Zerozero
·19 de dezembro de 2024
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·19 de dezembro de 2024
Os adeptos do Sporting têm muito para lamentar acerca da forma como as últimas semanas se desenrolaram, com a saída de Rúben Amorim e o consequente desabar da boa forma. É um clube que rapidamente se deixa engolir pela escuridão, mas, vale lembrar, é quando o sol se põe que as estrelas surgem...
Essa nova e brilhante luz a nascer no plantel leonino é João Simões, que apesar de ainda ser menor de idade (nascido em 2007!) está a aproveitar bem o espaço cedido pelas lesões de Pote, Bragança e Morita. Depois de minutos a ala frente ao Amarante (6-0) e Arsenal (1-5), foi lançado ao onze em dupla com Hjulmand em Brugge (2-1), frente ao Boavista (3-2) e agora jogou os 120 minutos com o Santa Clara (2-1)!
Longe de ser a solução para todos os problemas da equipa, especialmente quando esta lhe pede equilíbrio, o novo miúdo vai mostrando personalidade e vontade de o tentar ser. E como a mão cheia de jogos não conta a história toda, o zerozero procurou saber um pouco mais sobre esta jovem solução da confiança de João Pereira.
Por vezes é difícil exaltar a qualidade ou potencial de um jovem jogador sem utilizar como muleta a comparação com terceiros. Neste caso, apoiamo-nos nesse recurso logo de início.
João Simões é um médio dotado de técnica, mas também muito trabalhador a nível defensivo e ofensivo. Entra desde logo no saco de João Neves e Mateus Fernandes, outros dois algarvios que preenchem os mesmos parâmetros, mas a melhor comparação possível é com João Moutinho, que viveu um percurso excecionalmente parecido: nascimento em Portimão, destaque na formação do clube local e demonstrações de maturidade e liderança que valeram uma estreia prematura na equipa principal do Sporting. É uma história que se repete precisamente 20 anos depois!
Foi no Algarve que tudo começou para o pequeno João, com apoio do pai e do irmão mais velho (José, que hoje faz golos no futsal local). Deu os primeiros toques no Silves, mas antes de saber ler já vestia a camisola alvinegra do Portimonense, onde permaneceu durante vários anos.
No último ano em Portimão já era visto como um dos grandes talentos da zona, a estrela de uma geração de 2007 que ia fazendo estragos, e até representava ocasionalmente o Sporting em torneios internacionais. André Figueiredo, o último treinador que teve em Portimão antes da mudança definitiva para Alcochete, admite que João se destacava dos demais e que precisava de exercícios mais difíceis.
«Ele na altura já jogava como médio centro, era um jogador muito disponível a atacar e a defender. Essa disponibilidade, para mim, é a característica mais importante dele. Ele queria sempre a bola e quando a tinha tomava quase sempre as boas decisões. Quebrava as linhas em condução e em passe, rematava, e além disso, sendo esquerdino, já jogava muito bem com o pé direito», disse ao zerozero.
Nada disso (nem do que surgirá a seguir) se desalinha do autorretrato que o próprio jogador fez há um ano e meio, quando assinou o primeiro contrato profissional com o Sporting: «Sou forte, resistente, rápido, tenho bom passe e remate, mas também tenho coisas a melhorar. É isso que faço, tento sempre aperfeiçoar as minhas capacidades».
Para chegar à titularidade num grande com apenas 17 anos não basta apenas talento, nem a ajuda de uma série de lesões alheias. É necessária uma série de atributos mais difíceis de medir à distância!
A liderança, por exemplo, é uma das qualidades que João Simões tem há muito. Desde os tempos em que usava a braçadeira na geração de 2007 do Portimonense - e por vezes até o escalão acima, quando era lá chamado -, até à talentosa seleção portuguesa de sub-17 (Quenda, Mora, etc...) que no último verão capitaneou até à final do Euro da categoria. Também capitão em vários escalões da formação leonina.
«Era o tipo de miúdo que ia ao treino para treinar», recorda André Figueiredo, que hoje comanda os juvenis do Odiáxere. «Ele gostava de brincar, mas quando era para trabalhar a sério ele era focado e disciplinado. Depois, ficava muito chateado se as coisas não lhe corressem bem a ele ou à equipa. Fazia parte da personalidade dele. Não era preciso dar-lhe motivação extra porque ele, sozinho, tinha tendência a melhorar.»
Entusiasmado com questões sobre a mentalidade de Simões, jogador com quem ainda comunica e acompanha ocasionalmente, André arrancou para uma história que bem ilustra o quão exigente era o jovem jogador. Não só consigo mesmo, mas também com os que o rodeiam - colegas e... treinador:
«Como a geração era de um nível elevado, eu dava sempre exercícios difíceis. Houve um treino em que no final o Simões veio ter comigo e disse "Mister, este exercício foi fácil. Tem de ser mais difícil!". Eu fiquei olhar para ele do tipo... Aquilo era um exercício para sub-14! Aí comecei a perceber que aquele miúdo tinha algo a mais do que os outros.»
Nos poucos minutos (316) que jogou pela equipa principal do Sporting, João Simões já deixou indícios desse carisma. Pede a bola, dá indicações aos colegas e até conquista as bancadas com aqueles momentos que todos os adeptos conseguem apreciar, como um carrinho esforçado de braço ao peito, com o pulso ligado. Nem os treinadores mais antigos o esquecem...
«Não desprezando outros que tive, a nível de formação ele foi o jogador que mais gosto me deu treinar. Pela personalidade, qualidade e tudo o que ele queria. Fazia dores de cabeça no sentido em que nos faz pensar em exercícios e objetivos específicos para conseguir fazer alguém assim evoluir», atirou.
Curioso, o mister perguntava, depois de mais uma manhã de sábado em que a equipa chegou à vitória: «Ó Simões, onde vais agora?» A resposta ia alternando entre o futsal, o bodyboard e a bicicleta, não fosse ele um miúdo ativo por natureza. Hoje, a resposta seria certamente bem diferente, provavelmente relacionada com a ambição de quem já tem planos a médio e longo prazo.
«Eu sempre achei que ele iria ser profissional. Não adivinhava que fosse tão rápido e no Sporting, mas a partir do momento em que o comecei a ver nas camadas jovens das seleções, sempre como capitão e titular, aí a coisa ficou mais séria. Ser profissional era uma questão de tempo e aconteceu agora», diz André Figueiredo ao zerozero.
«Se continuar a trabalhar como sempre trabalhou, vai chegar longe. É um miúdo muito focado no que faz e no que quer, que gosta de aprender e de evoluir, e por isso tem tudo para singrar nesta vida. Nunca sabemos o futuro, mas com certeza ele terá sucesso em Portugal ou lá fora.»