Trivela
·10 de fevereiro de 2021
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·10 de fevereiro de 2021
O futebol tem facilidades durante a pandemia. Seus membros passam por testagens frequentes e as ligas de primeiro nível retomaram suas atividades antes mesmo de setores específicos da economia em determinados países. Cabe ponderar que os funcionários dos clubes acabam expostos, com inúmeros casos da doença, mesmo com os protocolos respeitados. Ainda assim, a posição de privilégio é clara se comparada à maioria dos trabalhadores. E o chefe da administração do Bayern de Munique, Karl-Heinz Rummenigge, ainda sugeriu passar à frente parte dos jogadores na fila da vacina. Uma visão refutada por um atleta, o meia Leonardo Bittencourt, do Werder Bremen.
Rummenigge manifestou sua posição na TV alemã. Para ele, as estrelas do futebol deveriam ser vacinadas antes para dar exemplo. “Se um jogador do Bayern for vacinado, a crença da população sobre a eficácia da vacina cresce. Não queremos passar à frente, mas os futebolistas podem servir de modelos para contribuir à sociedade”, afirmou o dirigente, à Sport1. Sua opinião foi amplamente rechaçada, quando na Alemanha ainda não há doses o suficiente nem mesmo para os profissionais da linha de frente na saúde. Soa como absurdo que atletas plenamente saudáveis sejam colocados à frente de idosos e pessoas vulneráveis.
Perguntado sobre a questão numa coletiva do Werder Bremen, o teuto-brasileiro Bittencourt deu uma resposta interessante: “Em primeiro lugar, as pessoas para as quais a vacina é vital deveriam ser imunizadas primeiro. A saúde vem em primeiro lugar. Somos privilegiados o suficiente por jogar. Não quero me levantar e dizer: gostaria de ser vacinado antes. Não cairia bem ao futebol se os jogadores passassem à frente na lista de prioridades”.
Na Alemanha, a própria volta do futebol em maio causou ampla discussão por causa da testagem em massa. Muitos questionavam a quantidade de testes disponibilizados aos atletas, quando a maioria da população não tinha tal facilidade. Então presidente do Schalke 04, Clemens Tönnies colocou à disposição sua indústria para produzir os exames à Bundesliga. Pouco depois, ele deixaria o cargo, pressionado exatamente por um surto de coronavírus entre seus funcionários.
O tema da vacina também foi debatido na Inglaterra durante a última semana. O Chesterfield, da quinta divisão, oferece seu estádio como um local de vacinação. Durante o processo, três jogadores e três funcionários do clube acabaram imunizados – sob a justificativa de que o lote da vacina já estava aberto e poderia ser perdido, caso as doses fossem mantidas a temperaturas superiores a -60°C por mais de duas horas. A notícia de que “jogadores furaram a fila” logo se espalhou. Segundo a Sky Sports, membros do NHS (o sistema de saúde público britânico) receberam ligações com ameaças por causa do episódio.
O Chesterfield se manifestou em nota oficial. Conforme o clube, os vacinados faziam parte de “grupos vulneráveis” e opções prioritárias haviam se esgotado. Caso a vacinação de pessoas de grupos de risco não seja viável no momento, a imunização de outros indivíduos é permitida pelo NHS para evitar desperdícios. Jogadores de futebol, entretanto, estão no pé da lista. De qualquer maneira, o NHS abriu uma investigação interna e declarou que é “inaceitável furar a fila das pessoas com maior risco”, já que existem listas de consulta a grupos prioritários que podem receber a vacina em curto prazo.
Para não ficar no extremo da ideia de Rummenigge, vale citar o exemplo do que ocorre no Brasil. Durante os últimos dias, repercutiram bastante as imagens de ex-jogadores recebendo doses da vacina, como Zagallo e Evaristo de Macedo. Desta maneira, de fato, os futebolistas poderiam servir de exemplo à campanha de imunização. As antigas lendas, já parte dos grupos de risco, poderiam ceder suas imagens para tal propaganda, em vez de se explorar mais uma vez os privilégios que o futebol profissional possui. Aos 65 anos, respeitando a ordem determinada pelas autoridades sanitárias, o próprio Rummenigge poderia ajudar na Alemanha em breve.