, de história tão aguerrida, brilhante e com vários altos e baixos? Impossível cravar o futuro da equipe, mas é fato que a Locomotiva enfim voltou aos trilhos.
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