Jogador disputa final do Estadual com tornozeleira eletrônica no Rio | OneFootball

Sete meses depois de deixar o sistema prisional, o meia-atacante Yuri de Carvalho da Silva, do Goytacaz, vive um dos capítulos mais improváveis do futebol carioca.

Aos 30 anos, o jogador disputa a final da Série B2 do Campeonato Carioca, equivalente à quarta divisão estadual, utilizando uma tornozeleira eletrônica, equipamento que usa desde maio, quando obteve progressão de regime após sete anos encarcerado.

A situação ganhou destaque neste domingo (30), no empate em 1 a 1 contra o Macaé, no Estádio Cláudio Moacyr, o Moacyrzão, em Macaé. Yuri entrou aos 25 minutos do segundo tempo, como tem feito ao longo da campanha, e atuou com o dispositivo coberto pelo meião azul na perna esquerda. Ele ainda não marcou gols na competição, mas é considerado uma peça constante nas substituições promovidas pelo técnico Wellington Gomes.

A presença do atleta em campo, mesmo sob monitoramento judicial, chamou atenção do público e motivou questionamentos sobre sua regularidade. Internamente, dirigentes do Goytacaz afirmam que não existe, no regulamento da Série B2 ou nos documentos da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), qualquer proibição para que um jogador atue usando a tornozeleira. “Atrapalha, mas não impede”, resumiu uma das pessoas consultadas pelo Globo Esporte.

Procurado pelo portal, o clube preferiu não emitir declaração oficial. Já a Ferj adotou postura cautelosa e informou que buscará esclarecimentos sobre a existência de algum impedimento legal antes de tomar qualquer decisão. Em nota, ressaltou que considera o esporte um instrumento de inclusão e ressocialização, reforçando sua missão de “formar cidadãos antes de atletas”.

Preso em 2018 por tráfico de drogas, Yuri cumpriu pena na Casa de Custódia Dalton Crespo de Castro, em Campos dos Goytacazes, até ser liberado para o regime semiaberto com monitoramento eletrônico.

No retorno ao futebol, é descrito por funcionários do clube como um jogador dedicado, tranquilo e bem quisto no ambiente do elenco. A diretoria, inclusive, chegou a solicitar à Vara de Execução Penal a retirada do equipamento, mas o pedido ainda não foi apreciado pela Justiça.

Mesmo no centro do debate, o Goytacaz planeja renovar o contrato do meia-atacante após o fim do campeonato.

O segundo e decisivo jogo da final acontece no próximo domingo (7), às 15h, no Aryzão, em Campos. Em caso de novo empate, o título da Série B2 será decidido nos pênaltis, cenário no qual Yuri pode encerrar a temporada com uma conquista inédita, ainda sob os olhos atentos da Justiça.