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·24 de abril de 2025

Jornalista esportivo é impedido de seguir carreira após expor caso envolvendo Ednaldo Rodrigues

Imagem do artigo:Jornalista esportivo é impedido de seguir carreira após expor caso envolvendo Ednaldo Rodrigues

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Oscar Paris, jornalista esportivo que atuava em veículos da Bahia, foi impedido de seguir sua carreira após expor, em 2008, um caso de alteração de documentos de um atleta do futebol internacional pela Federação Baiana de Futebol (FBF), para beneficiar um clube do interior da Bahia, a pedido de Ednaldo Rodrigues, que ocupava o cargo de presidente da FBF na época. A informação foi revelada em reportagem veiculada pelo Intercept Brasil na última quarta-feira (23).


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De acordo com as apurações de Paris, os registros federativos do jogador Liedson, que não tinha passagem por categorias de base, haviam sido mudados a fim de garantir ao time baiano mais de R$ 900 mil como “mecanismo de solidariedade”, valor recebido por clubes formadores dos atletas em transferências. Ao jornalista, uma ex-funcionária da FBF, que assinou o documento modificado, afirmou que a alteração teria sido feita por Ednaldo Rodrigues, atualmente, presidente da CBF.

Com amplo currículo, o jornalista gaúcho construiu uma trajetória sólida na Bahia, onde atuou como chefe de reportagem, editor e repórter especial, comentarista e narrador em veículos como o Correio da Bahia, SBT, Band e nos canais da Sky e da DirecTV. Após a publicação do caso, Oscar Paris, que trabalhava na TVE, televisão pública do governo da Bahia, e no jornal A Tarde viu sua carreira chegar ao fim e passou a enfrentar o que acredita ser uma perseguição judicial liderada por Ednaldo, conforme revelado ao Intercept.

Além de perder os dois empregos, Paris afirma que nunca mais recebeu propostas de trabalho no segmento esportivo e precisou lidar com oito processos judiciais da FBF e de Ednaldo Rodrigues contra ele por calúnia e difamação. 16 anos depois, em março de 2025, após decisão do ministro Sebastião Reis Júnior no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o jornalista conquistou a décima vitória dos processos. Os gastos com a defesa, até o momento, chegam a aproximadamente R$ 1 milhão.

“Eu não esperava essa retaliação, porque não apontei para ninguém, não disse que ninguém fez isso ou aquilo. Eu fiz jornalismo. Eu perguntei o que havia acontecido, por que aqueles erros absurdos teriam ocorrido” afirmou Oscar Paris ao veículo.

Por outro lado, Ednaldo afirma que as ações movidas contra o jornalista tiveram como objetivo a “reparação de ofensas graves e injustificadas à sua honra e reputação” e não visavam a “retaliação ou intimidação à atividade jornalística”.

Segundo Oscar, na época, ele havia se afastado provisoriamente da TVE para participar de uma campanha política do PT, partido que estava no governo da Bahia e à frente do canal, mas retornaria depois das eleições municipais. Entretanto, neste período, Ednaldo Rodrigues entrou com as ações contra o jornalista e o acordo não se cumpriu. “Quando eu ia voltar, o diretor-geral do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia disse que não podia me recontratar”, disse Paris.

Após a saída do profissional da TVE, a emissora foi retirada pelos denunciantes dos processos movidos por Rodrigues e pela FBF. De acordo com o jornalista, o veículo também teria se recusado a defendê-lo nas ações.

CASO LIEDSON

Conforme exposto por Paris em 2008, o Esporte Clube Poções foi apontado como clube formador de Liedson na documentação que teria sido alterada pela Federação Baiana de Futebol. As informações modificadas apontavam que o jogador foi registrado pelo time em 1993, quando tinha 15 anos, atuando pelo clube até setembro de 2000, com quase 23 anos.

Entretanto, segundo a reportagem, a realidade era diferente. Liedson não foi federado até chegar ao profissional, aos 21 anos, quando atuou pelo Liga Valenciana no campeonato estadual intermunicipal. Sua passagem pelo Poções aconteceu somente em 2000, quando o jogador tinha 22 anos, e durou nove meses. O clube, que teria direito a recebeu 0,3% do valor da transferência do atleta comprado pelo Sporting, de Portugal, junto ao Corinthians, em 2003, por R$ 7 milhões, depois de entregar o certificado falso assinado pela FBF à FIFA passou a ter direito de receber 4% da venda do craque.

Na reportagem de Oscar Paris, documentos comprovam que o Sporting alertou a entidade internacional, que cobrou a CBF sobre as informações falsas no certificado apresentado. Os dados foram corrigidos por Liedson, que escreveu uma carta informando que não atuou pelo Poções até os 21 anos. A FIFA não repassou o valor ao Poções após a fraude ser revelada. Já a Federação Baiana fez a correção do documento somente em julho de 2006, cerca de um mês depois da cobrança feita à Confederação Brasileira de Futebol.

Em nota ao Intercept, os advogados de Ednaldo afirmam que o jornalista “imputou falsamente ao Sr. Ednaldo Rodrigues a prática de conduta criminosa, mesmo tendo pleno conhecimento de que o episódio envolvia apenas um erro material em documentação da Federação Baiana de Futebol – prontamente corrigido, sem qualquer impacto desportivo ou prejuízo a terceiros”.

O caso de Oscar Paris vem à tona depois da reportagem da revista Piauí que revelou reajustes dos valores recebidos pelos presidentes de federações e outros bastidores da gestão de Rodrigues na maior entidade do futebol brasileiro, como gastos milionários da CBF, benefícios individuais a dirigentes e importantes cortes orçamentários. “A reportagem (da Piauí) não me surpreendeu. A surpresa é que finalmente um veículo atentou para o fato de que as instituições esportivas do Brasil precisam ser vistas com lupa”, enfatizou o jornalista.

Desempregado e sem oportunidades de trabalho, Paris passou a lidar com questões de saúde mental e física. Nos anos seguintes ao caso, o jornalista enfrentou a depressão e dois cânceres. “Quando você vê sem salário, desempregado, com filho para criar, acontece tudo com sua cabeça. Tive depressão, fiquei abalado emocionalmente. Só não me entreguei porque olhava para o meu filho e via alguém que dependia de mim, tinha que criar, foi meu filho que me manteve em pé”, contou.

Negado pelo jornalismo, Oscar Paris passou a trabalhar em órgãos públicos como assessor de comunicação. Porém, ao Intercept Brasil, afirmou que segue conectado com o futebol. “Futebol é um patrimônio cultural imaterial do nosso povo. E eu faço parte disso, como torcedor e profissional”, disse.

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