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·13 de setembro de 2025
Luís Filipe Vieira critica gestão de Rui Costa e regulamento aprovado pela MAG

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·13 de setembro de 2025
O candidato à presidência do Benfica, Luís Filipe Vieira, escreveu uma carta aberta aos sócios, onde criticou a gestão de Rui Costa.
«Nos últimos quatro anos ganhámos em dívida o que perdemos no capítulo desportivo. Gastámos como nunca sem o retorno correspondente. É importante que todos os Benfiquistas compreendam que este é o retrato atual do clube: um retrato de fragilidade financeira, disfarçado por resultados ocasionais que escondem a realidade estrutural», pode ler-se no comunicado.
«Não posso deixar de sublinhar que o regulamento eleitoral proposto pela MAG parece desenhado para afastar de forma intencional milhares de sócios destas eleições, revelando o medo que esta direção tem daqueles para quem trabalha e a quem deve prestar contas.», referiu, sobre a Mesa da Assembleia Geral (MAG) do Benfica ter divulgado o projeto de regulamento eleitoral aprovado pela direção do clube lisboeta, que contempla a possibilidade de voto eletrónico, algo que as candidaturas de João Noronha Lopes e João Diogo Manteigas já tinham criticado.
No final, abordou ainda o possível regresso de Bernardo Silva: «Ficarei feliz se tal acontecer, seja qual for o presidente. Quando o Bernardo ainda era jogador da formação houve um presidente que, contra a opinião de um treinador e de um diretor geral, evitou a sua dispensa. Tenho orgulho de ter sido esse presidente. Também neste caso é preciso ter memória!»
A carta aberta de Luís Filipe Vieira na íntegra:
«Caros Sócios,
Falta pouco mais de um mês para as eleições mais concorridas da história do SL Benfica, sinal de vitalidade, mas também sinal da enorme preocupação com que muitos olham para o futuro do clube. São eleições decisivas, e não é um exagero o que digo. Atravessamos um tempo de incerteza, em que a debilidade financeira se cruza com a perda de ambição desportiva.
Os números apresentados pela SAD referentes ao último exercício e celebrados pela atual direção como um feito extraordinário, são na verdade preocupantes e um sinal de alerta em relação ao futuro! Quem olhar para as contas com atenção percebe que a realidade é preocupante: a dívida disparou, os custos aumentaram de forma descontrolada e o modelo de gestão não garante sustentabilidade
Nos últimos quatro anos ganhámos em dívida o que perdemos no capítulo desportivo. Gastámos como nunca sem o retorno correspondente. É importante que todos os Benfiquistas compreendam que este é o retrato atual do Clube: um retrato de fragilidade financeira, disfarçado por resultados ocasionais que escondem a realidade estrutural. E o cenário só não é pior porque o ano foi excecional a nível de receitas, mesmo assim num ano em que deveríamos ter apresentado 80 milhões lucro, apresentamos pouco mais de 30.
Quando deixei a presidência, em 2021, o passivo total do Clube era de 380 milhões de euros. Quatro anos depois, esse mesmo passivo aumentou para 475 milhões, o maior da história da SAD. A dívida líquida, que deixei nos 101 milhões, disparou para 197 milhões de euros, apesar do forte aumento das receitas, o que significa que aumentaram a dívida líquida em 96 milhões de euros enquanto as receitas totais aumentaram 156 milhões de euros. É fácil concluir que dificilmente seria possível fazer pior.
A dívida a fornecedores, que em 2021 estava em 109 milhões, já vai em 202 milhões, um aumento de 93 milhões de euros.
O Capital Próprio, que era de 144 milhões em 2021, diminuiu 27 milhões para 116 milhões de euros, reflexo de 2 exercícios com prejuízo num mandato de apenas 4 anos.
As despesas em FSE eram de 46 milhões, hoje atingem os 78 milhões apesar de terem ajustado esta rubrica em aproximadamente 7 milhões de euros nas costas dos Sócios, pelo que hoje o valor real devia ser próximo dos 85 milhões de euros.
Os Gastos com Pessoal aumentaram 31 milhões de euros, um aumento de 32% em 4 anos.
Os Gastos com transações de direitos de atletas atingiram o valor recorde de 28 milhões, quando no meu último ano gastámos apenas 12 milhões de euros. Para quem dizia que anteriormente se gastava muito em comissões, o escândalo está à vista: os serviços de intermediação representam 8,6% das vendas brutas de direitos de Atletas quando em 2021 isso representava apenas 5,5%. Mais uma vez alguém está a enganar os Sócios.
Os sócios que têm hoje entre os 25 e os 30 anos não têm memória do que era o SL Benfica há apenas duas décadas. Mesmo antes de ser eleito pela primeira vez para a presidência do Clube, em 2003, encontrei uma instituição enfraquecida, sem dinheiro, sem credibilidade, sem rumo, sem capacidade na vertente desportiva. Um clube destroçado, que todos olhavam com desconfiança.
Quantos daqueles que hoje se candidatam à presidência do Benfica o teriam feito em 2003? É fácil hoje falar, definir a grandeza do Benfica, fazer teoria sobre como deve ser a gestão e as prioridades do clube, mas em 2003 não vi ninguém entusiasmado em avançar e sabem porquê? Porque as perspetivas eram muito más e poucos acreditavam que era possível inverter a situação porque não sabiam nem tinham experiência de como fazer. Eu sempre acreditei e cumpri!
Com esforço, muito trabalho, e lutando duramente contra um sistema desportivo viciado, conseguimos devolver dignidade ao Clube, reconstruímos o futebol, investimos no Seixal, recuperámos património, conquistámos títulos (nomeadamente o Tri e o inesquecível e único Tetra), inovámos constantemente em diversas áreas, investimos no talento dos nossos Colaboradores e devolvemos ao Benfica o prestígio que estava perdido a nível nacional e internacional. Foi esse Benfica, sólido e respeitado, que deixei para trás quando fui forçado a sair.
Hoje, perante a degradação clara da saúde financeira, perante uma gestão errática, hesitante, sem voz e sem ambição, sinto que não posso ficar em à margem, alheado e em silêncio.
Quero dizer-vos com clareza: irei a votos, sejam quais forem as regras que a atual direção queira impor. Mas não posso deixar de sublinhar que o regulamento eleitoral proposto pela MAG parece desenhado para afastar de forma intencional milhares de sócios destas eleições, revelando o medo que esta direção tem daqueles para quem trabalha e a quem deve prestar contas.
O Benfica sempre foi e sempre será dos Benfiquistas. A força do nosso Clube está nos seus sócios e adeptos. Não podemos aceitar que se manipulem regras para limitar a democracia interna ou para calar vozes incómodas. É algo que atenta contra a essência do Benfica: a liberdade e a participação dos seus sócios.
O Presidente da Assembleia Geral devia ser um elemento agregador, isento e preocupado em garantir a mais ampla participação eleitoral, com regras claras e absoluta transparência. Infelizmente não é! Fazer parte de uma das listas concorrentes às próximas eleições é um direito que tem, mas fazer o Clube refém de regras eleitorais dúbias, pouco transparentes e que procuram afastar os sócios é algo que a história e a memória dos benfiquistas não lhe perdoarão.
Apelo, por isso, à consciência de todos: o que está em causa não é apenas o futuro de uma direção, mas sim o futuro do Benfica. Um Benfica democrático, forte, unido e vencedor. O Benfica que juntos construímos e que temos o dever de proteger.
Permitam-me finalizar com uma palavra em relação ao possível regresso de Bernardo Silva. Ficarei feliz se tal acontecer, seja qual for o presidente. Quando o Bernardo ainda era jogador da formação houve um presidente que, contra a opinião de um treinador e de um diretor geral, evitou a sua dispensa. Tenho orgulho de ter sido esse presidente. Também neste caso é preciso ter memória!
No passado, tal como no futuro, temos de cuidar e promover a nossa formação. Um treinador do SL Benfica – qualquer um – que queira ter palavra no mercado, deve aproveitar o que de melhor temos na nossa formação, e temos! É essa aposta na formação que garante sustentabilidade desportiva e financeira, que nos distingue e que deve ser o pilar do nosso futuro.
Com a mesma paixão de sempre,
Luís Filipe Vieira.»