MKT Esportivo
·04 de dezembro de 2024
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A histórica final da Libertadores de 2024, disputada entre Botafogo e Atlético-MG – transformados em Sociedades Anônimas do Futebol nos últimos anos -, reacendeu na Argentina o debate sobre a conversão dos clubes em sociedades anônimas desportivas (SADs), modelo semelhante às SAFs brasileiras.
O governo de Javier Milei, que defende a abertura do futebol ao capital privado, usou o título do Botafogo como exemplo de sucesso para reforçar a proposta. Enquanto isso, a Associação do Futebol Argentino (AFA) mantém resistência, alegando que a mudança pode comprometer a essência e a identidade dos clubes locais.
Desde 2019, apenas River Plate e Boca Juniors conseguiram representar a Argentina em finais de Libertadores, em 2019 e 2023, respectivamente. No mesmo período, o futebol brasileiro dominou as decisões. Flamengo esteve presente em 2019, 2021 e 2022, o Palmeiras, em 2020 e 2021, o Santos em 2020, o Fluminense em 2023 e, mais recentemente, Atlético-MG e Botafogo disputaram a final de 2024, a primeira decisão entre SAFs. Esse cenário alimenta o debate sobre a necessidade de modernização na gestão dos clubes argentinos.
Após a partida, realizada no Monumental de Núñez, estádio do River Plate, em Buenos Aires, Javier Lanari, subsecretário de imprensa do presidente argentino Javier Milei, disse que foi “deprimente assistir à final da Libertadores entre duas equipes brasileiras e que sábado foi um “péssimo dia para ser anti-SAD”.
“O caso do Botafogo é incrível. Há três anos estava falido, jogou na segunda divisão. Um empresário americano comprou 90% e investiu US$ 70 milhões. Hoje são campeões da Libertadores. Nada mais deprimente do que assistir à final da Libertadores entre duas equipes brasileiras pela TV. E, também, na Argentina. Eu completo o combo. Péssimo dia para ser anti-SAD”, publicou Javier Lanari.
Na Argentina, a adoção de sociedades anônimas desportivas (SADs) não é bem vista pela AFA, que ameaça desfiliação imediata dos clubes que adotarem esse modelo. Claudio “Chiqui” Tapia, presidente da entidade, lidera a oposição contra a abertura ao capital estrangeiro, em contraste com o presidente Javier Milei, defensor da medida.
José Francisco Manssur, coautor da lei que criou as SAFs no Brasil em 2021, acredita que a introdução das SADs poderia reduzir a distância financeira entre os clubes argentinos e brasileiros, favorecendo a competitividade no continente.
“Proibir um clube de se organizar como empresa é tão grave quanto obrigar todos os clubes a se transformarem em empresa, do ponto de vista da violação à autonomia. E realmente é um atraso na adoção do conceito que se faz no mundo inteiro, que só tem aumentado a distância financeira entre os clubes da Argentina e os brasileiros”, afirmou José Francisco Manssur.
A tensão entre o governo argentino e a AFA permanece acirrada, com ambos os lados firmes em suas posições. Após a publicação do decreto de Milei, que busca facilitar a transformação dos clubes em sociedades anônimas, a AFA se manteve inflexível, alegando que a medida fere a autonomia das associações esportivas.
A declaração presidencial de agosto, garantindo direitos iguais para clubes independentemente da estrutura jurídica, acirrou ainda mais o conflito, especialmente diante da ameaça de sanções da Fifa, que proíbe qualquer interferência governamental nos estatutos das federações.
O cenário político-esportivo se agravou em outubro, quando Claudio Tapia foi reeleito presidente da AFA até 2029, em uma eleição sem concorrência. O governo de Javier Milei contestou a validade do pleito, sugerindo que o processo poderia configurar crime. O presidente argentino revogou benefícios fiscais concedidos aos clubes nos últimos anos, acentuando a disputa. Com essa relação cada vez mais conflituosa, o futuro do futebol argentino segue incerto, marcado pela incerteza entre modernização e tradição.
Recentemente, o River Plate tentou driblar de forma legal a Associação de Futebol do País, ao colocar a equipe na Bolsa de Valores da Argentina e criar o “Club River Plate Financial Trust”.
Enquanto a Argentina segue sem uma definição clara sobre as SADs, o Brasil avança com o modelo das SAFs, que já colhe frutos expressivos. A final da Libertadores de 2024, protagonizada por Botafogo e Atlético-MG, ambos clubes-empresa, é um marco dessa nova era.
Além disso, outros clubes brasileiros continuam aderindo ao formato: os sócios da Portuguesa e do Paulista de Jundiaí aprovaram recentemente a transição para SAF. O Vasco também avança nas negociações para a venda de sua Sociedade Anônima do Futebol ao grupo do empresário grego Evangelos Marinakis, reforçando o movimento de abertura ao capital externo e a busca por maior competitividade no cenário nacional e internacional.