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·19 de novembro de 2025
Flamengo promove seminário sobre cultura negra no esporte com clubes e atletas olímpicos

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·19 de novembro de 2025

O Flamengo realizou, nesta terça-feira (18), o seminário “Valorização da Cultura Negra nos Esportes: Identidade e Desafio”. Realizado no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), o evento reuniu representantes de clubes, atletas e movimentos sociais.
O MundoBola Flamengo marcou presença no encontro, que serviu para debater pautas antirracistas e o papel transformador do esporte na sociedade.
O debate focou no papel transformador do esporte na sociedade. Além das mesas temáticas, o encontro foi marcado pela defesa da educação antirracista como ferramenta essencial. Foram discutidas políticas institucionais para o letramento racial e a reparação de humanidade.
O Flamengo aproveitou o evento para apresentar algumas de suas ações, que incluem três anos de letramento racial interno. Recentemente, o clube atualizou seu Estatuto com cláusulas que tratam o combate ao racismo como princípio inegociável, reforçando seu compromisso institucional.
Representantes de Athletico Paranaense, Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo e Vasco discutiram caminhos para fortalecer políticas antirracistas dentro das instituições esportivas. Camila Nascimento, gerente de Responsabilidade Social do Flamengo, reforçou a importância da união. Ela destacou que a presença coletiva de clubes, mesmo rivais, é fundamental para aprofundar o processo antirracista em conjunto.
"No combate ao racismo, acho que todos estão unidos. Não se trata de clubismo, se trata de... Racismo é desigualdade, racismo é injustiça, então ninguém pode ser a favor disso", disse Camila ao MundoBola Flamengo.
Camila detalhou o sistema de denúncias do clube em relação à nova cláusula antirracista no Estatuto. Ela enfatizou que, embora haja punição, o foco principal é a educação como "arma da luta antirracista".
"Existe um sistema, um canal. E também eu acho que o que vale, para além desse passo super importante que foi a inclusão da cláusula antirracista no Estatuto, eu acho que o que é muito significativo também é a educação antirracista que a gente vem trabalhando no clube."
O trabalho de letramento racial é uma linha de trabalho que transversaliza toda a Responsabilidade Social do clube e atinge diversas áreas. A formação é levada às modalidades esportivas, categorias de base e comissões técnicas.
"A ideia é a gente disseminar esse entendimento. A gente entendeu que o Flamengo, com a grandeza do Flamengo, com a história do Flamengo, a gente pode fazer muito na luta antirracista se a gente atuar nesse campo da educação", concluiu.

Representantes dos clubes durante o seminário Valorização da Cultura Negra nos Esportes: Identidade e Desafio” Foto: Paula Reis/ Flamengo
O terceiro painel reuniu profissionais da cultura, da educação e de organizações sociais. O foco foi discutir metodologias de formação e impacto institucional. Vitor Matos, pesquisador e coordenador-geral de Ações Afirmativas na Educação, iniciou o debate ligando a luta antirracista à busca pela humanidade e reparação.
"Ou a gente está falando da construção, ou da reconstrução, ou para usar uma palavra muito usada na discussão antirracista, da reparação de uma coisa que todo mundo deveria ter, que é a humanidade. A gente está falando de direitos humanos, direito de ir e vir.", disse Vitor Matos.
Ele elogiou o papel dos clubes de futebol como poderosos catalisadores de mudança social. Além disso, o responsável por três anos de trabalho com funcionários do Flamengo, ao lado de Ingrid David, afirmou que o esporte tem a capacidade de acelerar essa reparação.
"Esse exemplo que o Flamengo tem dado, não sozinho, mas é esse tipo de exemplo que precisa ser feito e precisa ser copiado para que a gente consiga acelerar esse processo de reparação da humanidade de todos. Uma sociedade mais humana, ou que, pelo menos, todos tenham humanidade igual".
Bárbara Azeo, da Secretaria Municipal de Cultura, destacou a arte como ferramenta de educação informal. Ela ressaltou que a formação precisou abordar o impacto do racismo na saúde e desempenho dos atletas.
"A gente chega ao entendimento de que para gente tratar, fazer esse diálogo acontecer de uma maneira efetiva, a gente precisava falar de desempenho esportivo e impacto do racismo nesses atletas, no grupo, de um modo em geral. E isso tá diretamente relacionado com saúde.", disse Bárbara Azeo.
Yago Feitosa, mestre em Educação das Relações Étnico-Raciais, complementou, falando sobre a experiência com os jovens do clube. Ele destacou que a escuta dos jovens negros contribuiu para a própria gestão pública.
"Eles compreenderam muito rapidamente a ponto de, no final de cada processo, eles apresentarem para a gente maneiras de combater o racismo dentro do segmento deles, dentro da modalidade esportiva deles, porque eles conseguiam identificar.", disse Yago Feitosa.
O painel sobre a experiência de atletas negros trouxe histórias reais de resistência e superação. As conversas revelaram desigualdades persistentes na estrutura esportiva.
Lorrane Oliveira, medalhista olímpica da ginástica, defendeu a representatividade no topo. "Desejo que os negros continuem no topo da ginástica conquistando o que merecem", disse Lorrane Oliveira.
O ala-armador Gui Deodato, do FlaBasquete, reforçou a responsabilidade coletiva. "Que todo mundo busque letramento racial pensando no bem comum", disse Gui Deodato. A judoca Giovanna Santos (Gigi) destacou a importância de imaginar futuros justos. "Eu imagino um futuro em que não exista a injusta preocupação com a cor da pele", disse Giovanna Santos.
O Flamengo incluiu novos parágrafos no Estatuto tratando a luta antirracista como princípio norteador. A emenda foi aprovada por unanimidade, reforçando o compromisso institucional contra discriminação racial ou de gênero.
As alterações agora incluem ações educativas, preventivas e disciplinares, como programas e campanhas. O combate ao racismo passa a ser um objetivo expresso no artigo 2º, orientando todas as ações do clube.
Está vedada qualquer discriminação por raça, sexo, cor, idade, crença ou condição social (Art. 3º). O Estatuto exige que o Flamengo promova ativamente políticas de conscientização, prevenção e inclusão social. A emenda também estabelece punições severas para práticas discriminatórias cometidas por associados (Art. 51).
A penalidade pode variar entre suspensão por 365 dias ou até a exclusão do quadro social. Para empregados e prestadores de serviço, a infração ao artigo 3º será punida com demissão ou rescisão motivada do contrato. Tais medidas são aplicadas sem prejuízo da responsabilização civil e criminal.









































