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·10 de outubro de 2025
Gerson no Palmeiras, rivalidades e a arte de virar a casaca no Brasil

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·10 de outubro de 2025
Gerson pode estar de volta ao Brasil após negociações com o Palmeiras. E esse é o rumor que deixa a torcida do Palmeiras e do Flamengo à escuta. O mercado do futebol é movido tanto por certezas contratuais quanto por rumores que incendeiam a paixão das torcidas.
A simples menção de um possível retorno do "Coringa" ao Brasil, mas desta vez para Gerson vestir a camisa do Palmeiras, é o estopim para uma discussão que transcende as quatro linhas.
Ídolo com passagem vitoriosa pelo Flamengo, a simples especulação de Gerson em um rival interestadual de peso personifica um dos fenômenos mais viscerais do esporte brasileiro: o do craque que, após ser abraçado por uma nação, cogita se mudar para o território adversário.
Este movimento, conhecido como "virar a casaca", é um ato que abala as estruturas da lealdade clubística. No universo passional do futebol, a camisa de um clube é mais do que um uniforme; é uma segunda pele, um pacto selado com milhões de fiéis.
Quando um jogador, um ídolo recente, considera uma transferência para um arquirrival, a admiração se transforma em desconfiança, e o carinho, muitas vezes, em um ressentimento que o tempo raramente apaga.
O rumor de Gerson no Palmeiras é o ponto de partida ideal para uma análise mais profunda desse enredo. Ele não está sozinho. Esta reportagem mergulha nas histórias de alguns dos jogadores mais emblemáticos que protagonizaram essa jornada.
Analisaremos os retornos de craques como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Danilo e Rivaldo, cujas decisões redefiniram rivalidades históricas como o Gre-Nal, o Derby Paulista e os clássicos do Rio de Janeiro.
O futebol brasileiro contemporâneo é marcado por uma nova dinâmica de mercado: talentos promissores despontam nas categorias de base, são vendidos para a Europa antes mesmo de se consolidarem no time principal e, por vezes, retornam ao país ainda jovens, buscando uma segunda chance para suas carreiras.
Nos últimos anos, o eixo entre Fluminense e Flamengo, no Rio de Janeiro, tornou-se o exemplo mais contundente dessa tendência, revelando uma assimetria de poder que reconfigurou a rivalidade.
Gerson Santos da Silva surgiu nas divisões de base do Fluminense, em Xerém, como uma das maiores promessas de sua geração. Canhoto, técnico e com uma visão de jogo apurada, foi rapidamente alçado ao time profissional em 2014 e não demorou a despertar o interesse do futebol europeu.
Em 2016, foi vendido para a Roma, da Itália, com grande expectativa. No entanto, sua passagem pela Europa, que incluiu também um empréstimo à Fiorentina, foi de altos e baixos, sem que ele conseguisse se firmar como o craque que se esperava.
Em 2019, o Flamengo, em meio a um processo de reestruturação financeira e montagem de um elenco estelar, identificou a oportunidade de repatriá-lo. A contratação de Gerson foi um movimento estratégico que se provaria genial.
Sob o comando de Jorge Jesus, ele se tornou a peça que faltava no meio-campo rubro-negro, o "Coringa", capaz de desempenhar múltiplas funções com maestria.
No Flamengo, Gerson atingiu um patamar que não havia alcançado nem no Fluminense, nem na Europa, tornando-se campeão brasileiro, da Libertadores e um dos jogadores mais queridos pela torcida.
Na verdade, Gerson pode agora regressar ao Brasil, de novo, mas para o Palmeiras.
Gerson com o Manto Sagrado do Flamengo entre uma das suas idas e vindas no clube. Foto: Flamengo
A história de Pedro Guilherme Abreu dos Santos é semelhante. Também cria de Xerém, ele se tornou a principal referência técnica e o artilheiro do Fluminense, chegando a ser convocado para a Seleção Brasileira em 2018.
Uma grave lesão no joelho adiou sua transferência para a Europa, mas em 2019 ele finalmente se mudou para a Fiorentina.
Assim como Gerson, sua adaptação ao futebol italiano foi difícil, e ele teve poucas oportunidades.
No início de 2020, o Flamengo agiu novamente. Contratou o centroavante, inicialmente por empréstimo, e depois o adquiriu em definitivo.
Na Gávea, Pedro explodiu. Mesmo dividindo o protagonismo com outros grandes atacantes, ele se firmou como um dos maiores finalizadores do futebol sul-americano, conquistando títulos importantes como a Libertadores de 2022 e se tornando figura constante na Seleção Brasileira.
Para a torcida do Fluminense, ver Pedro, um jogador que chorou ao se lesionar pelo clube, brilhar com a camisa do maior rival, foi particularmente doloroso.
Esses dois casos não representam apenas "viradas de casaca" tradicionais. Eles são, na verdade, sintomas de uma mudança estrutural no futebol carioca e brasileiro.
O Flamengo, beneficiado por uma gestão que saneou suas finanças e maximizou suas receitas, alcançou um poder de investimento muito superior ao de seus rivais.
Isso permitiu ao clube não apenas formar grandes jogadores, mas também cooptar talentos formados historicamente por seus adversários diretos, especialmente aqueles que não vingaram em uma primeira experiência europeia.
A rivalidade, antes disputada sobretudo dentro das quatro linhas, passou a ser decidida também nos balanços financeiros.
O clube mais rico usa seu poder de mercado para enfraquecer simbolicamente o rival, transformando seus "filhos pródigos" em seus próprios heróis.
A frustração da torcida do Fluminense não é apenas com a escolha dos jogadores, mas com a impotência diante de uma nova ordem econômica.
A história de Ronaldo de Assis Moreira com o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense nunca foi simples.
Antes de ser Ronaldinho Gaúcho, o Bruxo do futebol mundial, ele era o "filho do Olímpico", uma joia lapidada nas categorias de base do clube, cuja habilidade sobrenatural prometia uma era de glórias.
Sua saída inicial para o Paris Saint-Germain, em 2001, assinando um pré-contrato sem o conhecimento da diretoria gremista, já havia deixado uma ferida profunda e um sentimento de ingratidão.
Contudo, dez anos depois, em 2011, o tempo parecia pronto para a cura. O retorno do craque, então no Milan, era tratado não como uma mera contratação, mas como uma reconciliação, o fechamento de um ciclo.
A "novela" que se desenrolou no início daquele ano transformou a negociação em um espetáculo midiático sem precedentes. De um lado, o Grêmio, confiante, chegou a preparar o Estádio Olímpico com caixas de som para anunciar a volta do ídolo, transformando a espera em um evento público. A torcida, mobilizada, aguardava a redenção.
Do outro lado, o Flamengo, sob a presidência de Patrícia Amorim, articulava uma ofensiva silenciosa e avassaladora.
O projeto apresentado ao jogador e, crucialmente, ao seu irmão e empresário, Roberto de Assis Moreira, foi descrito como "imbatível".
Envolvia não apenas cifras vultosas, mas uma estrutura financeira complexa e contrapartidas de imagem que o clube gaúcho não podia igualar. Assis, figura central e paternal na carreira de Ronaldinho, foi o arquiteto da decisão que preteriu o berço clubístico em favor do apelo da Gávea.
O desfecho foi televisionado para todo o país. Em uma coletiva de imprensa no Rio de Janeiro, Ronaldinho vestiu a camisa rubro-negra e proferiu a frase que ecoaria como uma punhalada no coração gremista: "Agora sou Mengão".
A reação em Porto Alegre foi imediata e visceral. A palavra "traição" dominou as manchetes e as conversas de bar.
A fúria da torcida se materializou em símbolos que se tornaram parte do folclore do clássico: notas de dinheiro com o rosto do jogador foram impressas e espalhadas, e a alcunha de "pilantra" passou a ser o cântico padrão a cada vez que ele pisava em solo gaúcho.
A recepção hostil no primeiro confronto entre Flamengo e Grêmio no Olímpico, em 2011, com vaias ensurdecedoras a cada toque na bola, foi a catarse de uma torcida que se sentiu duplamente traída.
O sentimento de traição foi tão profundo porque a dor foi dupla. A primeira, em 2001, foi a da perda de um ativo valioso sem a devida compensação financeira, uma ferida no orgulho e no cofre do clube.
A segunda, dez anos depois, foi a quebra da narrativa de redenção que a própria torcida havia construído. Ao escolher o Flamengo, Ronaldinho não apenas rejeitou o Grêmio, mas reabriu e aprofundou a ferida original, esfacelando a esperança de reconciliação.
Sua passagem pelo Flamengo foi um misto de lampejos de genialidade e inconsistência. Conquistou o Campeonato Carioca de 2011 de forma invicta, sendo o protagonista do time.
Contudo, a relação se desgastou, culminando em uma saída litigiosa em maio de 2012, com o jogador acionando o clube na justiça por salários atrasados.
Anos mais tarde, em 2015, uma breve e apagada passagem pelo Fluminense, outro rival carioca, apenas solidificou, para os gremistas, a imagem de um ídolo que trocou a lealdade eterna pela conveniência do momento.
No final de 2008, a carreira de Ronaldo Luís Nazário de Lima parecia estar por um fio. Uma devastadora ruptura dos ligamentos do tendão patelar do joelho esquerdo, sofrida enquanto atuava pelo Milan, colocava em xeque o futuro de um dos maiores atacantes de todos os tempos.
Em busca de um porto seguro para sua recuperação, ele encontrou as portas abertas no Flamengo, seu declarado clube do coração.
Durante meses, o Fenômeno treinou na Gávea, e a narrativa parecia óbvia: o filho pródigo, torcedor rubro-negro desde a infância, vestiria o Manto Sagrado para o capítulo final de sua gloriosa trajetória.
Contudo, o futebol é pródigo em reviravoltas. Enquanto a diretoria do Flamengo tratava a situação com uma aparente tranquilidade, confiando na ligação afetiva do jogador, o Corinthians, recém-saído do purgatório da Série B, arquitetava uma das jogadas de mestre mais audaciosas da história do futebol brasileiro.
Em 9 de dezembro de 2008, o anúncio chocou o país: Ronaldo era o novo reforço do Timão. A negociação, vista como um golpe de genialidade da gestão de Andres Sanchez, tirou o maior jogador brasileiro da geração do "colo" do rival carioca e o levou para o Parque São Jorge.
Anos depois, Ronaldo admitiria que, apesar do amor pelo Flamengo, seu coração estava "bem dividido".
A contratação de Ronaldo foi um "divisor de águas" para o Corinthians, um catalisador que acelerou a reconstrução do clube em uma velocidade impressionante. O impacto foi imediato e sentido em todas as frentes.
Dentro de campo, após um período de recondicionamento físico, ele provou que sua genialidade estava intacta.
Sua estreia foi cercada de expectativa, mas foi no seu terceiro jogo que a lenda se solidificou: um gol de cabeça, nos acréscimos do clássico contra o arquirrival Palmeiras, que levou a Fiel ao delírio e derrubou o alambrado do estádio em Presidente Prudente.
Aquele momento foi a certidão de nascimento de um novo ídolo. Ele foi decisivo nas conquistas do Campeonato Paulista (invicto) e da Copa do Brasil de 2009, marcando gols em ambas as finais e mostrando que era muito mais do que uma figura de marketing.
Em 69 jogos, marcou 35 gols, números que atestam sua importância técnica.
Fora de campo, o "efeito Ronaldo" foi ainda mais transformador. A presença do Fenômeno catapultou a marca Corinthians a um novo patamar.
O clube, que um ano antes disputava a segunda divisão, passou a ter uma exposição midiática global. Patrocinadores de peso foram atraídos, a estrutura do clube foi modernizada e os holofotes do mundo se voltaram para o Parque São Jorge.
A contratação de Ronaldo não foi apenas a aquisição de um centroavante; foi a compra de um ativo de marketing que reestruturou o clube financeiramente e simbolicamente, pavimentando o caminho para as glórias que viriam nos anos seguintes, como a Libertadores e o Mundial de 2012.
A reação das torcidas foi um espelho do sucesso da jogada. No Flamengo, a expectativa deu lugar a uma profunda frustração.
A torcida rubro-negra sentiu-se preterida e, por anos, vaiou o jogador nos confrontos contra o Corinthians, tratando-o como um traidor que usou o clube para se recuperar e depois o abandonou.
Para a Fiel Torcida, a história foi outra. Ronaldo foi abraçado incondicionalmente. Ele se tornou um "louco do bando", um ídolo que, mesmo com uma passagem relativamente curta de duas temporadas, cravou seu nome na galeria dos maiores da história do clube, apagando qualquer resquício de sua ligação afetiva com o Flamengo ou de sua breve passagem pelo Palmeiras no início dos anos 90.
A escolha de Ronaldo pelo Corinthians expôs uma falha de visão da diretoria rubro-negra da época, que subestimou o poder de um projeto bem estruturado e superestimou o peso do afeto, um erro estratégico que o rival paulista soube capitalizar com maestria.
O estado de São Paulo é um caldeirão de rivalidades, um território onde as lealdades são ferozmente defendidas.
O "Derby Paulista", entre Corinthians e Palmeiras, é considerado por muitos o maior clássico do Brasil, uma disputa que transcende o campo e se entranha no tecido social da cidade.
Paralelamente, o "Choque-Rei", entre Palmeiras e São Paulo, é marcado por um equilíbrio histórico e por decisões memoráveis que forjaram uma animosidade profunda.
Navegar por este triângulo de paixões é uma tarefa para poucos, mas alguns jogadores não apenas cruzaram essas fronteiras, como redefiniram suas carreiras e o próprio significado de idolatria.
Danilo Gabriel de Andrade não possuía o estrelato midiático de um Ronaldo ou a genialidade plástica de um Ronaldinho, mas sua inteligência em campo e sua capacidade de ser decisivo em momentos cruciais o tornaram um dos jogadores mais vitoriosos de sua geração.
Sua história no futebol paulista começou no São Paulo, onde foi peça fundamental do time histórico que conquistou o Campeonato Paulista, a Libertadores e o Mundial de Clubes em 2005. No Morumbi, ele era um campeão, um jogador identificado com a filosofia vitoriosa do clube.
Após uma passagem de três anos pelo Kashima Antlers, no Japão, Danilo retornou ao Brasil em 2010. O destino, para surpresa de muitos, foi o arquirrival Corinthians. A transferência não gerou a mesma comoção de outras "viradas de casaca", mas seu impacto em campo seria sísmico.
No Corinthians, Danilo se transformou. Deixou de ser um coadjuvante de luxo para se tornar um protagonista silencioso e letal. Ele se especializou em brilhar nos momentos mais importantes, tornando-se um verdadeiro carrasco de seus ex-clubes e dos rivais em geral.
Sua consagração definitiva veio na campanha da Libertadores de 2012. Foi dele o gol salvador contra o Santos na semifinal, no Pacaembu, que garantiu a vaga na decisão.
Na finalíssima contra o Boca Juniors, foi dele a assistência de calcanhar, um gesto de pura genialidade à la Sócrates, para o primeiro gol de Emerson Sheik.
Ao longo de seus quase nove anos de Corinthians, ele marcou 12 gols em clássicos, muitos deles contra o São Paulo, como na final da Recopa Sul-Americana de 2013.
O caso de Danilo é emblemático: ele prova que a idolatria pode ser completamente reconstruída, e até superada, no clube rival.
A performance superlativa e os títulos conquistados, especialmente em confrontos diretos, não apenas apagaram sua imagem de ex-são-paulino, mas criaram uma nova e ainda maior identidade de ídolo alvinegro, o "Zidanilo".
Nos anos 90, Roberto Carlos foi um dos maiores símbolos da vitoriosa "era Parmalat" no Palmeiras.
Com sua velocidade estonteante e um chute de canhão na perna esquerda, ele se projetou para o mundo vestindo a camisa alviverde, tornando-se o melhor lateral do planeta. Após anos de glória no Real Madrid, seu retorno ao Brasil em 2010 foi para o Corinthians, em um projeto que visava reeditar a parceria de sucesso com Ronaldo Fenômeno.
A transferência foi um choque para a torcida palmeirense, que via mais um de seus grandes ídolos históricos vestir as cores do maior adversário. A passagem de Roberto Carlos pelo Corinthians foi mais curta e menos laureada que a de Danilo, durando pouco mais de um ano.
A eliminação precoce na fase pré-Libertadores de 2011, contra o Tolima, marcou o fim de sua jornada no clube.
Ainda assim, sua presença, ao lado de Ronaldo, contribuiu para a elevação do status do Corinthians no cenário nacional.
Para os palmeirenses, a imagem de Roberto Carlos com a camisa alvinegra permaneceu como a mais forte, mas a passagem pelo rival deixou uma marca de ressentimento e a sensação de que, no futebol moderno, nem mesmo os laços mais fortes do passado estão imunes às reviravoltas do mercado.
A trajetória de Rivaldo Vítor Borba Ferreira pelas rivalidades paulistas é singular e complexa. Antes de se tornar o melhor jogador do mundo em 1999, ele já havia "virado a casaca" no Brasil.
Chegou ao Corinthians em 1993, mas, após desentendimentos, transferiu-se para o Palmeiras em 1994, onde explodiu para o estrelato, conquistando o Campeonato Brasileiro e se tornando um ídolo.
Após uma carreira espetacular na Europa, com passagens marcantes por Barcelona e Milan, seu retorno ao Brasil em 2011 o levou ao São Paulo. Ele, que já havia trocado o Corinthians pelo Palmeiras, agora se juntava ao terceiro grande rival do estado.
Sua passagem pelo Morumbi, no entanto, foi discreta. Teve bons momentos, mas acabou no banco de reservas após a chegada do técnico Emerson Leão e deixou o clube ao final do ano sem ter o contrato renovado.
A reação das torcidas de Corinthians e Palmeiras foi muito diferente da que outros "vira-casacas" enfrentaram.
Havia menos um sentimento de "traição" e mais uma certa indiferença ou até provocação, dado seu histórico já complexo e o fato de que sua performance no São Paulo não representou uma ameaça real aos rivais.
O caso de Rivaldo ilustra que o impacto de uma troca de rival depende não apenas do ato em si, mas do contexto, do momento da carreira do jogador e, fundamentalmente, de seu desempenho com a nova camisa.
As histórias de jogadores que retornam da Europa para defender um rival são mais do que meras crônicas de transferências; elas são um espelho das complexas forças que regem o futebol.
Ao dissecar os casos emblemáticos, emerge uma anatomia clara dos fatores que levam um ídolo a "virar a casaca", da percepção de "traição" que incendeia as arquibancadas e do único caminho possível para a redenção: a glória em campo.
As motivações por trás dessas decisões são multifacetadas. O fator financeiro é, inegavelmente, um dos mais poderosos, como visto na "novela" de Ronaldinho Gaúcho, onde o projeto de marketing e a estrutura salarial do Flamengo se mostraram imbatíveis.
Igualmente importante é o projeto esportivo. Um jogador busca um ambiente onde possa ser protagonista e conquistar títulos, uma lógica que guiou Danilo ao vitorioso Corinthians de 2010, que se preparava para uma década de conquistas.
Fatores emocionais, como o desgaste com diretorias anteriores ou a sensação de não ter sido devidamente valorizado, também pesam.
Por fim, há a pura oportunidade de mercado: jogadores como Gerson e Pedro, em baixa na Europa, viram no Flamengo a melhor e mais estruturada porta de entrada para relançar suas carreiras no Brasil, independentemente de seus passados no Fluminense.
O conceito de "traição", tão caro ao torcedor, não é monolítico. A intensidade da fúria da torcida é diretamente proporcional à profundidade da identidade que o jogador construiu com o clube de origem. Ronaldinho era um símbolo para o Grêmio, um "filho" cuja volta era uma questão de honra; sua escolha pelo Flamengo foi vista como uma traição pessoal e imperdoável.
Já Rivaldo, com seu histórico nômade por rivais paulistas, foi recebido com mais indiferença do que ódio ao chegar ao São Paulo. A traição, no futebol, é medida pelo tamanho do amor que a precedeu.
Se a traição é o pecado, a glória é a absolvição. A história mostra que o sucesso em campo é o único catalisador capaz de reescrever o passado.
Danilo tornou-se um dos maiores ídolos da história do Corinthians não apesar de seu passado são-paulino, mas em parte por causa dele, ao marcar gols decisivos contra o ex-clube.
Ronaldo Fenômeno fez a Fiel esquecer seu coração rubro-negro com títulos e atuações memoráveis.
O caminho inverso também é verdadeiro. O fracasso transforma o "vira-casaca" em um alvo eterno.
Alexandre Pato, revelado pelo Internacional, chegou ao Corinthians como a contratação mais cara da história do clube, mas sua passagem foi marcada pela apatia e por um pênalti displicente que selou uma eliminação, tornando-o um símbolo de dinheiro mal gasto e um pária para a torcida corintiana.
No fim, a saga do "vira-casaca" expõe a dualidade intrínseca do jogador de futebol. Ele é, simultaneamente, um profissional que gerencia sua carreira em busca das melhores condições e um personagem central em uma narrativa passional escrita e vivida por milhões de torcedores.
É no choque entre essas duas realidades (a friza do contrato e o calor do escudo) que nascem as lendas, os vilões e alguns dos capítulos mais controversos e inesquecíveis da rica e dramática história do futebol brasileiro.
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