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·03 de março de 2021

Internacional precisará de paciência para o novo caminho que pretende tomar com Miguel Ángel Ramírez

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Tantos tentaram que era inevitável que alguém conseguisse. O Internacional, vice-campeão brasileiro, anunciou nesta terça-feira o seu novo treinador. Não é surpresa para ninguém que ele se chame Miguel Ángel Ramírez, nome que já vinha sendo especulado com força para substituir Abel Braga. Parece um bom profissional, muito promissor pelo trabalho que conduziu à frente do Independiente del Valle, mas exigirá paciência da diretoria colorada para colocar suas ideias em prática.

Reconheço que é um pouco cansativo e repetitivo frisar que treinadores precisam de tempo sempre que um deles é contratado por um clube brasileiro. Por um lado, parece óbvio que ninguém tem uma varinha mágica. Por outro, muitos dirigentes discordam, e é importante continuar cobrando para que eles abandonem seus hábitos ruins. Mas a realidade é que a maioria dos profissionais precisa encontrar um jeito de equilibrar os resultados com o desenvolvimento de suas ideias para resistir à pressão insana que existe por aqui.


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No caso de Miguel Ángel Ramírez, porém, tempo e paciência serão determinantes porque se trata de um um treinador com pouca rodagem e com ideias diferentes em relação ao que o Internacional vinha fazendo com Abel Braga.

Ramírez detalhou a sua trajetória em uma ótima entrevista para o Globo Esporte. Nascido em Las Palmas, gostava de futebol, mas não pensava necessariamente em seguir profissão. Aos 19 anos, respondeu ao chamado de um amigo para ajudar a treinar a molecada do clube local. Gostou da experiência por unir suas duas paixões: a vocação pela educação e o jogo de bola. Fez licenciatura em educação física e especializações em gestão.

No começo da última década, terminando sua licenciatura, foi à Grécia para um intercâmbio. O país escolhido não foi por acaso. Os principais clubes gregos contavam com boas fontes de conhecimento para quem quisesse aprender: o espanhol Manolo Jiménez no AEK Atenas, o professor português Jesualdo Ferreira no Panathinaikos e Ernesto Valverde à frente do Olympiacos.

A principal evolução em ideias e métodos de treinamento, porém, apareceu nos seis anos em que passou na Aspire, do Catar, um projeto financiado pelo governo com o objetivo de desenvolver o futebol local. Foi convidado pelo então diretor de futebol da academia Roberto Olabe, a quem credita muito da sua formação e que o indicou para trabalhar na base do Independiente del Valle quando saiu para se tornar diretor de futebol da Real Sociedad.

Ramírez foi promovido ao time principal do Del Valle em abril de 2019, quando Ismael Rescalvo saiu para o Emelec. O pedido o pegou de surpresa. Não se achava qualificado ainda, mas aceitou o argumento da diretoria, que não queria trazer alguém de fora que não conhecia o processo do Independiente del Valle que, com um foco muito grande nas categorias de base, vinha dando frutos ao longo de toda a década – com o ápice sendo a final da Libertadores de 2016.

“Não tinha planejado chegar ao futebol profissional porque gosto da formação. Comecei a sondar outros treinadores, mas queriam que eu assumisse o cargo. Com o tempo, entendi que estava diante de uma grande oportunidade. Aceitei, formei minha comissão técnica e terminei com as minhas funções no futebol de base”, afirmou Ramírez, ao Migrantes del Balón.

Não demorou muito para mostrar as suas credenciais. Foi um carrasco de gigantes na Copa Sul-Americana, eliminando o Independiente e o Corinthians a caminho da grande final. Imponente contra o Colón, conquistou seu primeiro título. Em 2020, foi um adversário valoroso ao Flamengo na final da Recopa Sul-Americana, embora tenha perdido, e abalou as estruturas da Gávea ao golear por 5 a 0 na fase de grupos da Libertadores – depois, levou a réplica no Maracanã, por 4 a 0. Caiu ainda nas oitavas de final, nos pênaltis, após dois 0 x 0 contra o Nacional.

O sucesso foi mais modesto no Campeonato Equatoriano. Terminou a edição de 2019 em quinto lugar e foi eliminado pelo futuro campeão Delfín, nas quartas de final. Ano passado, ficou a três pontos de vencer o primeiro turno e terminou apenas em sexto lugar no segundo. Embora tenha tido a terceira melhor campanha na classificação geral, ficou fora da disputa pelo título entre Barcelona de Guayaquil e LDU.

E esse é um bom alerta. O projeto do Independiente del Valle é considerado um dos mais bem sucedidos da América do Sul, mas ainda não lhe entregou o primeiro título equatoriano. Mesmo um trabalho muito bem feito não é garantia de conquistas, ainda mais diante das circunstâncias que Ramírez encontrará no Beira-Rio.

Primeiro, é importante ter clareza sobre o que se espera do treinador. Ele era uma peça – muito importante, mas apenas uma – de uma engrenagem que girava antes mesmo de sua chegada. Não carrega consigo um projeto esportivo pronto para ser aplicado em qualquer lugar. Nem poderia: por mais que tenha estudado, possui menos de dois anos de experiência como treinador de futebol de pessoas adultas. Ainda tem muito o que aprender.

Segundo, ele representa um caminho diferente ao que o Internacional vinha tomando com Abel Braga. A sua filosofia se baseia no famoso Jogo de Posição que virou ponto de discussão acalorada na passagem de Doménec Torrent pelo Flamengo. É uma maneira de organizar o jogo ofensivo com aproximações e movimentações sem a bola para criar e atacar os espaços e contrasta com o time mais reativo com o qual Abel levou o Colorado a um gol do título brasileiro. Também há diferenças em relação a Eduardo Coudet, outro com predições ofensivas, mas que eram executadas de uma maneira mais direta.

Será necessária uma adaptação mútua entre elenco e treinador para a coisa funcionar. Não à toa que a Zero Hora já informa que Ramírez pediu à direção do Internacional um volante com qualidade de passe, uma posição importantíssima para fazer o seu jogo rodar. Mas para não dizer que Abel não deixa nenhum legado, ele fez um trabalho muito bom com a garotada da base, como Caio, Heitor e Praxedes, que certamente será aproveitado por Ramírez.

Ramírez é um profissional muito interessante. Seu trabalho no Independiente del Valle teve momentos sublimes. Gosta e sabe trabalhar as categorias de base. É entusiasta de um jogo ofensivo que, quando funciona, tem a capacidade de encantar. Mas como sempre, a chave não é o que ele propõe fazer, mas se conseguirá executar bem o que pretende. E a chave para isso passa por calibrar as expectativas e dar tempo para o homem trabalhar.

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