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·16 de outubro de 2025
Leila, Libra e Bap: quem realmente está jogando o 'campeonato dos bastidores'?

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·16 de outubro de 2025
O clima entre Flamengo, Libra e Leila Pereira chegou ao limite. O clube carioca contesta na Justiça o modelo de divisão de receitas da liga, enquanto a presidente do Palmeiras se tornou uma das vozes mais críticas à postura rubro-negra. No centro da disputa está o critério de audiência, que define 30% do valor do contrato de TV válido entre 2025 e 2029.
A Libra diz que o modelo foi aprovado. O Flamengo afirma que o estatuto é omisso e que a votação nunca foi concluída.
O impasse começou ainda na gestão de Rodolfo Landim, que negociou as bases do acordo com a Globo em 2024.Mas é sob Luiz Eduardo Baptista (Bap) que a briga estourou de vez, transformando o debate sobre direitos de TV em uma verdadeira guerra política.
O contrato da Libra com a Globo prevê a divisão de receitas em três partes: 40% iguais entre os clubes, 30% por desempenho esportivo e 30% por audiência. É justamente essa fatia final, que leva em conta a popularidade de cada equipe, que virou o ponto central da discórdia.
O Flamengo entende que qualquer critério de medição de audiência precisa ser aprovado por unanimidade, já que o estatuto não define detalhes sobre TV aberta, fechada e streaming. Apesar disso, a Libra solicitou que a Globo fizesse os pagamentos com base em cenários não aceitos pelo Rubro-Negro.
Sem consenso, o clube foi à Justiça e obteve uma liminar que bloqueou cerca de R$ 77 milhões da parcela de audiência que seria repassada pela Globo à Libra.
A entidade, por outro lado, sustenta que o método de cálculo foi aprovado em assembleia e que o Flamengo teria ratificado esse entendimento em fevereiro de 2025 - o que o Rubro-Negro nega.
Embora o presidente atual do Flamengo seja Bap, o nome de Landim continua aparecendo no debate. Foi ele quem, em setembro de 2024, firmou o contrato base com a Globo e validou o formato geral de 40/30/30.
A partir de 2025, Bap herdou a responsabilidade de defender o clube nas discussões sobre o detalhamento técnico dessa divisão. Landim optou pelo silêncio durante um tempo, enquanto alegações de que sua gestão havia assinado e a nova não queria cumprir. Quando se pronunciou, o ex-presidente matou a narrativa:
"Quando o estatuto foi assinado, não havia nenhuma negociação de direitos iniciada e ainda era esperada a possível transformação daquele grupo numa verdadeira liga, com a adesão de todos os demais clubes. Não é em um estatuto que se esperava que fossem discutidos todos os detalhes de futuros contratos. Ali era importante constar princípios básicos, como, por exemplo, o direito de veto a futuras decisões que o Flamengo obteve. O resto viria depois."
Ou seja, Landim iniciou o processo; Bap está jogando o “segundo tempo” - e agora, o jogo é nos tribunais.
A Libra, comandada por Silvio Matos, diz que o bloqueio imposto pelo Flamengo foi “desproporcional” e prejudica outros clubes financeiramente. Segundo o executivo, o clube recebeu um pedido de “armistício” após uma assembleia em agosto, mas decidiu seguir com a ação judicial mesmo assim.
Silvio afirma que a liga tentou negociar e que o Rubro-Negro foi quem encerrou o diálogo.
Os clubes mais alinhados à Libra - entre eles Palmeiras, São Paulo e Atlético-MG - veem o movimento do Flamengo como um gesto de força que ameaça a união do grupo.
A tensão entre Leila Pereira e Bap virou o retrato público da crise. A presidente do Palmeiras acusa o Flamengo de agir de forma autoritária e diz que é impossível dialogar com a atual gestão. “Se um clube se acha maior que o futebol brasileiro, que jogue sozinho”, declarou recentemente.
Bap respondeu com ironia e críticas à coerência da dirigente, afirmando que ela prega união, mas “levanta e vai embora” das reuniões sempre que o Flamengo apresenta propostas. “Gentileza gera gentileza”, disse o presidente rubro-negro.
A troca de farpas consolidou o confronto como um embate pessoal e político dentro do futebol brasileiro.
O impasse fez até grupos internos do Flamengo e torcidas organizadas se manifestarem. A Frente Flamengo Maior, por exemplo, publicou nota apoiando Bap e acusando a Libra de impor um modelo que “prejudica os interesses do clube e da Nação Rubro-Negra”.
Outros grupos, como Gestão e Paixão, FlaRaiz e FAM, também assinaram cartas públicas de apoio à diretoria.
Nos bastidores, o clube acredita que a postura firme é necessária para garantir transparência. O argumento é simples: sem uma fórmula clara, a Libra pode definir unilateralmente como cada clube é medido - e, consequentemente, quanto cada um ganha.
Um parecer do professor Pablo Renteria, da PUC-Rio, trouxe novo combustível à disputa. Segundo ele, assembleias realizadas por videoconferência devem, obrigatoriamente, ser gravadas. Se isso não ocorreu, as decisões podem ser anuladas. O Flamengo afirma que pediu o registro audiovisual da assembleia e nunca recebeu resposta.
Além disso, há suspeitas de que as pautas das convocações de maio e agosto tenham sido alteradas, o que configuraria irregularidade formal. Caso a Justiça confirme essas falhas, a assembleia pode ser invalidada e todas as deliberações refeitas.
A Federação Nacional dos Atletas Profissionais (Fenapaf) pediu para participar do processo como parte interessada, alegando que o bloqueio pode afetar o pagamento de salários dos jogadores. O Tribunal de Justiça do Rio aceitou o pedido, ampliando o alcance da disputa.
Segundo a Fenapaf, o congelamento de cerca de R$ 77 milhões pode gerar dificuldades de caixa em vários clubes da Libra, especialmente os que dependem mais do repasse televisivo.
Enquanto o debate jurídico se arrasta, o consultor Marcelo Campos Pinto, que representa o Flamengo na Libra, defende que o clube aproveite o momento para expandir os direitos próprios de mídia. Ele acredita que o futuro está em transmissões diretas e conteúdos digitais sob controle do próprio clube.
Com 64 milhões de seguidores somados nas redes, o Flamengo tem base suficiente para transformar sua Flamengo TV em uma das plataformas esportivas mais influentes da América Latina.
Arbitragem e Justiça: a definição do critério de audiência pode ser decidida por tribunal arbitral; Revisão de assembleias: se confirmada a falta de gravação, atas podem ser anuladas; Novo acordo técnico: a solução definitiva pode vir de um anexo regulatório com pesos por plataforma e auditoria independente.
A briga entre Flamengo, Libra e Leila Pereira vai muito além de vaidades pessoais. O que está em jogo é o modelo que definirá o futuro financeiro do futebol brasileiro. Landim iniciou o processo, BAP assumiu o embate e Leila se transformou na principal voz contrária dentro do bloco.
Enquanto o impasse segue nos tribunais, o “campeonato dos bastidores” continua rolando - e, nele, o Flamengo mostra que também sabe jogar fora das quatro linhas.