Blog 4-3-3
·02 de outubro de 2019
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“Daria para escrever um livro sobre minha carreira”. É com essas palavras que Rodolfo Soares faz um breve resumo de sua vida no futebol. O zagueiro de 34 anos começou no Fluminense, jogando com nomes como Romário, Roger e Thiago Silva, e atualmente joga no Gzira United de Malta, clube que ganhou certa notoriedade no início dessa temporada ao conseguir uma classificação heroica nas fases iniciais da Europa League.
Rodolfo passou a maior parte de sua carreira jogando no exterior, sempre em países sem grande expressão no futebol mundial. O início de sua trajetória fora do Brasil foi na Dinamarca, ao optar sair do Fluminense após uma lesão que o tirou por um ano dos gramados logo no início da carreira e acabou minando seu espaço no elenco do Tricolor. E o início não foi nada fácil, principalmente na questão da comunicação, fato que acabou causando uma depressão:
“Encontrei um país frio em todos os sentidos, tive depressão por não saber me comunicar, foram tempos difíceis, mas serviram como aprendizado.”
Após rodar por mais alguns países, foi jogar no Líbano no final da última década, e também sofreu por lá. Tinha tudo acertado para voltar ao Brasil e acompanhar o nascimento da filha,em 2009, mas o acordo não foi atendido. Rodolfo tentou fugir, mas a tentativa não deu certo e ele acabou preso (!) Depois de longas negociações, conseguiu a liberação para voltar, mas a essa altura a herdeira já estava com 1 mês de vida.
Resolveu tentar recomeçar a carreira no país, atuando em alguns times de menor expressão, como Canoas/RS e São Raimundo/PA, mas não ficou muito tempo em terras brasileiras, principalmente porque teve algumas divergências com dirigentes que “prometem, prometem e só prometem”. Então resolveu se aventurar no futebol de Malta, e a partir daí a carreira se estabilizou.
A ideia era que Malta servisse de ponte para depois ir aos grandes centros do futebol, mas com uma filha pequena e encantado pelo país, Rodolfo acabou ficando por lá e construiu uma grande história no arquipélago maltês. Desde que chegou, em praticamente todas as temporadas participou das fases preliminares de competições europeias – primeiro pelo Hibernians e nas últimas temporadas pelo Gzira. Segundo ele, “a sensação é indescritível, emoção única, ainda mais participar por um país que não tem muita tradição. Ainda tive o prazer de fazer 1 gol na Champions e 2 na Europa League”.
Com todo esse tempo no país, tem muita propriedade para falar sobre o futebol como um todo por lá. Diz que a população tem sua paixão pelo esporte, mas “de forma controlada”, e que apesar do carinho do povo, os estádios não costumam encher com frequência, até pelo fato de Malta ter apenas 450 mil habitantes.
“Tem que haver algumas melhorias para que o futebol se torne mais atraente, na questão de estrutura eles estão muito atrás dos grandes centros. Acredito que isso será questão de tempo, falta um gestor que mude tudo isso, mas estamos caminhando para essas mudanças.”
Quando chegou em Malta, alguns jogadores brasileiros já estavam por lá, mas hoje o número é bem maior, principalmente pela maior abertura a jogadores estrangeiros no campeonato nacional – na época, eram permitidos quatro, enquanto atualmente existe a liberação para que sete estrangeiros estejam atuando por partida. Mas Rodolfo diz que dentro de campo isso acaba sendo indiferente, porque ele se comunica em inglês, porém fora de campo “é bom ter alguém que fale o mesmo idioma, até para matar um pouco a saudade do Brasil.”
Aos 34 anos, a carreira de Rodolfo já se encaminha para o final, e ele tem essa consciência. Com isso, já pensa em projetos para o futuro, e a história dele com Malta com certeza não acabará tão logo. Ele possui a carteira de treinador do país e pode trabalhar com crianças, com isso está planejando algo que envolva esse sonho. Além disso, abriu uma agência de turismo, com o foco em intercâmbio de brasileiros para Malta. A depressão que teve na Dinamarca o motivou a ter essa ideia e tocar esse projeto, que já ajuda outros jovens a não passarem pela mesma coisa.
Ao falar de ídolos, cita primeiramente seu pai, por toda ajuda que deu em toda sua vida. E dentro do meio futebolístico, Thiago Silva é o principal admirado, pois além de ser um amigo pessoal, “tem uma história linda de vida, é um cara de caráter, além de ter uma técnica e visão de jogo encantadoras.”
Como dito no primeiro parágrafo, o Gzira United conseguiu uma vitória muito expressiva nos playoffs da Europa League no início dessa temporada. Passou pelo Hajduk Split, equipe croata muito tradicional, após ser derrotado em casa por 2×0. No jogo de volta, na Croácia, venceu por 3×1 e conquistou uma classificação histórica. Na fase seguinte, acabou eliminado pelo Ventspils, da Letônia, mas o confronto contra o Hajduk ficou muito marcado, e Rodolfo conta:
“Esse jogo entrou certamente para a história de muita gente, não só da minha. A classificação era dada como perdida, o técnico deles disse que ‘era mais fácil ver um alien do que o Gzira ganhar aquele jogo’, mas algo estava diferente naquele dia, eu tinha a certeza que seria um dia especial, a vitória já seria um marco na história do clube. A partida começou e logo aos 5 minutos tomamos um gol. Estádio lotado, mais de 20.000 torcedores apaixonados cantando, o ser humano mais normal pensaria ‘é, hoje é goleada’, mas conseguimos equilibrar a partida, primeiro tempo 1×0. No segundo tempo jogamos muito bem, time compacto jogando rápido e conseguimos fazer um gol, daí Deus ajudou, fizemos um gol antológico e outro no último segundo. Confesso que depois de muito anos de futebol senti algo incrível , foi um dia muito especial.”
Para finalizar a entrevista, ele dá uma dica aos meninos que querem realizar o sonho de ser jogador de futebol:
“Para os meninos que querem realizar esse sonho de se tornar jogador, eu só tenho uma coisa a dizer: vocês são capazes. Sonhem, busquem, vocês irão encontrar o caminho, mas não será fácil, porém permaneçam firme que dias melhores sempre virão.”
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