Jogada10
·01 de julho de 2025
Maior orçamento dos europeus não os torna melhores; Palmeiras e Flu vivem

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·01 de julho de 2025
Dos quatro representantes brasileiros no Mundial, dois chegam às quartas. Com mérito inquestionável. Enquanto o Palmeiras investiu horrores em Paulinho e, quando precisou, recorreu ao sacrifício do jogador – misturou talento e dor na mesma proporção –, o Fluminense contrariou rótulos e alcançou classificação épica nos pés de Arias e na estratégia de Renato. Nem um enredo de cinema seria tão perfeito.
O curioso é que a dupla, mesmo enchendo os cofres, está fora do Top-5 de clubes que mais faturam no torneio da Fifa. Desse rol, apenas Bayern e Real Madrid estão invictos – a mesma situação de Verdão e Tricolor. A saber, o Bayern lidera com R$ 319,84 milhões, seguido por PSG/1 derrota (R$ 306,82 mi), Chelsea/1 derrota (R$ 294,33 mi), Manchester City/1 derrota e já eliminado (R$ 287,18 mi) e Real Madrid (R$ 266,51 mi). Palmeiras, com R$ 216,22 mi, e Fluminense (R$ 216,22 mi) ocupam sexto e sétimo lugares na lista, respectivamente.
Já Botafogo e Flamengo ficaram pelo caminho nas oitavas. Em contextos bem diferentes. O Glorioso jogou retrancado contra o Palmeiras, desperdiçando a oportunidade de fazer o mundo entender o peso de um clássico do futebol brasileiro. Já o Rubro-Negro ousou ser Flamengo contra o Bayern. Mas, ao ser forçado a cometer erros, trouxe à tona a “realidade” de que o futebol europeu é melhor do que o nosso. Contudo, seria este “melhor” o adjetivo mais apropriado para uso?
Há quem defenda, assim como eu, a linha de que a discussão não é sobre a maior qualidade dos europeus. Importa dizer, portanto, que o continente de lá tem os clubes mais ricos. E ponto.
Definições como “choque de realidade”, “não tem como competir” e “eles são superiores” devem nos instigar em um mergulho mais a fundo em busca de respostas. Afinal, por que é dessa forma?
A qualidade técnica deles é maior que a nossa? Penso que não. Ao menos, até hoje. Ora, ainda somos os únicos pentacampeões mundiais. Logo, o contexto econômico precisa vir à baila. A superioridade dos caras se dá pelas condições de investimento.
Não me restrinjo à montagem de elenco, com contratações impactantes. Afinal, isso é a ponta do iceberg, o que todo mundo vê. O que leva a fama. Só que, “escondido” e não menos importante, vem a capacidade organizacional e financeira para estruturar centros de treinamentos, bem como o aperfeiçoamento de mapas em atividades técnicas, físicas e mentais.
Os europeus não nasceram melhores. Na coluna da semana passada, abordei mais a fundo como o efeito da pós-industrialização do futebol e os interesses europeus impactam nas críticas ao Mundial de Clubes da Fifa neste período que seria o das férias dos times de lá.
Desse modo, por trás dessa “superioridade” escondem-se as tecnologias coloniais, com mercados habitualmente explorados. Um sistema europeu que, finalmente, se vê ameaçado. Afinal, neste torneio a Fifa passou a dar visibilidade a clubes de países que, embora hoje independentes, carregam historicamente os efeitos de séculos de opressão e saqueamentos. Com o uso da riqueza, potências surgiram em todas as áreas sociais. E o esporte, sem limitar ao futebol, não foge a essa realidade.
Nunca se falou tanto do complexo de vira-lata no Brasil. Já virou até documentário, não é mesmo?! Sim, as raízes são profundas e dolorosas. Nossos clubes, a exemplo de outros sul-americanos, se acostumaram a ser reféns das ferramentas de exploração. O status quo de “colonizador” segue vivo.
De volta ao Mundial propriamente dito, quando Botafogo e Flamengo batem PSG e Chelsea, respectivamente, e Palmeiras e Fluminense se impõem contra Porto e Borussia (apesar dos dois empates) mesmo fora da Europa, é um indício relevante de um processo de reformulação.
“Ah, mas o futebol brasileiro precisa jogar como o europeu”. Em parte, é verdade… em parte! Não por serem europeus. Se conseguirmos implementar conceitos da escola a qual eles prezam protocolarmente, como intensidade alta, jogo tático e maior nível de concentração, o talento que vem da Terra Papagalli nos torna altamente competitivos. Inclusive para vencê-los.
O respeito a quem pensa diferente é máximo por parte deste colunista. Portanto, vida longa às opiniões divergentes. Isto posto, estou convicto: eles não são melhores no que concerne a serem superiores. Eles têm mais chances de vencer porque são mais ricos. E apenas isso.