MundoBola Flamengo
·17 de outubro de 2025
Muito além do Futebol Feminino

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·17 de outubro de 2025
O Flamengo acaba de anunciar mudanças no Futebol Feminino. Saída da treinadora Rosana Augusto. Readequação orçamentária. Foco na base.
Essas palavras, esses termos significam na prática um retrocesso. O Clube é obrigado a ter time profissional e time de base. Portanto, não pode acabar com eles. Mas optou pelo mínimo em vez de desenvolver fortemente a modalidade. Atitude mais do que corriqueira e conhecida por nós, mulheres, quando lutamos por um lugar ao sol.
Brigamos, sonhamos, oferecemos projetos e soluções e recebemos esboços minimalistas. Estamos acostumadas. Séculos de desdém e de migalhas…
Não podemos diminuir a responsabilidade das entidades, FIFA, CBF, Conmebol. Pois não basta instituir obrigatoriedade. Elas tem que botar a mão na massa, debater projetos, investir, criar condições sólidas para o desenvolvimento do Futebol Feminino.
A imposição por si só não é suficiente. Tem times, tem campeonatos, tem até premiações milionárias. Mas não há planejamento para uma evolução a médio e longo prazo. E estamos no limbo agora…
O mundo do Futebol é muito masculino. Historicamente e estruturalmente masculino. Portanto avesso às mudanças, hermético às mulheres. Não conseguimos abrir a porta, apenas avistar uma fresta.
Toda demanda é olhada com desconfiança e recusada inicialmente. Todo movimento demora anos. E quando finalmente achamos que algo vai mudar, retornamos quase a estaca zero. E voltamos às migalhas…
Há quase um ano, ao olhar a nova composição da diretoria que prometia mudanças, a foto dos Presidentes de Poder e dos seus vices, todos iguais, homens brancos maduros e de alto poder aquisitivo, preocupou. Por mais que eles tenham histórias de vida diferentes, sua realidade é a mesma, seus círculos são os mesmos.
E por mais que suas convicções sejam diferentes, eles terão muito mais dificuldade em apreender os anseios da sociedade, portanto da nossa torcida, por fazerem parte de um Conselho Diretor uniforme.
Consequentemente, o Flamengo, mais do que qualquer empresa, precisa dialogar com sua torcida. O Flamengo, mais do que qualquer empresa, precisa de diversidade nos seus representantes. Não apenas porque é o certo, mas porque diversidade e inclusão resultam em maior inovação, criatividade e melhor desempenho financeiro.
O Futebol Feminino é emblemático na diversidade e na inclusão do Clube. Pois quebra o paradigma de um esporte praticado exclusivamente por homens até pouco tempo atrás.
De uma modalidade que foi proibida para as mulheres durante 40 anos, justamente nas décadas em que o Futebol se popularizou e se profissionalizou mundialmente. Um símbolo de injustiça que merece reparação histórica.
Portanto, o Flamengo, Clube do povo, Clube das massas, o Clube mais amado do Brasil, que se deixa amar à vontade, deveria ser protagonista de um movimento em prol do Futebol Feminino, às vésperas do Mundial de 2027 que será disputado no Brasil.
Pois, a diversidade e a inclusão fazem parte da sua história, da sua essência. Fomentar um projeto sólido e investir agora, significa honrar seu passado e se preparar para o futuro. E o futuro será Delas!
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga-a no X: @marionk72.