Coluna do Fla
·27 de maio de 2025
Gol do Pet – A crônica

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Gol do Pet! Mesmo sendo um clube centenário e de muitas glórias no futebol, poucos gols no Flamengo ganharam nome próprio! Gol do Valido, Gol do Rondinelli, Gol do Zico, Gol do Nunes, Gol do Gabigol… Isso ocorre quando o tento é tão marcante que cria vida própria e é a imagem que vem à cabeça logo quando se lembra daquela partida histórica. O Gol do Pet é justamente isso.
Como se fosse um quadro, o gol é a pintura e todo o resto é moldura. Se fosse o corpo humano, aquele gol se transformaria num organismo vivo, e para ilustrar bem essa analogia com a anatomia humana, o Gol do Pet seria o coração! Pulsante! Vibrante! Por ser a lembrança mais inesquecível e a que causa maior comoção.
É preciso ressaltar: essa conquista é cheia de camadas, de emoções profundas! Como não lembrar de Zagallo, que, com toda a sua sabedoria e experiência, soube conduzir um ambiente pra lá de difícil? E das defesas milagrosas de Júlio César — especialmente na final, quando parecia ser instransponível? Como esquecer da força, da audácia, da coragem e da qualidade de Beto; da juventude vibrante de Juan e Reinaldo; e, claro, do impressionante poder de decisão de Edilson, uma figura que, injustamente, ainda é pouco valorizada nessa conquista monumental?
Voltando à final, naquele inesquecível 27 de maio de 2001… sei que pode parecer injusto descrever tudo que não foi o gol decisivo apenas como moldura, mas cada detalhe foi essencial para essa obra-prima. Primeiro, o ímpeto daquela equipe, que, precisando vencer por dois gols de diferença, partiu com o coração na ponta da chuteira pra cima de um Vasco fortíssimo. Depois, o primeiro grito de gol: Edilson, com a frieza de um verdadeiro artilheiro, converteu o pênalti após a linda jogada de Cássio pela esquerda, derrubado com falta. E então, o segundo gol, já na segunda etapa: uma jogada mágica de Petkovic e a cabeçada certeira, de qualidade e talento, que só um atacante da estirpe de Edilson poderia fazer. Cada um desses pontos daria mote para contar a história daquela decisão.
Mas eis que chegou o momento derradeiro. Aos 42 minutos do segundo tempo, Leandro Ávila partiu pelo meio e tocou para Edílson, que, bem marcado por Fabiano Eller, teve dificuldade para girar e lançar Jorginho. Falta marcada por Léo Feldman a favor do Flamengo.
O Galinho de Quintino foi lembrado naquele lance. 43 minutos, o Flamengo precisando de um gol para conquistar o título, e quem vai pra cobrança é o camisa 10.
Naquele momento, em que a torcida do Flamengo erguia as mãos no Maracanã, concentrada, deixando o silêncio pairar para não atrapalhar Pet na cobrança que viria, não teve nenhum rubro-negro que deixasse de lembrar de Zico. De lembrar também de Valido, que fez um gol aos 43 minutos do segundo tempo na decisão contra o Vasco em 1944, na conquista do primeiro tricampeonato carioca. De lembrar da cabeçada de Rondinelli em 1978 contra o mesmo Vasco, aos 42 minutos da etapa derradeira.
Apolinho clamou por São Judas Tadeu. Tinha chegado a hora. Zagallo apertava Santo Antônio, que estava preso em suas mãos. Alessandro rezava! Torcedores faziam o sinal da cruz na arquibancada e se valiam de toda fé possível e impossível, pois até os agnósticos e ateus clamaram para algum santo naquele instante.
Pet, que não tinha conseguido gerar nenhum perigo para o goleiro vascaíno com as faltas cobradas até aquele momento, respirou, calculou como seria a cobrança e bateu. Bateu com jeito, com força, colocando um efeito tão magnífico que a bola faz um arco no ar, caindo no ângulo esquerdo de Helton, que triscou a bola com os dedos. A bola parecia ter sido colocada com as mãos. Parecia humanamente impossível aquilo, mas não para Petković, que creditou a espetacular batida à energia da torcida.
O Maracanã foi abaixo! Dirigentes, comissão técnica, jogadores e até Zagallo comemoraram como nunca. Pet correu como um louco, parecendo atravessar um portal que o colocaria na história do Clube de Regatas do Flamengo e na eternidade.