Calciopédia
·09 de agosto de 2019
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Olhando para o passado, conseguimos enxergar que o futebol é repleto de histórias de fracassos e poucas de sucessos. Giuseppe Marchioro viveu ambos. O treinador teve uma carreira bastante exitosa, mas amargou um eterno arrependimento: ter frustrado a torcida do clube que lhe revelou para o futebol.
Nascido em Milão, em 1936, Marchioro começou a jogar futebol nas divisões de base do Milan, aos 13 anos de idade, na posição de atacante. Com a equipe juvenil, atuou até os 21 anos, inclusive sendo capitão rossonero e campeão do conhecido Torneio de Viareggio em sua última temporada.
Sem oportunidades, Pippo acabou nunca jogando profissionalmente pelo Milan. Foi emprestado para o Parma e, depois, para a Pro Patria, sendo finalmente cedido para a Pro Vercelli, em 1959. Depois de 17 gols em 82 jogos, o atacante se transferiu para o Varese, onde curiosamente desenhou um epítome de sua carreira. Em 57 jogos, distribuídos em duas temporadas, Marchioro anotou apenas um tento pela equipe lombarda, mas também conseguiu levar o time a duas promoções consecutivas, da Serie C para a Serie A.
Depois deste triunfo coletivo e fracasso individual, já com 28 anos e jogando como meio-campista, o milanês ficou dois anos no Catanzaro. Na época, o time da Calábria jogava a segunda divisão e chegou à final da Coppa Italia de 1965-66, passando por Napoli, Lazio, Torino e Juventus, até cair para a Fiorentina. Inclusive, na partida derradeira, no Olímpico, o Catanzaro empatava com a viola até os 14 minutos do segundo tempo da prorrogação, com um gol do próprio Marchioro. No entanto, um pênalti foi marcado para os toscanos, que converteram e ficaram com o título.
Marchioro jogou mais duas temporadas de Serie C pelo Legnano e, aos 32 anos, encerrou a carreira como profissional. Sem tempo a perder, na temporada seguinte o ex-jogador foi integrante das comissões técnicas de Nils Liedholm e Gigi Radice, no Monza. Depois de alguns anos aprendendo com os mestres, Pippo finalmente começou sua carreira como treinador: acertou com o Verbania, que disputava a terceira divisão.
Após alguns bons resultados no time piemontês, o treinador teve mais uma louvável temporada no Alessandria, de mesma divisão, e conseguiu o título da Coppa Italia da Serie C, o que lhe fez subir um degrau na carreira. Giuseppe assumiu o Como em 1973, na Serie B, e entregou o cargo em 1975 com um acesso ao mais alto escalão italiano. Marchioro chamou a atenção de grandes clubes, mas foi o Cesena – que vinha com um audacioso projeto liderado por Dino Manuzzi – que contratou o jovem treinador.
Em sua primeira temporada na Serie A, o milanês contou com os reforços de Giancarlo Oddi e Mario Frustalupi, oriundos da Lazio, e conseguiu um grande feito. O Cesena alcançou a sexta colocação e uma inédita (e até hoje, única) classificação para a Copa Uefa. Um resultado espetacular, que rendeu ao time alvinegro a alcunha de “temíveis provincianos”, já que o cavalluccio não vinha dos grandes centros.
Propondo um futebol vertical e com marcação pressão no campo todo, Marchioro fez sucesso na Itália e retornou ao clube em que tudo começou. Pippo assinou com o Milan para a temporada 1976-77, porém, na maior chance de sua carreira, amargou um grande fracasso: o elenco não comprou suas ideias de vanguarda e a relação com o astro Gianni Rivera era conturbada. Os rossoneri somaram apenas duas vitórias em 15 partidas da Serie A e o técnico acabou sendo demitido logo após o fim de um primeiro turno pífio.
Depois de uma rápida passagem pelo Cesena, que então jogava a Serie B, Marchioro resolveu enfrentar um grande desafio: retornar ao Como, que estava na C1. Pippo conseguiu duas promoções consecutivas, levando os lariani à primeira divisão em 1980-81, mantendo-os ali na primeira campanha. A temporada de 1981-82, contudo, foi bem menos proveitosa para os comascos e o milanês caiu no final do primeiro turno, depois de somar apenas uma vitória em 14 rodadas.
O final melancólico de seu trabalho no Como inaugurou mais uma fase de baixa em sua carreira como treinador. Após a dispensa, Marchioro passou por seis agremiações e não ficou por mais de uma temporada em nenhuma delas – respectivamente, Avellino, Cesena, Ancona, Prato, Barletta e Foggia. Pippo comandou o time campano na Serie A; o romanholo, na B, e os restantes, na Serie C1. Nesse período, seu maior feito foi levar o Barletta à segundona pela primeira vez na história. Por sorte, o futebol ainda lhe reservava momentos doces: Giuseppe Marchioro conseguiu se reinventar e ter um último belo trabalho.
Em 1988, o milanês assumiu a Reggiana, também na C1, mas o desfecho foi diferente de todos os anos precedentes: obteve uma promoção com os grenás já em sua primeira temporada. Depois disso, a Regia passou quatro anos na segundona italiana, obtendo uma tripla sétima colocação e um primeiro lugar em 1992-93. Nesse período, Pippo ajudou a valorizar atacantes como Andrea Silenzi e Fabrizio Ravanelli, que teriam passagens de sucesso por clubes grandes da Itália e também atuariam na Inglaterra.
Marchioro ficara 11 anos longe da primeira divisão e voltou com estilo, tendo os reforços de Cláudio Taffarel, Johnny Ekström, Luigi De Agostini e Michele Padovano – além de Dorin Mateut e Paulo Futre, que foram contratados em novembro, na janela de outono. O início da temporada foi ruim para os granata: a equipe sofria com a inexperiência (nunca havia disputado a elite) e não saía da zona de rebaixamento. Para piorar, Ekström não rendeu e foi rapidamente repassado ao Betis, enquanto Futre sofreu séria lesão em sua estreia.
Pippo, porém, podia contar com o esforço redobrado de seus comandados, além da importância tática de Mateut e os gols de Padovano. Contrariando expectativas, a equipe saiu da zona de rebaixamento na 15ª rodada e teve um Natal feliz. Dali para frente, a Reggiana alternou momentos de irregularidades naturais para um time da parte baixa de tabela a alguns resultados importantes – empates com Juventus, Roma e Sampdoria e vitórias sobre Inter, Torino, Napoli e seu rival, o Parma.
Na última rodada, a Regia precisava vencer o Milan, já campeão, em San Siro. Um gol de Massimiliano Esposito e um show de Taffarel selaram o milagre: a Reggiana se salvou do rebaixamento. Marchioro ficou com os louros pela reação no campeonato e pela grande atuação no clássico contra o Parma, tida como a melhor da campanha. Na vitória por 2 a 0, o time esteve bem postado em campo e produziu muitas jogadas, a ponto de vencer uma das equipes mais temidas da época com autoridade.
Já com 63 anos, Marchioro teve seu contrato renovado, já que conseguiu manter o time emiliano na Serie A. Contudo, o presidente Franco Dal Cin não lhe deu muito crédito na temporada seguinte: investiu em Francesco Antonioli, Angelo Gregucci, Sunday Oliseh, Rui Águas e Igor Simutenkov, mas o time não rendeu. Após sete derrotas e apenas um empate nas oito rodadas iniciais do campeonato 1994-95, Pippo foi demitido.
Com o fim de seu último trabalho de fôlego, teve sua última experiência na elite com o Genoa, na mesma temporada – na época, ainda que fosse raro, técnicos podiam treinar equipes diferentes num mesmo ano, na Itália. Marchioro não conseguiu fazer os grifoni engrenarem e, antes mesmo de o time da Ligúria ser rebaixado, perdeu o cargo. Depois, Pippo passou por Venezia e Cesena, na Serie B, e Triestina, na quarta divisão. Todos esses trabalhos duraram menos do que 15 jogos.
Em 1997, o técnico se aposentou e se distanciou completamente do futebol para se dedicar à família. Marchioro voltaria às grandes manchetes apenas por motivos tristes. Em 2013, ele e a esposa, Liliana, foram agredidos por bandidos fortemente armados que invadiram sua casa em Versilia, na Toscana. Em 2018, a sua companheira faleceu. Meses depois, Pippo – então com 82 anos – foi visitar a filha e os netos em Cesena e teve um relógio arrancado de seu pulso nas ruas da cidade. Sensações nada agradáveis para quem só quer ter um pouco de paz na velhice.
Giuseppe Marchioro Nascimento: 13 de março de 1936, em Milão, Itália Posição: atacante e meio-campista Clubes como jogador: Parma (1957-58), Pro Patria (1958-59), Pro Vercelli (1959-62), Varese (1962-64), Catanzaro (1964-66) e Legnano (1966-68) Títulos como jogador: Serie C (1963) e Serie B (1964) Carreira como treinador: Verbania (1970-72), Alessandria (1972-73), Como (1973-75 e 1978-82), Cesena (1975-76, 1977-78, 1983-84 e 1996-97), Milan (1976-77), Avellino (1982), Ancona (1984-85), Prato (1985-86), Barletta (1986-87), Foggia (1987-88), Reggiana (1988-94), Genoa (1994), Venezia (1995) e Triestina (1997) Títulos como treinador: Coppa Italia da Serie C (1973), Serie C (1979 e 1989) e Serie B (1980 e 1993)