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·21 de dezembro de 2024

Graziano Pellè teve boa trajetória no exterior e na seleção italiana, mas fracassou na Serie A

Imagem do artigo:Graziano Pellè teve boa trajetória no exterior e na seleção italiana, mas fracassou na Serie A

Na história do futebol italiano, são poucos os jogadores que brilharam no exterior sem terem conseguido desenvolver uma trajetória positiva na Serie A. Neste pequeno grupo, aqueles que conseguiram alcançar a seleção da Itália e também foram capazes de somar uma razoável quantidade de jogos com a malha azzurra são mais raros ainda. Graziano Pellè foi um deles: com apenas dois gols anotados na elite de seu país natal, desenvolveu sua carreira na Holanda e na Inglaterra, com atuações que lhe permitiram representar a Nazionale na Euro 2016.

Nascido em San Cesario di Lecce, na Itália, no dia 15 de julho de 1985, Pellè nunca foi visto como um talento geracional, capaz de mudar o rumo do futebol de seu país – apesar de passagens por seleções de base. E, para virar jogador, ele teve que enfrentar um dilema pouco convencional no mundo do esporte.


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Quando jovem, fazia dança de salão após os treinos e, com sua irmã, Fabiana, chegou a ganhar alguns títulos nacionais entre os 11 e 12 anos. Porém, para realizar o sonho de ser um atleta profissional, precisou deixar o mundo das coreografias. Ainda assim, o centroavante garante que a atividade lhe ajudou a aprimorar movimentos e habilidades que foram úteis dentro das quatro linhas. Outra grande inspiração foi o ex-atacante Marco van Basten, ídolo do Milan, cujo gestual foi apresentado ao garoto Graziano através de fitas VHS por Roberto, seu pai – que teve curtíssima carreira como meia nas categorias inferiores da Itália.

Sua carreira como atleta começou no minúsculo Copertino, clube homônimo à comuna nas redondezas de Lecce, sede da província. Aos 16, rumou aos giallorossi e integrou uma geração que deu muitas alegrias aos salentinos na base. Conhecido por revelar talentos, o time da Apúlia abocanhou, enquanto Pellè estava na equipe Primavera, correspondente ao sub-19, a Coppa Italia, o bicampeonato nacional e a Supercopa da categoria.

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Após bons números pelo Cesena, na Serie B, e algum destaque pelas seleções de base da Itália, Pellè se tornou o primeiro italiano do AZ Alkmaar (Getty)

Embora fizesse sucesso na base, Graziano recebeu poucas oportunidades entre os profissionais do Lecce e não conseguiu balançar as redes, não demorando para ser emprestado pela primeira vez, como voltaria a ser continuamente nos anos iniciais de sua trajetória. Depois de dois jogos pela Serie A 2003-04, Pellè passou a metade final da temporada seguinte no Catania, onde também passou em branco, na segundona.

Graziano voltou ao Lecce e ganhou mais algumas oportunidades na Serie A, porém sem deslanchar: 10 partidas e nada de encontrar as redes em 2005-06. Na sequência, foram seis meses no Crotone, já chegando aos seus primeiros gols, porém não impressionando na segunda divisão. Depois, o grandalhão de 1,94 m foi cedido ao Cesena, onde – já com 21 anos – finalmente conseguiu sequência e marcou 11 vezes em 40 jogos, sendo escolhido como o melhor atacante italiano de sua idade. Ao lado do senegalês Papa Waigo, Pellè foi um dos principais destaques na campanha de salvação dos bianconeri, que flertaram com o rebaixamento à terceirona.

Nesse período em que teimava em não se firmar em clubes profissionais, Pellè era figura importante nas seleções de base da Itália. Na sub-20, por exemplo, foi o grande nome da campanha na Copa do Mundo da categoria, em 2005. O apuliano marcou quatro gols, assim como o espanhol David Silva, e foi o terceiro na artilharia, atrás do também hispânico Fernando Llorente e do ucraniano Oleksandr Aliyev, que fizeram cinco, e do grande goleador da competição: Lionel Messi, que fez seis e deu o título à Argentina.

Em 2007, Graziano também disputou o Europeu Sub-21, integrando um time forte e aparecendo como reserva de Giampaolo Pazzini. O centroavante foi importante para classificar os azzurrini aos Jogos Olímpicos de 2008, com um gol contra Portugal, e também ganhou o Torneio de Toulon, porém não faria parte da lista final do técnico Pierluigi Casiraghi para a expedição à China. Um pouco antes disso, Pellè havia tomado uma decisão ousada. Que pode até tê-lo atrapalhado naquele momento, mas que viria a ter muita utilidade no futuro.

Em 2007, apesar dos bons números nas competições de base e dos gols que ajudaram a salvar o Cesena, Pellè encontrava dificuldades para ter espaço na elite italiana – afinal, naquela época, jovens eram utilizados a conta-gotas pelos times do país. Assim, quando o Lecce recebeu uma proposta do AZ Alkmaar,  dos Países Baixos, onde brilhara no Mundial Sub-20, ele não seguiu o exemplo de outros garotos da Itália, muito apegados a sua terra, e topou a transferência. Depois de uma negociação atribulada, o centroavante fechou com os Kaasboeren por uma cifra de 6,5 milhões de euros.

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Em sua volta à Itália, o atacante apuliano não decolou no Parma (Getty)

Ao chegar ao AZ, Pellè – primeiro, e até hoje, único italiano da história da agremiação de Alkmaar – admitiu que tinha a opção de seguir no Lecce, que o emprestaria para o Palermo, então na Serie A, mas optou pela transferência em definitivo ao time neerlandês por conta das oportunidade para jogadores mais jovens presente em sua cultura. Fazia sentido, já que, na Sicília, Amauri e Edinson Cavani começariam 2007-08 em vantagem na hierarquia dos rosanero.

Pellè permaneceria no AZ por quatro temporadas e seria treinado por grandes nomes, como Louis Van Gaal, Ronald Koeman e Dick Advocaat. Inicialmente, porém, teve algumas dificuldades de se firmar e participou da rotação do elenco, com apenas quatro gols marcados em 32 aparições – 19 delas como titular. Tal desempenho custou seu posto em Pequim, como mencionado anteriormente.

Em sua segunda temporada no AZ, Pellè teve minutagem bem menor, porém contribuiu mais com o time: com menos da metade do tempo à disposição, marcou os mesmos quatro gols e forneceu três assistências. Embora não fosse titular, participou da histórica conquista da Eredivisie 2008-09. Não foi um momento de grandes números ou de ter uma sequência, mas de muito aprendizado, sobretudo por estar às ordens de Van Gaal, que era tão competente na profissão quanto polêmico. Roberto, pai do centroavante, admitiu ter grandes dúvidas do que seria da carreira do filho se não fosse o encontro com o treinador campeão europeu pelo Ajax.

Nos dois anos seguintes, sob as ordens de Koeman, Advocaat e de Gertjan Verbeek, o italiano atuou ainda menos pelo AZ – atingindo um pouco mais de brilho em 2010-11, quando balançou as redes seis vezes. No fim das contas, nos 95 jogos que disputou, o centroavante contribuiu com apenas 16 gols. Grato pelo que viveu nos Países Baixos, Pellè sentia que precisava jogar mais para não perder o timing do que parecia um início de evolução em sua carreira. Beirando os 26 anos, então, retornou à Bota, acertado com o Parma, que pagou 1 milhão de euros para tê-lo.

Entretanto, Graziano novamente não se firmou. Embora o técnico Franco Colomba tivesse à disposição nomes como Hernán Crespo, Sebastian Giovinco, Sergio Floccari e Raffaele Palladino, Pellè ganhou várias chances como titular e as desperdiçou: marcou somente contra o Grosseto, num 4 a 1 pela Coppa Italia, e anotou o seu primeiro na Serie A num 3 a 3 contra o Lecce, acionando a lei do ex contra o time de sua província, que o revelara. Um desempenho considerado insuficiente, que o levou a ser emprestado após seis meses. O destino? A segundona, de novo.

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Pupilo de Koeman, Pellè recebeu nova chance nos Países Baixos e virou máquina de fazer gols pelo Feyenoord (Getty)

Pellè se transferiu à Sampdoria no último dia de janeiro de 2012, como contratação para fazer com que a equipe se livrasse do pesadelo da Serie B um ano após se classificar à fase preliminar da Champions League. Sua passagem no clube não foi diferente do resto de sua trajetória, até então: marcou quatro gols, sendo que anotou uma doppietta tanto na vitória sobre o Cittadella quanto no triunfo sobre a Nocerina, no início de sua militância em Gênova, e depois não encontrou mais as redes. Oscilando entre o banco e o onze inicial, até ajudou os blucerchiati a voltarem à elite, mas sem deixar saudades na torcida.

O apuliano voltou ao Parma e até iniciou a temporada 2012-13 no time emiliano. Porém, depois de atuar num jogo pelos crociati na Serie A, em uma cartada final, topou mais um empréstimo. E novamente para um clube neerlandês: o Feyenoord, onde reencontrou Ronald Koeman, que vira potencial em seu futebol quando trabalharam juntos no AZ. E foi nesse momento, já aos 27 anos, que Pellè, o primeiro italiano a jogar no clube de Roterdã, finalmente deslanchou.

Foi sob o comando de Koeman, um ex-zagueiro – goleador, mas um defensor – que o atacante se encontrou. Logo na primeira temporada, teve uma média de participações em gols superior a uma por jogo. Em 34 partidas, ele chegou às redes 29 vezes, além de servir os companheiros em mais nove oportunidades. Um desempenho extremamente impactante de um jogador transformado, que, evidentemente, o Feyenoord, terceiro colocado na Eredivisie, não deixaria de contratar em definitivo.

O desempenho de Pellè, que marcou tantos gols e compareceu às redes nos clássicos com Ajax e PSV Eindhoven, encantou os torcedores do Feyenoord. Mas não só: o carisma do atacante também falava alto. Cada vez mais passaram a ser vistos fãs imitando seu penteado retrô e elogiando sua beleza, comparando o italiano a Cristiano Ronaldo – o próprio Graziano entrou na brincadeira e até cravaria ser mais atraente do que o português, posteriormente, além de afirmar ser um jogador parecido com Zlatan Ibrahimovic. Também interessava o fato de o apuliano, diferentemente da grande maioria dos futebolistas, ser um ávido leitor e grande fã de Oscar Wilde.

Seu segundo ano na equipe de Roterdã manteve o nível do primeiro, atraindo novos holofotes: foram 26 gols marcados, sendo 23 na campanha do vice do Feyenoord na Eredivisie. Ao final da temporada 2013-14, Koeman se mudou para a Inglaterra, como novo técnico do Southampton e, mais uma vez, quis Pellè a seu lado: por 11 milhões de euros, o italiano, que anotou 55 tentos em 66 aparições pelo time holandês, reforçou os Saints.

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O bom desempenho nos Países Baixos levou o italiano ao Southampton, da Premier League, o que lhe abriu as portas da seleção de seu país (Getty)

Dos Países Baixos também chegou Dusan Tadic, que militava no Twente e, do Red Bull Salzburg, da Áustria, ainda foi contratado Sadio Mané. Curiosamente, o ataque do time do sul da Grã-Bretenha seria formado pelos nomes Pellè e Mané, remetendo a uma das maiores duplas do futebol brasileiro e do mundial – Pelé e Mané Garrincha.

O centroavante italiano impressionou logo em sua chegada ao Southampton. Os quatro gols marcados nos primeiros sete jogos e o prêmio de jogador do mês da Premier League convenceram Antonio Conte, técnico da Itália e, assim como Pellè, nascido na província de Lecce, a convocá-lo em um momento de muitas dúvidas sobre o ataque da seleção. Ninguém conseguia se firmar desde a decepção de Mario Balotelli e muitos atletas passaram a receber oportunidades no setor.

Sua estreia pela Nazionale teve um gol decisivo em uma vitória simples, contra Malta. Na terceira partida pelos azzurri, anotaria de novo, dessa vez em empate com a Inglaterra, em Turim. O desempenho de Pellè pela seleção sempre foi bom, com tentos e participações relevantes. Ele formou uma dupla inesperada com o ítalo-brasileiro Éder, que fora seu colega de equipe nos tempos de Sampdoria, e, mais tarde, os dois se tornaram a esperança ofensiva da Itália na Euro 2016.

No período em que se tornou o camisa 9 da Itália, Pellè viveu bons momentos no Southampton, que incomodava os grandes da Premier League e ficava bem colocado na competição – com o sétimo e o sexto lugares nas duas temporadas em que o italiano ficou por lá, o time garantiu vagas na Liga Europa. Em ambas as campanhas no campeonato, Graziano foi o artilheiro, sendo que na segunda delas, quando sofreu com uma lesão no joelho e atuou com menor frequência, dividiu o posto com Mané.

No total, o centroavante participou de 40 tentos em 80 jogos pelo Southampton, marcando 30 – 16 em 2014-15 e 14 em 2015-16 – e fornecendo 10 assistências. Com esse desempenho, Pellè assumiu a titularidade da seleção italiana, já que Simone Zaza perdeu minutagem em clubes após trocar o Sassuolo pela Juventus e Ciro Immobile, em dificuldades nas suas experiências por Borussia Dortmund e Sevilla, teve que voltar ao Torino, em janeiro de 2016, para recuperar protagonismo. Assim, o apuliano seria o camisa 9 azzurro na Eurocopa, disputada na França.

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Já veterano, Pellè voltou ao Parma e, depois de rebaixamento, se aposentou com apenas dois gols na Serie A em toda a carreira (Getty)

Pellè começou a Euro colocando bola na rede. Nos acréscimos da estreia da Itália, fechou a vitória por 2 a 0 sobre a Bélgica. Mais tarde, em seu momento de maior glória pela seleção, também apareceu no tempo extra para sacramentar o triunfo por 2 a 0 sobre a favorita Espanha, nas oitavas de final. Os comandados de Conte cairiam nas quartas, ao serem derrotados pela Alemanha, nos pênaltis. Aquela disputa é lembrada pela bisonha cobrança de Zaza, mas Graziano também errou a sua batida – e num momento crucial para os azzurri, que poderiam ter aberto 3 a 1 na disputa. O camisa 9 finalizou muito mal, mandando para fora.

Dias depois do fim da participação italiana na Eurocopa, Pellè, então com 31 anos, acertou com o Shandong Luneng, da China, onde jogaria até o final de 2020. Com a troca dos Saints pelo futebol asiático, também não demorou a ser descartado na Squadra Azzurra. Em outubro de 2016, foi afastado por indisciplina, por não cumprimentar o treinador Gian Piero Ventura e ainda ofendê-lo ao ser substituído, num jogo contra a Espanha. Após o desligamento, Pellè não voltaria a ser convocado e encerrou sua experiência pela Nazionale com nove gols em 20 aparições.

No futebol asiático, já em final de carreira, Graziano obteve números relevantes, marcando 63 gols e ainda dando 24 assistências em 133 jogos, além de conquistar a Copa da China, na temporada 2019-20. Ele jogou no país até ficar sem contrato, nos derradeiros dias de dezembro de 2020 e, em fevereiro de 2021, decidiu retornar ao Parma para sua última dança.

Novamente, Pellè não se deu bem na Serie A: quase 10 anos depois do primeiro gol no torneio, justamente pelos crociati, emendou uma bicicleta para anotar seu segundo e último tento na elite italiana, numa derrota para o Genoa. O apuliano não conseguiu ajudar o Parma a escapar do rebaixamento e, com apenas uma bola na rede e três assistências em 13 jogos, decidiu que era hora de pendurar as chuteiras, um pouco antes de completar 36 primaveras. Um ponto final inusitado para uma carreira bastante peculiar.

Graziano Pellè Nascimento: 15 de julho de 1985, em San Cesario di Lecce, Itália Posição: atacante Clubes: Lecce (2003-05 e 2005-06), Catania (2005), Crotone (2006), Cesena (2006-07), AZ Alkmaar (2007-11), Parma (2011-12, 2012 e 2021), Sampdoria (2012) Feyenoord (2012-14), Southampton (2014-16) e Shandong Taishan (2016-20) Títulos: Coppa Italia Primavera (2002), Campeonato Primavera (2003 e 2004), Supercopa Primavera (2004), Torneio de Toulon (2008), Eredivisie (2009), Supercopa dos Países Baixos (2009), e Copa da China (2021) Seleção italiana: 20 jogos e 9 gols

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