Território MLS
·03 de dezembro de 2025
Menzo deixa o Suriname antes dos playoffs decisivos

In partnership with
Yahoo sportsTerritório MLS
·03 de dezembro de 2025

A seleção do Suriname vive um daqueles momentos que ninguém imaginava às vésperas do jogo mais importante de sua história. Mesmo com a chance real de chegar pela primeira vez à Copa do Mundo, o técnico Stanley Menzo entregou o cargo logo após o fim da fase de grupos das Eliminatórias da Concacaf. A renúncia, anunciada no domingo, veio menos de um mês antes dos playoffs de março — a última porta aberta rumo ao Mundial de 2026.
A saída pegou torcedores e dirigentes de surpresa. O time ainda respira no sonho da classificação, mas agora encara a etapa mais crítica do ciclo sem o treinador que moldou o novo perfil da seleção nos últimos anos.
A gota d’água foi a derrota para a Guatemala, em novembro. O tropeço tirou o Suriname da liderança do grupo e entregou o caminho livre para o Panamá garantir a vaga direta para a Copa do Mundo. A frustração foi grande, especialmente porque a equipe vinha de boa campanha e dependia só de si.
Mesmo assim, o Suriname acabou avançando. Um gol contra no último minuto — quase um milagre para quem já jogava a toalha — garantiu o time entre os dois melhores segundos colocados dos três grupos da Concacaf. Isso colocou a seleção no playoff intercontinental de março, onde enfrentará a Bolívia, no México.
Só que Menzo não seguiu viagem. Segundo o próprio treinador, era hora de “dar um passo atrás”. Ele fez questão de destacar o orgulho pelo trabalho realizado:
“Foi uma honra enorme fazer parte dessa caminhada. Estou orgulhoso do que conquistamos e desejo força e sucesso à equipe neste momento decisivo.”
Apesar do tom elegante, a pressão vinha crescendo. Depois da derrota para a Guatemala, Menzo virou alvo da imprensa local e de parte da torcida, que antes exaltava a organização e o padrão de jogo trazidos por ele. Críticas pesadas pesaram no ambiente, e a saída acabou se tornando questão de tempo.
A renúncia de um técnico em plena reta final das Eliminatórias nunca é boa notícia. No caso do Suriname, o impacto é ainda maior. A semifinal contra a Bolívia é disputa de jogo único, nível clássico de “ou vai ou racha”. A mudança de comando às portas de um mata-mata desses mexe com preparação, ritmo, liderança e até com a confiança do grupo.
O Suriname terá de correr para anunciar o substituto, alinhar o planejamento e reconstruir o vestiário. A equipe precisa chegar inteira física e mentalmente, porque a caminhada no playoff não dá espaço para oscilação. Quem vencer pega o Iraque na decisão por um lugar na final e, dali, briga por uma vaga inédita no Mundial.
A presença do Suriname nesta disputa não é mera coincidência. O país vive um novo momento graças à mudança das leis de nacionalidade. A flexibilização permitiu que jogadores nascidos na Holanda, mas com raízes surinamesas, pudessem defender a seleção. Esse movimento qualificou imediatamente o elenco.
Vários atletas formados em categorias de base de clubes europeus passaram a vestir a camisa da seleção. Isso injetou técnica, intensidade e leitura de jogo em um grupo que antes sofria para acompanhar o ritmo das potências regionais. Menzo, com sua experiência no Ajax, ajudou a organizar essa mistura.
De repente, o Suriname deixou de ser coadjuvante. Passou a incomodar rivais históricos, brigar por posições mais altas e jogar de igual para igual contra equipes mais tradicionais. O time ganhou respeito dentro da Concacaf e, pela primeira vez, entrou nas Eliminatórias com chances reais.
Tudo isso torna o momento atual ainda mais delicado. O projeto evoluiu, cresceu rápido e empolgou. Agora, em plena reta final, perde seu principal articulador.
O duelo contra a Bolívia coloca em campo dois estilos diferentes. Os bolivianos tendem a jogar mais pesado, com força física e marcação firme. O Suriname, por outro lado, aposta em velocidade e mobilidade. A partida deve ser truncada, de detalhes, decidida em uma bola parada ou numa jogada individual.
Se avançar, o desafio contra o Iraque será ainda mais exigente. Os iraquianos costumam competir bem em jogos de alta pressão e têm histórico recente em torneios continentais na Ásia. Mas a chance existe, e o Suriname sabe disso.
A federação tem pouco tempo para reorganizar tudo. O elenco é bom, tem peças capazes de decidir jogos e vive talvez o melhor ciclo da história do futebol surinamês. O que falta agora é estabilidade. Um comando que não invente moda, recoloque o grupo na rota certa e mantenha a confiança lá em cima.
O país está mais perto do Mundial do que jamais esteve. Mesmo com o golpe da saída de Menzo, o objetivo continua ao alcance. Tudo depende de como o Suriname vai reagir — e de como vai encarar março com a cabeça no lugar e o pé firme no chão.









































