Trivela
·14 de setembro de 2021
In partnership with
Yahoo sportsTrivela
·14 de setembro de 2021
John Thomson viveu somente até os 22 anos, mas brilhou o suficiente para marcar seu nome na história do Celtic. O goleiro disputou 188 partidas pelos Bhoys e conquistou dois títulos da Copa da Escócia, descrito como um arqueiro à frente de seu tempo. Porém, foi a morte trágica durante um clássico contra o Rangers, num choque acidental em que fraturou o crânio, que torna seu nome celebrado pelos torcedores alviverdes até hoje. E a rodada do final de semana contou com uma bonita homenagem de Joe Hart. Durante o aquecimento, o goleiro titular do Celtic usou uma camisa com o nome de Thomson e o número 90, relembrando os 90 anos do falecimento do escocês.
Nascido na cidade de Kirkcaldy, na costa leste da Escócia, Thomson começou a trabalhar nas minas de carvão ainda na adolescência. Foi o futebol que mudou sua história, se destacando por equipes amadoras até ser contratado pelo Celtic em 1926, aos 17 anos. Meses depois, o novato já assumiu a posição de titular dos Bhoys e virou um dos destaques da equipe. Ganhou a fama de “Príncipe dos Goleiros”. Faturou seu primeiro título na Copa da Escócia de 1926/27 e repetiria a conquista em 1931, embora aqueles fossem tempos dominados pelo Rangers no Campeonato Escocês.
Thomson era considerado baixo para ser goleiro mesmo na época, com 1,75 m. O jovem, entretanto, se destacava pelo estilo arrojado e pela habilidade atlética sob as traves. Dava bons saltos e exibia grande força nos braços para espalmar as pesadas bolas usadas no período. Além disso, primava pela habilidade com as mãos e pela forma como se antecipava aos movimentos dos adversários. Segundo Desmond White, ex-presidente do Celtic e ex-goleiro profissional, Thomson tinha características que “se assemelhavam às de um bailarino”. Em tempos de vacas magras dos alviverdes, o arqueiro evitava um desempenho pior e mantinha uma média de um jogo sem sofrer gols a cada três aparições.
Em tempos mais duros do futebol, Thomson também ficou marcado pela coragem. Em fevereiro de 1930, o goleiro já tinha sofrido uma série de lesões durante uma defesa: fraturou a mandíbula e algumas costelas, além de perder dois dentes num jogo contra o Airdrieonians. Voltou a tempo de disputar seu primeiro compromisso com a seleção escocesa ao final daquela temporada. Já em 5 de setembro de 1931, aconteceu o acidente na Old Firm que abreviaria sua vida.
No início do segundo tempo do clássico, Thomson disputou uma bola com Sam English, atacante do Rangers. O joelho do adversário se chocou diretamente com a cabeça do goleiro, o que provocou uma fratura no crânio e o rompimento de uma artéria em sua têmpora direita. O arqueiro subiu consciente na maca e foi levado diretamente para o hospital, sem que o público em Ibrox percebesse a seriedade do caso. Alguns torcedores vaiaram o escocês, achando que ele estava fingindo o problema, até que um jogador do Rangers pedisse respeito. Com um afundamento no crânio, Thomson chegou com vida ao hospital e foi submetido a uma cirurgia para tentar aliviar a pressão no cérebro. Porém, naquela mesma noite, horas depois do acidente, ele faleceria.
Embora o lance tenha ocorrido na Old Firm, ele não aumentaria a animosidade entre os clubes. Thomson era inclusive protestante. Já Bill Struth, treinador do Rangers, foi responsável por enviar um carro para buscar a família de Thomson e levá-la ao hospital enquanto o goleiro era operado. Cerca de 30 mil pessoas compareceram ao funeral e o túmulo do arqueiro passou a receber constantes homenagens dos torcedores alviverdes a partir de então. Em 2008, Thomson foi introduzido no Hall da Fama do futebol escocês. Além disso, o Celtic já realizou diversas homenagens nos aniversários da morte e a própria torcida leva bandeirões às arquibancadas com a imagem do goleiro.
Já Sam English viu sua carreira ficar marcada também pelo episódio. O norte-irlandês tinha 23 anos na época e disputava sua primeira temporada com o Rangers. Após o acidente, o atacante recebeu o apoio dos adversários pelo lance involuntário e da própria família de Thomson, que publicou uma carta nos jornais eximindo o atleta de culpa. English seguiu por mais duas temporadas com os Gers e se colocou entre os artilheiros da equipe, mas nunca negou o trauma pela morte do goleiro. Contudo, alvo de insultos de torcedores e de cruéis provocações de oponentes, acabou se transferindo ao Liverpool e também defendeu ao Hartlepool na Inglaterra. Aposentou-se aos 28 anos, admitindo como os últimos anos de sua carreira foram dolorosos, e faleceu em 1967, aos 58 anos. Permanece exaltado pelo Rangers, dando nome ao troféu entregue aos artilheiros de cada temporada.
O gesto de Joe Hart neste final de semana aconteceu em meio a uma nova onda de tributos a John Thomson. Já dentro de campo, o inglês honrou a memória do veterano ao manter sua meta invicta na vitória por 3 a 0 sobre o Ross County. Dias antes do jogo, a torcida do Celtic já tinha realizado sua peregrinação anual ao túmulo. E a imagem de Thomson continua presente em Parkhead, para relembrar não apenas sua tragédia, mas sua dedicação aos alviverdes e seu sucesso pelo clube, mesmo sendo breve.