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·01 de outubro de 2025

Liga sem o Flamengo? E se o campeonato não tivesse o Mengão?

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A disputa judicial do Flamengo contra a Libra vem gerando reações intensas nos bastidores do futebol brasileiro, até com sugestão de uma nova liga sem o Clube de maior torcida no país, ideia que partiu da presidente do Palmeiras, Leila Pereira.

O comentário foi feito após a Justiça determinar o bloqueio de R$ 77 milhões que seriam repassados aos clubes da Libra. A medida atendeu ao pedido do Flamengo, que contesta os critérios de divisão de receitas e alega prejuízo em relação ao modelo atual.


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“Minha sugestão seria criarmos outra liga excluindo o Flamengo. Acho que o Flamengo tem que jogar sozinho”, disparou Leila, em entrevista à TV Record. Na sequência, ainda ironizou: “Só se ele quiser jogar contra o sub-20 dele. Eu quero ver a audiência que ele vai ter”.

Na prática, a hipótese de uma liga sem o Flamengo levantada pela presidente do Palmeiras é impossível. Os direitos de transmissão do Brasileirão já estão vendidos à Globo até 2029, em contratos que incluem o Mais Querido. A rescisão desse acordo seria algo prejudicial para todos os clubes do bloco, inclusive o alviverde. Esse exemplo simples mostra que o discurso não passa de mera "bravata".

Ainda assim, a fala de Leila abre espaço para um exercício interessante: como seria um campeonato sem o Flamengo? A resposta, com base em dados de mercado, mostra que o impacto econômico seria devastador.

Liga sem Flamengo: a desvalorização do produto

O Flamengo foi o único clube a ultrapassar R$ 1,3 bilhão em receitas na última temporada. Desse valor, R$ 1,210 bilhão representam receitas recorrentes, sem contar a transferências de atletas. Esse montante recorrente está próximo ao valor total arrecadado pelo Palmeiras (1,2 bi) e é superior a todo o restante.

Essa escala transforma o Rubro-Negro em uma espécie estabilizador do sistema. Para emissoras e patrocinadores, a presença do Flamengo funciona como uma garantia de audiência. O clube tem um número de espectadores alto e constante, o que permite previsibilidade.

Esse dado varia pouco pelo momento esportivo, o que é positivo, já que não depende apenas de bons momentos no campo. Sem essa base rubro-negra, a Globo teria dificuldade para justificar investimentos anuais de R$ 1,17 bilhão em direitos de TV, como é o caso da Libra.

Uma liga sem o Flamengo significaria retirar do mercado a maior marca, a maior audiência e o maior gerador de receita da competição. O clube projeta uma receita bruta de R$ 1,7 bilhão em 2025.

O colapso nas cotas de TV

O modelo da Libra prevê divisão de direitos com 40% igualitário, 30% por performance e 30% por audiência. É exatamente essa última fatia, de cerca de R$ 390 milhões por ano no contrato atual, que depende essencialmente do Flamengo. E também o motivo do imbróglio com a Libra.

A dependência do mercado em relação ao Flamengo fica evidente nos números do pay-per-view. O último dado confiável disponível é de 2022, quando o clube respondeu por 21,5% de todas as vendas do Premiere.

Isso significa que, de cada cinco assinantes, mais de um declarava torcida ao Mengão ao comprar o pacote. Um cenário no qual o Rubro-Negro para de disputar o Brasileirão é também um caminho para a queda brusca na base de assinantes. Sem audiência do Flamengo, o pagamento de direitos de TV aos clubes de uma nova liga naturalmente iria cair.

Mais grave ainda seria o impacto estrutural na própria liga. Oferecer as partidas dos clubes com as maiores torcidas do país é a principal força de negociação. A saída do Corinthians da Libra, por exemplo, reduziu o valor pago ao bloco em cerca de 10% (de R$ 1,3 bilhão para 1,17 bilhão por ano).

A própria existência do contrato bilionário da Libra com a Globo, mesmo contando apenas com nove clubes da Série A (contra 11 da LFU), mostra a força que o Flamengo carrega. O Rubro-Negro é responsável por 47% dos torcedores das equipes presentes no bloco.

O 'Prêmio Flamengo' nas bilheterias

Se na TV o Flamengo garante contratos bilionários, nos estádios pelo Brasil ele gera recordes e superávits para os rivais. Um levantamento exclusivo do MundoBola Flamengo mostra como a simples presença do clube como visitante altera toda a lógica de arrecadação.

O Ceará, por exemplo, teve público pagante médio de 33.856 torcedores na Série A. Contra o Flamengo, foram 57.752 pessoas no Castelão. A arrecadação saltou de R$ 816 mil para R$ 2,7 milhões em uma única noite.

O Cruzeiro também ilustra bem o impacto. Sua média de público era de 39.508 pagantes, mas contra o Flamengo recebeu 52.792 pessoas, um dos maiores números da temporada. A receita bruta foi de R$ 3.079.743,00, atrás apenas do clássico mineiro com o Atlético.

Esse padrão se repete em praticamente todos os mandos de campo: mais gente no estádio, ingressos mais caros e arrecadações recordes. O Bragantino, por exemplo, aumentou o ticket médio de R$ 29,81 para R$ 38,03 quando recebeu o Rubro-Negro, elevando a receita de R$ 518 mil para R$ 1,1 milhão.

Ou seja, não é apenas a Nação Rubro-Negra que enche estádios fora do Rio. Os próprios clubes rivais se programam financeiramente para explorar o efeito Flamengo, seja com aumento de preços, promoções especiais ou até venda de mando - o que seria inviável em uma liga sem o Mengão.

Simulação de perda de receita de bilheteria em uma liga sem o Flamengo

Liga sem Flamengo criaria efeito dominó no mercado

As perdas de uma liga sem o Flamengo vão além de bilheteria ou e audiência. Afinal, o Brasileirão perderia a sua marca mais valiosa. Segundo a Brand Finance, o Flamengo é avaliado em US$ 121,2 milhões (R$ 646 milhões), sendo o clube mais valioso do Brasil e o único a figurar no top-50 mundial.

Essa força cria um cenário no qual os patrocinadores enxergam valor em investir no Brasileirão justamente porque há a certeza de expor suas marcas em jogos do Flamengo. São nessas partidas que sempre estão os maiores públicos e audiências. Existe, portanto, uma previsibilidade similar à da televisão.

Sem o Rubro-Negro, o retorno sobre investimento de quem banca o campeonato provavelmente sofreria uma queda. Isso porque o alcance midiático cairia tanto no Brasil quanto no exterior. Um impacto que cria um efeito cascata para os clubes.

Patrocinadores que colocam as suas marcas em camisas de menor expressão não buscam apenas atingir a torcida local, mas também a visibilidade garantida em jogos de destaque, o maior deles contra o Flamengo. É nesse jogo que a exposição daquela marca chega ao ápice da temporada. Alguns clubes, inclusive, conseguem acordos pontuais para duelos contra o Rubro-Negro.

No caso desse evento sumir do calendário, o contrato automaticamente perde valor. Um efeito contrário ao que acontece com o patrocínio da Betano no Flamengo, por exemplo. Existe uma expectativa que o contrato de R$ 270 milhões por ano abre o caminho para outros clubes conseguirem aumentos com os seus patrocinadores na hora da renovação.

Queda do impacto digital

Além disso, uma liga sem o Flamengo sofreria problemas no mundo digital. O Rubro-Negro nada de braçadas nesse cenário, com mais de 64 milhões de seguidores somando as principais redes sociais. Um número muito superior ao do segundo colocado, Corinthians, com 41,7 milhões.

Mesmo no segundo lugar, o time é o único ao lado do Mengão a superar a marca de 40 milhões. O que mostra a enorme vantagem de presença digital do Flamengo. A saída do clube geraria um vácuo online, reduzindo consideravelmente o engajamento e a relevância do campeonato como produto. Afinal, as redes se tornaram uma forma muito relevante de "vendar" o torneio para outros países.

Conclusão: liga sem o Flamengo é bravata ou alerta?

A fala de Leila Pereira não tem base prática e soa como bravata em meio à disputa judicial. Mas o exercício de imaginar uma liga sem o Flamengo revela algo maior: a dependência estrutural que o futebol brasileiro tem do clube.

O Rubro-Negro é a maior marca, a maior audiência e a maior bilheteria do país. Sem ele, não haveria como sustentar o mesmo valor de cotas, contratos de patrocínio ou receitas dos rivais.

Uma liga sem o Flamengo não existe. Mas pensar nesse cenário mostra que, com ele, existe todo um ecossistema que depende direta ou indiretamente do seu peso.

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